Governo Lula tenta transformar investigações em pizza
Montagem Gustavo Sixel

O governo Lula deu mais um passo em sua estratégia de controlar a CPI dos Correios. Na sessão dessa quarta-feira, dia 15, o governo e a base aliada impuseram os nomes do presidente e do relator da Comissão Parlamentar de Inquérito.

Tradicionalmente, os dois cargos mais importantes de uma CPI são repartidos entre governo e oposição. No entanto, o governo Lula, já bastante fragilizado por causa das denúncias do “mensalão”, resolveu “passar o rodo” e eleger os parlamentares que irão coordenar a CPI. O governo teme que a CPI dos Correios traga a tona casos de corrupção em outros órgãos e estatais. Diariamente aparecem denúncias de corrupção na direção das empresas estatais em função do loteamento dos cargos entre os partidos aliados.

CPI chapa branca
Não tendo acordo com a oposição de direita, o senador Aloísio Mercadante (PT) jogou a escolha dos nomes para o voto secreto. Tendo a maioria dos parlamentares na CPI, o governo previa que seus candidatos para presidente e relator ganhariam com 19 votos contra 13. Porém, o resultado final contabilizou 17 votos a favor do governo contra 15 da oposição, revelando duas “traições”.

Mesmo assim o governo conseguiu ter total controle da CPI. O presidente será o senador petista Delcídio Amaral (MT) e o relatoria ficará a cargo do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Amaral já ocupou cargos na direção da Petrobras, sendo acusado de utilizar R$ 22 milhões da estatal para financiar sua campanha eleitoral. Já Serraglio teve seus direitos políticos cassados por ter suas viagens financiadas pelo prefeito de Foz do Iguaçu, entre 1997 e 1998.

A oposição de direita contra-atacou protocolando nesta quarta-feira o requerimento para instalação da CPI do “mensalão” – mesadas dadas pelo PT a parlamentares da base aliada.

CUT e UNE: uma vergonha nacional
Enquanto deputados, governo e a oposição burguesa chafurdam dia após dia num verdadeiro dilúvio de corrupção, a CUT e UNE cumprem papéis dos mais lamentáveis.
Nessa quarta-feira, 15, a CUT divulgou “Barrar o golpe midiático: Movimentos sociais vão às ruas “contra o golpismo e a corrupção”. No conteúdo do texto, a central procura desqualificar os escândalos de corrupção afirmando que “as ‘denúncias’ lançadas pelo deputado Roberto Jefferson visam colocar o governo na defensiva, para melhor isolar e derrotar o projeto de mudanças para o qual foi eleito”. A desconfiança em relação a Jefferson é correta, afinal ele foi integrante da tropa de choque de Collor e acumula uma farta lista de corrupção. No entanto, Jefferson só existe politicamente graças aos governos do PSDB e do PT. Aliás, se ainda continuava roubando foi porque o PT deixou. Lula chegou a chamá-lo de parceiro e a dizer que “daria um cheque em branco” ao petebista no auge das denúncias contra ele. Já a mudança da qual o documento fala soa como uma piada de mau gosto. Além de aprofundar a política econômica neoliberal, o governo do PT perdeu a última coisa que ainda o diferenciava dos governos anteriores: a dita “ética na política”. O “desencanto” com o PT aprofunda a crise da democracia burguesa e produz um legítimo sentimento na população do tipo “que se vayam todos” visto em muitos países da América Latina.
O que CUT e UNE tentam fazer é, na verdade, confundir para defender o governo, pois recebem dinheiro do aparato do Estado. Por isso guardam um silêncio sepulcral sobre a exigência ou não de uma CPI. Também cumprem um papel de primeira linha ao estacar toda e qualquer mobilização social contra a corrupção e os ataques promovidos pelo governo contra os trabalhadores. Um papel vergonhoso e repugnante.
Ao contrário da CUT, a Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas) está chamando um grande marcha em Brasília contra a corrupção e contra as reformas neoliberais, como a Sindical e Universitária. Essa mobilização se apóia nos exemplos dos atos dos trabalhadores dos Correios que hoje, em várias cidades do país, lavaram as escadarias da empresa contra a corrupção.

Nenhuma confiança no Congresso de picaretas
A definição dos principais cargos da CPI dos Correios encerra o primeiro ato da ópera bufa da democracia dos ricos e poderosos. Um espetáculo que promete muito mais cenas de tragicomédia, como a de ontem, quando o picareta Jefferson chegou a dar lições de moral a outros picaretas como ele. Um Congresso de picaretas, liderados por Severino Cavalcanti, que já não poderia apurar até o fim o escândalo “mensalão”, agora, tendo a frente dois governistas, que, diga-se de passagem, também são dois picaretas, torna essa missão quase impossível. Os deputados que integram as CPIs só investigam alguma coisa quando sentem-se pressionados por uma forte mobilização popular. A história recente do país comprova essa tese. Foi assim com a CPI que investigou o esquema PC Farias. De outro modo, veremos mais uma denúncia de corrupção acabar em pizza;