A candidatura de Heloísa cresceu rapidamente, chegando a 10% nas pesquisas. De imediato surgiram várias respostas da burguesia. A primeira e mais evidente veio dos grandes partidos e da mídia. As redes de TV e os jornais passaram a combater mais claramente a candidatura, destacando notícias desfavoráveis.

Mas não existe somente a contra-ofensiva da direita. Existe outra, mais sutil, tão ou mais perigosa. Não vem de adversários, mas de candidatos a “aliados”.
O canto da sereia da direita indica que é preciso abrandar o discurso e limitar o programa para ganhar mais votos. Heloísa cresceu nas pesquisas, até o momento, com a imagem de “radical”. Não se sabe de onde estes “espertos” podem tirar a conclusão de que limitar o programa levaria a ganhar mais votos. Mesmo que ganhasse, sobra uma pergunta: para que ganhar mais votos e não mudar nada no país?

Há setores da burguesia que oferecem abertamente seu apoio. Antes mesmo da ascensão de Heloísa, já existiam as propostas de João Fontes, candidato ao governo de Sergipe pelo PDT; João Capiberibe, candidato do PSB no Amapá; Pedro Simon (PMDB), senador pelo Rio Grande do Sul.

Agora, com o crescimento nas pesquisas, os “apoios” ampliaram-se. Alguns empresários, inclusive, dizem que poderiam oferecer dinheiro caso o programa fique mais moderado.

O que mais chamou a atenção foram as declarações de apoio de um setor do PMDB, representado por Anthony Garotinho e o economista Carlos Lessa. Inúmeras respostas foram dadas por Heloísa e outros companheiros, recusando qualquer tipo de acordo com o ex-governador. Somamo-nos a esta recusa.

Qualquer aliança com Garotinho mancharia a Frente de Esquerda e lançaria uma enorme dúvida sobre nossas propostas. Garotinho é expressão da sujeira dos “políticos”, sempre buscando o poder a qualquer custo, tão corrupto como Paulo Maluf e Antonio Carlos Magalhães.

Alguns outros elementos podem ajudar a esclarecer melhor a discussão.
Em primeiro lugar, qual é a diferença qualitativa entre Garotinho e outras expressões de partidos burgueses, como Pedro Simon ou Capiberibe?

Não se pode falar que uns são “éticos” e outros não. Simon é do mesmo partido de Garotinho, aliás, também de Jader Barbalho, e de uma boa parte dos sanguessugas e mensaleiros. Já Capiberibe esteve envolvido em inúmeras denúncias de fraudes eleitorais, além de ser também colega de partido de muitos e muitos corruptos.

Tampouco se pode reduzir a discussão ao plano da ética. Todos eles expressam os interesses de setores da burguesia que comandam seus partidos. A aliança ou o “apoio” de alguns implicaria em ceder a seus conselhos para moderar o programa, para não incomodar os empresários de seus partidos.

Aliás, não entendemos por que vários companheiros da frente, ao recusarem corretamente um acordo com Garotinho, não fizeram o mesmo com Carlos Lessa. Além de ter sido presidente do BNDES no governo Lula, elaborou, com a ajuda de César Benjamin, um programa para a candidatura de Garotinho à Presidência. Lessa defende uma proposta de desenvolvimento capitalista nacional que não tem nada de esquerda.
Esses setores da burguesia vão querer levar a frente para o caminho da centro-esquerda. Ou, para ser mais preciso, deixar de ser uma Frente de Esquerda para se transformar em uma frente popular, de colaboração de classes com setores da burguesia.

Defendemos, ao contrário, que a frente amplie-se, incorporando cada vez mais setores dos trabalhadores urbanos e rurais. Recusamos qualquer apoio ou acordo político e financeiro com setores da burguesia. Queremos que a frente sirva para levantar um programa de defesa dos interesses imediatos e históricos dos trabalhadores, contra os candidatos da burguesia.

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