Caso os trabalhadores derrotem plano de Sarkozy a mobilização na França poderá impulsionar as demais lutas contra os ataques dos governos europeusA França se tornou o novo centro da luta contra os planos de ajustes na Europa. Por dias, o país foi tomado por bloqueios de ruas, greves, voos suspensos e crise de abastecimento de combustíveis.

Nas ruas da França, se disputa o futuro dos trabalhadores de toda a Europa. Pelo peso e pela tradição da classe trabalhadora francesa, além da enorme importância econômica de um dos principais países do imperialismo europeu, o resultado final desta luta terá influência em todo o continente. Caso derrote o plano de Nicolas Sarkozy, a luta no país servirá, sem dúvida, como um grande impulso às demais lutas dos trabalhadores.

Neste momento, os trabalhadores da Espanha, Grã-Bretanha, Grécia e Portugal, entre outros países, lutam contra severos ataques de seus governos. Na Grã-Bretanha, o governo anunciou um pacote que vai eliminar quase 500 mil empregos públicos.
Sarkozy tenta derrotar os manifestantes na base da repressão. Mas a verdade é que seu governo se encontra cada vez mais isolado e pode ser derrotado. Uma pesquisa mostrou que 65% dos franceses são contra a mudança na aposentadoria. Outra indica que 71% dos franceses apoiaram as greves e protestos contra a reforma.

A reforma da previdência responde aos clamores dos capitalistas e faz parte do plano dos governos europeus para conter os déficits provocados pelo envio de trilhões de euros para salvar o mercado financeiro durante a crise econômica. O déficit da França é de 7,5% em relação ao PIB. A reforma quer elevar de 60 para 62 anos a idade mínima para se aposentar, e de 65 a 67 anos para ter direito à pensão completa.

“Hora da revolta”
Os protestos que se iniciaram no último dia 12 se estenderam por dias. No dia 16, três milhões protestaram nas ruas contra a reforma da previdência. Três dias depois, cerca de 3,5 milhões saíram às ruas em todo o país. Aeroviários, ferroviários, professores, carteiros e os motoristas dos carros-blindados que abastecem caixas eletrônicos se juntaram aos petroleiros e aos secundaristas na luta contra o governo.

A luta ganhou o importante reforço da juventude. O movimento estudantil francês entrou de cabeça nas mobilizações, paralisando as atividades nas escolas e universidades e enchendo as ruas com centenas de milhares de jovens. Segundo a entidade de estudantes secundaristas FIDL, mais de 1.200 liceus se mobilizaram, parando algo como 850 colégios, um recorde nessa jornada de greves e mobilizações. Jovens das periferias, na sua maioria filhos de imigrantes que sofrem enorme discriminação, também estão nas jornadas de lutas.

Em Nantes, estudantes demostraram toda sua irreverência através de uma faixa que dava um recado ao governo de Sarkozy: “Olhe bem em seu Rolex, é a hora da revolta”.

Novas greves
Depois de vários adiamentos e manobras parlamentares, no último dia 22, apesar de todos os protestos, o governo conseguiu aprovar a reforma no Senado. Mas o projeto deve ser submetido a uma aprovação final nas duas câmaras do parlamento.

A resposta do movimento foi a convocação de mais duas novas paralisações nos dias 28 de outubro e 6 de novembro. Existe uma grande disposição de luta entre os trabalhadores. Apesar da repressão e da aprovação da reforma pelo Senado, 12 refinarias voltaram a ser fechadas. Um grupo empresarial francês, o Medef, já se manifesta sobre a “seriedade” do impacto econômico das greves.

Greve geral para derrotar Sarkozy
A jornada de lutas contra a reforma da previdência escapou do controle das direções majoritárias dos sindicatos franceses. Muitos protestos de rua e bloqueios de estrada acontecem sem esperar por um novo chamado nacional das centrais sindicais, como aconteceu no dia 21 em Toulouse, quando 35 mil pessoas mais uma vez marcharam pelas ruas.

Nas últimas semanas, os trabalhadores foram se dando conta do brutal ataque que podem sofrer. Pressionadas, centrais sindicais como a CFDT e a CGT chamavam apenas “dias de paralisação”, lutas isoladas e sem continuidade. Apostavam no esgotamento do potencial de resistência dos trabalhadores e evitavam maiores enfrentamentos com o governo.

Bernard Thibault, presidente da CGT, se limitou a pedir que o governo “aceite as negociações com os sindicatos”. Já François Chérèque, secretário-geral da CFDT, chegou a propor que o Parlamento votasse a reforma em 2015.

Por enquanto, as direções das centrais ainda conseguem impedir a entrada dos setores chave do movimento operário francês, como os metalúrgicos. Se estes entrarem para valer na luta, haverá um tremendo reforço nas jornadas, e o governo Sarkozy poderá ser derrotado.

O caminho para derrotar Sarkozy é a convocação de uma greve geral por tempo indeterminado. Essa opção foi recusada pela burocracia sindical, mas está sendo profundamente debatida entre os trabalhadores franceses. Uma greve geral por tempo indeterminado vai bloquear toda a economia do país, além de permitir que os trabalhadores se reúnam e se organizem.

Como afirma a declaração do Grupo Socialista Internacionalista, organização francesa filiada à LIT-QI: “A força dos trabalhadores é a greve geral! Devemos reviver os métodos tradicionais de luta de classes. Devemos nos organizar em comissões de luta em todos os nossos locais de trabalho e estudo; criar fundos de solidariedade para travar em longo prazo toda a nossa luta e escrever a nossa pauta de reivindicações!”.

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