O capitalismo mostrou mais uma vez que é incapaz de resolver os problemas que ameaçam a humanidade. A maior reunião diplomática da história, a 15ª Conferência do Clima (COP-15) terminou num retumbante fracasso. Milhões de pessoas que dependiam de uma decisão importante para enfrentar o aquecimento global foram abandonadas à sua própria sorte. “A cidade de Copenhague foi palco de um crime, com os culpados correndo para o aeroporto perseguidos pela vergonha”, resumiu um ambientalista do Greenpeace.

A conferência, que reuniu quase 200 líderes mundiais durante duas semanas, sequer fixou algum tipo de meta para diminuir as emissões dos gases estufa, responsáveis pelo aquecimento global. O único documento apresentado pela conferência – que não prevê metas obrigatórias de redução de emissões de CO2 até 2020 – não terá o menor valor jurídico, pois é apenas uma carta de intenções.

O acordo foi assinado apenas pelos chefes de estado da União Europeia, Estados Unidos, China, Índia e África do Sul. O Brasil também assinou, apesar de o presidente Lula ter dito horas antes que estava frustrado com as negociações. Parte dos países africanos, além da Bolívia e da Venezuela, não assinou o documento, num claro sinal de protesto.

Mas Copenhague não só fracassou no objetivo de estabelecer um acordo mundial sobre o clima. Também significou um retrocesso mesmo diante das tímidas ações já feitas para enfrentar o aquecimento, como o Protocolo de Kyoto, o único acordo climático mundial com valor jurídico.

Kyoto estabeleceu metas insuficientes para conter o aquecimento, pedindo que países industrializados diminuam em 5,2% a quantidade de gás carbônico jogada na atmosfera em relação aos índices medidos em 1990. Mas segundo os cientistas do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC) é preciso reduzir a emissão dos gases estufa pela metade. Mesmo estabelecendo compromissos rebaixados, os EUA se recusaram a cumprir as metas de Kyoto. O simples fato de o imperialismo não aderir às metas já tinha provocado a falência do acordo. Agora, em Copenhague, uma pá de cal foi jogada sobre o que restou do protocolo.

Pobres sofrerão mais
O imperialismo norte-americano é o principal responsável pela atual catástrofe ambiental. Sozinhos despejam pelo menos 20% de todos os gases estufa na atmosfera. Mas a transformação da China (segundo maior poluidor mundial) numa plataforma de exportação imperialista aumenta ainda mais a degradação ecológica.

Hoje já é possível perceber os efeitos das mudanças climáticas causadas pelo aquecimento. Neste ano, eventos climáticos extremos ocorreram na América do Sul, Ásia e Austrália. No Brasil, as enchentes no Nordeste, que aconteceram entre março e maio, e as que ocorreram em outubro e novembro em Santa Catarina podem ser consideradas anomalias, bem como a seca que atingiu o sul do país e o norte da Argentina no início do ano.

Mas os maiores desastres ocorreram onde vivem as parcelas mais pobres da população mundial. De acordo com o IPCC, cerca de 250 milhões de pessoas sofrerão com a falta de água na África, com uma redução de até 50% na produção agrícola em alguns países até 2020. O mesmo pode ocorrer com regiões inteiras da Ásia, afetando mais de um bilhão de pessoas.

Já na América Latina, a previsão aponta para a desertificação de regiões mais secas, como a caatinga e o serrado. Cientistas também avaliam que 40% da floresta amazônica poderá se transformar numa região semiárida. Algo que terá profundas consequências no conjunto do clima do planeta. O IPCC ainda diz que o nordeste do Brasil pode perder 70% da recarga de seus aquíferos.

No entanto, há uma diferença nisso tudo. Apenas os países imperialistas poderiam promover as profundas adaptações que a mudança climática vai exigir. Podem, por exemplo, impedir que suas cidades sejam devastadas pela elevação dos oceanos. Um exemplo é a Inglaterra. Por muito tempo, Londres, que se encontra praticamente no nível do mar, sofria inundações quando chuvas prolongadas ou o brusco derretimento da neve coincidiam com marés altas, afetando o volume de água do rio Tamisa, que corta a cidade. A solução foi a construção, em 1982, de um sistema de comportas para regular o fluxo das marés. Com a ameaça de uma elevação do nível dos oceanos, estuda-se agora a construção de um novo sistema para impedir qualquer ameaça de inundação.

Mas os países semicoloniais não possuem recursos para tal adaptação, uma vez que suas riquezas são espoliadas pelo imperialismo. É um delírio achar que Bangladesh (ex-colônia britânica, um dos países mais pobres do mundo afetado por constantes enchentes) possa construir um sistema de comportas como o de Londres. Uma pequena elevação dos oceanos pode ter consequências catastróficas para esse pequeno, mas populoso país asiático.

Por outro lado, os países semicoloniais também enfrentam a degradação ambiental provocada por multinacionais e grandes corporações. A África, por exemplo, se tornou uma espécie de aterro sanitário do imperialismo e das multinacionais. Lixo radioativo na Somália, derrama de produtos tóxicos junto à Costa do Marfim, mais de 5 mil litros de cloro abandonados nos Camarões são apenas alguns exemplos que tornam o continente o destino de uma boa parte do lixo tóxico do mundo.

Falência do desenvolvimento sustentável
Copenhague também demonstrou a falácia do chamado desenvolvimento sustentável. As propostas de desenvolvimento sustentável tentam conciliar o que, na verdade, é impossível: crescimento econômico e lucros dos capitalistas com preservação ambiental. Essa proposta insere-se no marco da defesa de um capitalismo ecológico, com rosto humano. Mas o capitalismo não pode superar a crise que provocou, pois isso significaria impor limites aos lucros da burguesia.

No marco deste sistema predatório e de concorrência entre os burgueses, é impossível que o capitalismo possa utilizar tecnologias racionais e não poluentes, uma vez que sua adoção é infinitamente menos rentável para os capitalistas. Qualquer proposta de cunho reformista estará fadada ao fracasso, como se pode ver hoje com o Protocolo de Kyoto.

Por outro lado, a sustentabilidad” – como tudo no capitalismo – tornou-se mais uma forma de se ganhar muito dinheiro. Os chamados créditos de carbono movimentam hoje US$ 120 bilhões e estão se tornando numa oportunidade para especuladores ganharem muito dinheiro enquanto o planeta agoniza.

O discurso da sustentabilidade também pode ser utilizado para preparar grandes derrotas. No Brasil, a maior defensora da sustentabilidade é a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, pré-candidata à presidência da República pelo Partido Verde. Sob o discurso da sustentabilidade, Marina aprovou leis que permitem alugar as florestas públicas brasileiras para empresas privadas e ONGs (Projeto de Gestão de Florestas Públicas para a Produção Sustentável). Ou seja, a chamada sustentabilidade colocou toda a nossa biodiversidade da Amazônia brasileira à mercê dos empresários, inclusive os estrangeiros. Também foi sob seu ministério que foi liberado o cultivo da soja transgênica, além das obras da transposição do Rio São Francisco.

Copenhague é a demonstração cabal de que a lógica predatória e de concorrência entre os burgueses impossibilita que o capitalismo crie algum tipo de desenvolvimento sustentável, pois isso seria menos rentável para os empresários. A bandeira ecológica insere-se na luta pela superação completa do regime de exploração. Ou o capitalismo é superado ou a humanidade seguirá para a barbárie e o ecocídio.