Manifestações de centenas de milhares apoiaram a greve geral de ontem contra a reforma trabalhista e os cortes do governo, evidenciando o descontentamento social com as medidas de austeridade do governo de Mariano Rajoy, do PP (direita), que tomou posse há pouco mais de 100 dias. De acordo com as centrais sindicais que convocaram a greve, CCOO (Comisiones Obreras) e UGT, aderiram à greve 77% dos trabalhadores. Em mais de uma centena de cidades a população foi às ruas para protestar: 900 mil só em Madrid, num total de 10,4 milhões, segundo as centrais sindicais, em todo o país. Em Barcelona, onde ocorreu outra gigantesca manifestação, houve confrontos entre manifestantes e a polícia, com dezenas de detidos. Na Galiza e Andaluzia as manifestações também foram de centenas de milhares.

Nos setores do transporte, indústria, construção, agricultura e pecuária a adesão teria superado, segundo as centrais sindicais, os 95%; nos setores dos serviços, a adesão teria sido de 70%. O setor com maior adesão à greve foi a indústria e a construção, com um apoio de 97%. O menor apoio à greve foi registado no setor público, com 57%.

Os secretários-gerais das CCOO e da UGT, Ignacio Fernández Toxo e Cándido Méndez, não deixaram de demonstrar que preferiam a negociação à luta e mobilização dos trabalhadores. “Não podem arruinar de uma só penada 30 anos de diálogo social”, lamentaram, referindo-se à indisponibilidade demonstrada pelo governo até aqui para negociar. Perante o fechamento do governo e a radicalização dos trabalhadores, ambos não tiveram outra alternativa senão chamar a greve, a oitava em democracia, e ameaçar com um “conflito ascendente e prolongado” até que o governo concorde em modificar substancialmente a reforma trabalhista. As duas centrais deram um prazo ao governo até o dia 1 de maio, quando não descartam, caso o governo não aceite negociar, a convocação de uma nova greve geral.

Reação do governo
O governo tentou, como é habitual, desvalorizar o impacto da greve, a dizer que “foi muito moderada” e mantém para hoje, dia seguinte à greve, a votação do orçamento para 2012 no Parlamento, considerado o mais brutal da democracia.

O Orçamento adequa-se à meta de défice acertado com a União Europeia de 5,3% do PIB, um corte de mais de 3 pontos percentuais em relação ao déficit do ano passado de 8,51%. Esse objetivo de déficit pressupõe um corte de 35 bilhões de euros num só ano, o que significará um corte médio superior a 14% em cada ministério. A oposição é unânime em considerar que este orçamento coloca em perigo o Estado de bem-estar e a viabilidade dos serviços públicos.

Este orçamento vem a seguir à subida do IRPF (imposto das pessoas físicas) e do IVA e à redução de gastos do Estado no valor de 8 bilhões aprovados a 30 de dezembro último. Seguiu-se a duríssima reforma trabalhista, que prevê, entre outras medidas, a facilitação das demissões e a redução da indemnização ao trabalhador, e o congelamento do salário mínimo e dos salários no serviço público.

Apesar de o governo desvalorizar, a greve de ontem representou uma dura prova para a governação Rajoy. Já antes, nas eleições autônomas da Andaluzia, realizadas este mês, o governo demonstrou que já está a ser contestado. Na Andaluzia, apesar do desgaste do PSOE, que perdeu 700 mil votos em comparação com as últimas eleições, o PP não poderá governar a região e ainda perdeu 170 mil votos. No total, os partidos do “centrão” em Espanha, os máximos responsáveis pelas políticas desastrosas no período democrático, perderam cerca de 870 mil votos. Em sentido contrário, subiram a Izquierda Unida, que obteve mais 120 mil votos, os votos nulos ou brancos e a abstenção, que aumentou para 38%.

Fonte: www.mas.org.pt e www.litci.org