Pelé em 1960
Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista

Por João Pedro Andreassy Castro*

Apesar de nós, Socialistas Revolucionários, acharmos repugnante toda e quaisquer figura monárquica, resquício de um período feudal ultrapassado até para os padrões da sociedade capitalista, a partida deste rei não é de se comemorar.

Pelé morreu hoje aos 82 anos após complicações advindas do agravamento de seu câncer. Para escrever esse artigo, pode-se beber um pouco dos artigos feitos há dois anos sobre Diego Armando Maradona, que partiu prematuramente aos 60 anos.

Assim como em um dos artigos escritos à epoca, é preciso compreender que Pelé, apesar de sua figura contraditória marcada por polêmicas e reflexos das ideologias burguesas em suas falas e ações, foi uma figura importantíssima para gerações de negros e negras que foram influenciados por seu heroísmo no futebol. Tal heroísmo foi tão grande que chegou a parar uma guerra. Isso mesmo, quando Pelé e o Santos (clube de Pelé à época) foi em 1969, em mais uma de suas muitas excursões mundo afora, à Nigéria, que passava por uma sanguinária guerra civil, milhares de combatentes Nigerianos declararam armistício para se unirem em um coro para presenciar com seus próprios olhos a magia de um negro brasileiro, de 1,73 de altura.

A figura de um homem negro, nascido pobre em um Brasil ainda mais semi-colonial que nos dias de hoje se tornando um dos esportistas mais conhecidos do mundo e servindo como ícone para negros de todo mundo em sua busca de libertação de séculos de opressão e intensificados ainda mais com a decadência capitalista não pode ser deixada de lado.

Podendo ser comparado talvez apenas à Mohammad Ali, Pelé era dotado de um habilidade físico-motora inumana. Vídeos e relatos que remontam às décadas de 50 e 60 mostram como Pelé era muitíssimo à frente de seu tempo, não à toa conquistou todos os títulos possíveis com a camisa do Santos e da Seleção brasileira e fez do meu time do coração, o Corinthians, o seu maior alvo. Não é por menos que todos nós, pelo menos uma vez, já ouvimos falar seu nome e que é quase uma unanimidade no meio futebolístico a dominância de Pelé como a figura mais proeminente da história do esporte Bretão.

Isso, porém, não apaga seus erros. Pelé, assim como a Seleção brasileira em inúmeras ocasiões, se deixou utilizar por setores da burguesia e, em especial, pela ditadura militar, que se aproveitou do título mundial dos anos 70 e da popularidade do jogador para desviar as atenções da população e acobertar seus crimes cometidos com mãos de ferro.

Também não podemos esquecer da polêmica envolvendo o não reconhecimento da paternidade de sua filha mais velha, Sandra Regina, fruto do relacionamento com a empregada doméstica Anisia Machado e falecida 2006. Apesar de tudo que Pelé reapresentou e representa não dá para deixar de lado essa enorme contradição na vida do homem Edson, que infelizmente, é reflexo do mundo machista que o formou. O caso de Sandra Regina não é exceção, mas lugar comum num país onde mais de 5,5 milhões de pessoas não têm o nome do pai na certidão de nascimento. O machismo de Edson ao não reconhecer a própria filha lamentavelmente só ajuda a naturalizar o papel da mulher como mero objeto que deve servir ao lar e satisfazer os desejos e necessidades masculinas, quando muito trabalhando para ganhar metade do que um homem ganharia fazendo o mesmo trabalho.

Dito tudo isso, não comemoramos a morte deste ícone negro que era capaz das mais mágicas coisas no esporte mais conectado com as massas. Que descanse em paz, Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé.

*João Pedro é estudante de Letras na USP e militante da  juventude Rebeldia