Marcelo Loreto

Era por volta das 13h20 da última sexta-feira (08/05) no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla quando os pacientes e trabalhadores do local presenciaram mais uma interrupção da energia elétrica na unidade. Foram 5 minutos. Isto foi o suficiente para a morte de dois pacientes que estavam na UTI da unidade utilizando respiradores mecânicos.

O hospital está localizado em Acari, na Zona Norte do Rio, e é referência no tratamento da Covid-19. Segundo funcionários, os ventiladores estavam com suas baterias descarregadas e simplesmente pararam de funcionar. O desespero tomou conta do lugar, os funcionários recorreram então aos poucos respiradores manuais que ali existiam e realizaram a massagem cardíaca nos vários pacientes que entraram em parada cardiorrespiratória. Nós não temos outra palavra para definir esta situação senão a barbárie.

A culpa é do prefeito Marcelo Crivella

A prefeitura nega que os dois pacientes tenham morrido pelo apagão. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, o médico Alexandre Telles, que trabalha no hospital, apresentou outra versão. Outros funcionários da unidade confirmaram que o apagão é comum no hospital e que o episódio foi a causa das mortes. Não temos dúvida de que Crivella é o responsável também por estas duas mortes, que poderiam ter sido evitadas caso o hospital tivesse equipado com geradores funcionando, como é de se esperar em qualquer hospital.

A situação dos hospitais é precária e as condições de trabalho são as piores

Apesar ter uma grande rede hospitais em todas as esferas, a cidade do Rio de Janeiro tem experimentando total incapacidade de lidar com a pandemia. Não é à toa que a epidemia cresce exponencialmente e os hospitais e UPAs da cidade estão completamente sobrecarregados e com centenas de pacientes aguardando vaga na UTI enquanto estão sufocados pelos efeitos da Covid-19. A ocupação dos leitos de UTI na cidade está em quase 100%.

A situação só não é ainda pior, pois os professionais da saúde estão trabalhando heroicamente em seus limites físicos e emocionais, arriscando suas vidas com EPI´s de péssima qualidade, quando estes existem. Esta situação levou o Brasil a ser o país com maior número de óbitos entre enfermeiros por Covid-19 no mundo.

Uma questão agravante no caso do Hospital Ronaldo Gazolla é que ele vem sido gerido por organizações sociais (OS) há alguns anos. Estas empresas realizam a gestão privada de diversos serviços públicos. Até dezembro de 2018, a OS Viva Rio administrava o hospital. Atualmente, a empresa RioSaúde, criada pela prefeitura, é quem conduz o hospital utilizando o modelo de gestão privado (contratos em CLT, terceirizações, Previdência pelo INSS, etc.). Esta empresa administra outras seis unidades municipais.

O que ocorreu no Gazolla é mais uma prova de que a gestão privada na saúde não assegura o compromisso real com a vida dos pacientes, pois sequer foi capaz de garantir a manutenção básica de seu sistema de geradores e das baterias de equipamentos que não podem parar nem mesmo por alguns minutos.

O colapso na saúde é o caminho para o caos generalizado no Rio

A cena que ocorreu no Gazolla infelizmente tem sido a tônica no enfrentamento à epidemia no Rio. Ainda na sexta-feira, os jornais noticiavam que as ambulâncias do Samu não estão conseguindo chegar a muitas favelas do Rio, obrigando as famílias a carregar seus familiares doentes pela Covid-19 – e também os que morrem em suas casas – para serem atendidos ou obterem seu atestado de óbito nas unidades de saúde.

A estrutura precária das vielas e ruas destas regiões, somadas ao domínio totalitário do tráfico, estaria dificultando o acesso dos socorristas. Segundo dados das unidades de saúde que ficam dentro de algumas das principais favelas, e de médicos que aí trabalham, o número de contaminados pela Covid-19 nestes locais é muito superior ao que informa a prefeitura. Ou seja, o caos é ainda maior do que a prefeitura tenta esconder da sociedade.

O PSTU cobra explicações e aponta as saídas para a barbárie do Rio

A primeira coisa que exigimos é que a prefeitura assuma a responsabilidade sobre estas mortes e garanta toda a assistência aos familiares destas pessoas que morrerem desta forma absurda e cruel.

Exigimos que todos os trabalhadores da saúde municipal tenham condições de trabalhar, com EPI´s de qualidade e medidas de proteção aos que estão nos grupos de risco. Dentre estas condições de trabalho, podemos incluir aí a garantia de que todos os hospitais tenham imediatamente seus geradores revisados e instalados dispositivos de segurança caso haja flutuação ou interrupção na rede elétrica. As unidades que não possuem estes equipamentos devem tê-los instalados urgentemente.

Os hospitais não podem ficar nas mãos das OS´s, que só tem o interesse de lucrar em cima da catástrofe que se abate sobre a classe trabalhadora e os pobres da cidade além de precarizar o trabalho dos profissionais da saúde. Exigimos a extinção da RioSaúde e que todos seus serviços passem imediatamente para gestão pública realizada pelo município. Todos os trabalhadores contratados destas unidades devem ser integrados ao quadro de funcionários públicos estatutários.

Além disso, exigimos a requisição imediata dos leitos dos hospitais privados, bem como sua estatização sem qualquer indenização. Exigimos também a abertura dos leitos que estão inutilizados no Rio, para isso são necessárias verbas emergenciais destinadas especificamente para estes hospitais.

As cenas de barbárie que vimos no caso do Gazolla estão aumentando e ceifando a vida de milhares trabalhadores e pobres da cidade. Esta é a parcela da população que foi historicamente marginalizada e desrespeitada pelo estado no país. Agora não está sendo diferente.

A solução para esta situação absurda que está se impondo sobre nós passará necessariamente pela destruição do sistema capitalista apodrecido, que está promovendo a morte em massa no Rio e no Brasil. Sistema este que tem hoje em sua direção o genocida do Bolsonaro e seu aliado e cúmplice Marcelo Crivella no Rio de Janeiro.