Mais de 400 ativistas, entre os quais lideranças da greve dos servidores, realizaram na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) um debate sobre o Governo Lula e a necessidade de um Novo Partido de esquerda.
A mesa foi composta por: Marcelo Badaró, historiador da UFF, que além de falar em seu nome, representou o vice do Andes-SN, José Domingues de Godói que, em razão de atividades da greve não pode estar presente; Cláudio Gurgel da direção do PT-RJ e coordenador do Reage PT; Roberto Simões, da direção do Sepe-RJ e da Organização Marxista Proletária (OMP) e Zé Maria, do PSTU.
Cristina Miranda, da direção do ANDES-SN, leu um Manifesto em defesa da necessidade de construção de um Movimento por um Novo Partido (ver ao lado)e conclamou todos a assiná-lo. A deputada Luciana Genro (PT-RS) enviou uma saudação e a Corrente Socialista dos Trabalhadores e a International Socialist Organization (ISO-EUA) estiveram presentes. A seguir publicamos trechos de algumas intervenções realizadas no debate:
Eu tô dentro desse projeto
Marcelo Badaró, historiador da UFF (Universidade Federal Fluminense)
Temos um objetivo comum, a construção de uma nova organização que surge de uma ruptura. (…) Ruptura que busca no horizonte a unidade das várias organizações e militantes do movimento social. (…) Por isso, estou preocupado em fazer uma discussão sobre os desafios que estão a nossa frente. Partindo do que temos em comum: um partido classista, que leia a sociedade pela ótica da luta de classes e tome partido de uma classe e que tenha um horizonte socialista, portanto um partido que rompa com o modelo atual vigente.(…)
É preciso definir claramente o projeto estratégico (…) Me parece que não há muita discussão sobre o fato de que quem está fazendo este debate concorde que o projeto é o socialismo. E isso envolve ruptura, revolução e transformação social profunda. Mas os caminhos para fazer essa transformação não são necessariamente consensuais (…) Acho que a gente não pode fugir desse debate, (…)
O segundo desafio (…) é a relação dessa nova organização com os movimentos sociais. O PT utiliza os movimentos como correia de transmissão do partido, porque os entendeu como mobilizáveis em favor de projetos eleitorais e instrumento de contenção da luta de classes. O Partido que nós estamos construindo, vai nascer dos movimentos sociais e tem que ter como concepção a preservação da autonomia desses movimentos.
Um outro desafio é que muita das organizações que se envolvem com essa discussão (…) têm uma concepção de internacionalismo operário e é importante que esse novo Partido tenha esta concepção (…)
(…) Muita gente decretou a morte da classe trabalhadora, (…) a morte da perspectiva socialista. No entanto a classe, o projeto socialista e as organizações da classe demonstraram em cada um desses momentos um vigor que surpreendeu os adversários. A luta sempre continuava. Eu acredito que temos um ponto de partida excelente para enfrentar os desafios e construir essa nova organização. Eu tô dentro desse projeto.“
Construir o partido que a revolução brasileira quer e precisa
Cláudio Gurgel, membro do Diretório Regional do PT-RJ e coordenador do Reage PT
“(…) Acho que não podemos ser desatentos ao fato de que milhares de companheiros da esquerda organizada no PT estão em busca de uma nova direção. Esta direção é o que nós de imediato precisamos construir. Alguma forma (frente, aliança) que possa aglutinar e sinalizar para todos esses companheiros que haverá espaço para que possam discutir e ter uma ação diferente. E onde se possa criar as bases para a construção de um partido que não seja a reprodução do PT, mas uma recuperação dos sonhos e esperanças (…) para construir um partido socialista com a perspectiva estratégica revolucionária.
Portanto, defendemos o mesmo ponto de vista que os companheiros do PSTU de que é necessário tempo para construir esse partido.
Construamos um espaço de formulação, direção e intervenção, que (…) possa superar os limites do PT. É necessário que esse novo partido resgate valores que foram abandonados, (…) principalmente o valor da opção pelo socialismo. Esse elemento, (…) deve ser a referência para a construção imediata desta alternativa capaz de (…) apontar para um partido alternativo ao PT que todos nós queremos construir. Que hoje, com o gesto de companheiros do PT e o gesto em particular do PSTU que se dispõe a colocar a sua experiência aberta e disponível para ser base, referência e interlocutor – possamos portanto construir o partido que a revolução brasileira quer e precisa.
Estaremos juntos nesta caminhada
Roberto Lerher, ex-presidente do ANDES-SN, pesquisador da CLACSO/LPP, UERJ
Esse movimento responde às necessidades subjetivas de cada um de nós que luta pelo socialismo e reponde às necessidades objetivas da luta de classes no Brasil e no mundo (..)
Precisamos de um movimento capaz de organizar e dar consistência política e teórica sobre a correlação de forças, sobre a natureza dessa crise que vivemos, a natureza da classe dominante e como ela se vincula com o imperialismo.
Seguramente, quando estivermos discutindo estratégia, vamos discutir democracia e socialismo. E nesse debate iremos construir um novo fundamento do partido, que de fato seja socialista e que permita à classe trabalhadora brasileira, latino-americana e mundial enfrentar os desafios que estão no nosso cotidiano.
Saúdo a todos os presentes que têm uma prática de vida, uma história de luta pela democracia e pelo socialismo.
Estaremos juntos nessa caminhada!
Impedir a fragmentação dos descontentes com o governo Lula; orientar, aglutinar, coordenar esse descontentamento com uma direção classista e socialista
Virginia Fontes, professora de História da UFF
O debate foi muito interessante e cheio, o que mostra a importância dessa discussão que já estava posta, na verdade, desde o momento em que o PT começou a sua virada mais significativa para um projeto de base eleitoral. A construção de um novo partido já esta colocada do ponto de vista operário e esse passo é fundamental. Como falou Cláudio Gurgel, ao usar a expressão diálogo, o que está colocado para o imediato é a constituição de um movimento aglutinador de todas as forças de esquerda, mas de caráter classista e claramente socialista.(…)
Nesse primeiro momento, o grande desafio é impedir a fragmentação dos descontentes com o governo Lula; orientar, aglutinar, coordenar esse descontentamento com uma direção classista e socialista. Aprofundar a formação e o debate entre nós. Até para verificar futuramente se poderá se constituir efetivamente um novo partido com perfil claro.
Unir a esquerda socialista brasileira na construção de um novo partido
Zé Maria, presidente do PSTU
A revolta e a raiva dos militantes que queimam a bandeira do PT é a expressão de um processo amplo que leva milhares de militantes a romperem politicamente com o partido. (…)Acreditamos que haverá um recrudescimento das lutas, o que pode abrir a possibilidade não só de derrotar o modelo neoliberal e impedir a implementação dessas políticas, mas também de construirmos uma alternativa da classe, que leve à transformação da sociedade.
O problema é que, se a mobilização é uma condição fundamental para que se realizem essas mudanças, ela não é condição suficiente. É necessário que se construa uma alternativa política, que possa preparar e dirigir conscientemente esse processo de mobilização para que a sua conclusão seja o socialismo.
(…)Por isso levantamos o debate sobre a necessidade de unirmos a esquerda socialista brasileira na construção de um novo partido.(…)
Post author André Valuche,
da redação
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