Leia abaixo o artigo da Corriente Roja sobre as manifestações que sacudiram a EspanhaDesde o dia 15 de maio, a Praça Porta do Sol, principal praça de Madri, está ocupada por estudantes e trabalhadores. O protesto indica o enorme descontentamento popular com o governo, que culminou numa série de manifestações e ocupações das praças nas principais cidades do país. O protesto ganhou força na medida em que as eleições autonômicas e municipais se aproximavam. Os resultados das eleições do dia 22 de maio marcaram uma derrota contundente do presidente Luis Zapatero e de seu partido, o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol).

Sábado, 21, era o chamado “dia de reflexão” em razão das eleições que seriam realizadas no dia seguinte. A Justiça proibiu a ocupação da Praça da Porta do Sol, em Madri, e das demais praças do país. Mas esta proibição não teve a força necessária para usar a polícia contra os manifestantes, pois a população foi em massa às praças.

Na Porta do Sol, é difícil dizer quanta gente passou durante todo o dia. A praça transbordava desde a noite da sexta-feira até a madrugada de sábado e permaneceu muito cheia no domingo, dia das eleições. Durante todo o dia, chegavam velhos, jovens, mães com seus filhos, desempregados, trabalhadores, aposentados. A impressão era de que metade de Madri passou pela praça em diferentes momentos. Ao final do dia, um enorme cartaz, que dizia “Abaixo o regime. O Povo sem medo”, foi pendurado num edifício e saudado pelos manifestantes. Todos gritavam sua principal palavra de ordem: “lo llaman democracia y no lo és… Oe, Oe, Oe…lo llaman democracia y no lo és” (o que chamam de democracia, não é).

Na tarde do sábado, uma coluna de militantes de Corriente Roja, de Cobas e de ativistas de sindicatos e organizações que se opõem à burocracia sindical de CC.OO e UGT [principais centrais sindicais do país], incendiaram a Porta do Sol com outras palavras de ordem: “aquí hace falta ya una huelga, una huelga, aquí hace falta una huelga general” (aqui falta uma greve geral).

Ocupação vai continuar
Uma assembleia decidiu continuar com o acampamento por mais uma semana, no mínimo, até que se organize a continuidade do movimento e a definição de um plano de ação. A continuidade já tinha sido votada na Praça Cataluña, em Barcelona.

O resultado das eleições de domingo expressam uma grande derrota do PSOE e do presidente Zapatero. Foi um voto de protesto que evidencia o tremendo descontentamento com a situação. A verdade é que o governo, o FMI e a União Europeia jogaram a crise em cima dos trabalhadores e da juventude, causando desemprego, destruição dos direitos sociais, ataque à Previdência, enquanto beneficiam banqueiros e capitalistas.

A juventude saiu à frente…
O 15 de maio foi construído através das redes sociais da internet, chamando uma manifestação sob o lema “Democracia Real, Já. Não somos mercadorias em mãos de políticos e banqueiros”.

Os organizadores se surpreenderam com a dimensão do movimento, que teve seu epicentro em Madri, onde 40 a 50 mil pessoas, jovens na maioria, ocuparam a Praça Porta do Sol. Manifestações eclodiram também em outras 50 cidades, como Barcelona e Sevilha, que reuniram respectivamente 15 e seis mil pessoas.

Assim, todos mostravam sua indignação com o governo, o regime, o PP, o PSOE, a Monarquia, a burocracia sindical de CC.OO e UGT, o sistema capitalista e, principalmente, com os banqueiros.

Os ativistas não se cansavam de gritar: “PSOE y PP. La misma mierda és”; “banqueros a prisión”, “la crisis que los paguen los capitalistas”, “donde están que no se ven, CCOO y UGT”, e “televisión, manipulación”.

…e o povo entrou na luta
O governo iniciou uma repressão e prendeu 24 manifestantes. Mas a ação teve efeito contrário. Na noite do dia 16, a praça foi tomada por milhares de manifestantes. O povo foi à Porta do Sol em defesa da juventude, se somando à mobilização e expressando sua indignação. Nos dias seguintes, o acampamento foi se consolidando e ganhou protagonismo político, tomando o lugar das eleições nas páginas dos jornais e nos canais de TV. O acampamento se tornou o tema principal em todos os bares, bairros, conversas entre vizinhos, locais de trabalho e escolas.

A juventude seguiu nas praças à frente do movimento, que ganhou um componente popular ao atrair para a mobilização os imigrantes “sem papéis”, aposentados, desempregados e trabalhadores. O componente antiburocrático foi um traço distintivo do acampamento. Foi emblemático o fato de a CC.OO fechar as portas de uma de suas sedes por medo do ódio dos manifestantes.

É muito importante e progressivo o impulso de autodeterminação, a disposição de luta, o sentimento antiburocrático e as tendências claramente anticapitalistas do movimento. São também muito positivos os pontos do programa que até o momento tem sido votado nas assembleias, como a defesa de emprego para todos; jornada de 35 horas semanais sem redução dos salários e subsídio indefinido aos desempregados enquanto não se garanta o emprego; moradia para todos; educação pública; defesa da Previdência pública; suspensão do pagamento da dívida; nacionalização do sistema financeiro; fim da monarquia e dos privilégios dos políticos.

Mas para seguir adiante é preciso conseguir a unidade com os trabalhadores. Para isso, além de incorporar as organizações que querem lutar, se faz necessário um plano de luta unificado. No dia 28 de maio, serão realizadas assembleias nos bairros e povoados de Madri. Seguramente, será algo que poderá crescer. Mas, a exemplo do que definiu a assembleia de Barcelona, será necessário definir um dia de manifestação que volte a tomar as ruas, incluindo os setores em luta e o movimento operário.

É preciso propor a necessidade de que toda mobilização possa confluir numa greve geral para derrotar os planos de ajuste e impor as reivindicações de movimento em relação a emprego, moradia, saúde, educação e também em relação às demandas democráticas.

Os trabalhadores podem, com sua ação, parar o capital e derrotar estes planos antioperários, o regime e os governos. É por isso, que a burocracia de CC.OO e da UGT realizaram um pacto para ajudar o governo, o PSOE e o PP [Partido Popular, da oposição de direita] a fazerem com que a crise recaia sobre os trabalhadores.

Para romper as amarras da burocracia e lutar, os trabalhadores precisam de organizações, democracia e unidade. Por isso, para que as lutas operárias se somem a esse movimento é necessária a unidade de todos que queiram lutar, ou seja, todas as organizações que chamam a luta devem não só participar e defender suas ideias, mas também devem ser convocadas a se somarem ao movimento.