CSP Conlutas
Central Sindical e Popular
Operário e popular, o caráter fundador da CSP-Conlutas deu o tom no domingo (23), na Ocupação Esperança, em Osasco (SP). A comunidade sediou o encontro entre lutadores e lutadoras que, além de discutir os desafios enfrentados pelos mais pobres, apontou os rumos da luta em conjunto pra derrotar Bolsonaro e fortalecer as causas dos movimentos.
O céu azul e o sol intenso proporcionaram um dia perfeito para a troca de idéias entre trabalhadores do campo e da cidade que, junto aos irmãos de luta de movimentos por moradia e terra, puderam fazer uma reflexão em conjunto sobre os ataques sofridos no último período. Ao todo participaram 150 pessoas.
Estiveram presentes representantes sindicais metalúrgicos, mineiros, petroleiros, motoristas, metroviários e do funcionalismo público. Companheiros e companheiras das ocupações dos Queixadas (Cajamar-SP), Jd da União, Pinheiral e Mimax (Zona Sul de São Paulo), Quilombo Coração Valente (Jacareí-SP), além de assentamentos e ocupações rurais como Capão das Antas, 3 de setembro, 21 de dezembro e Milton Santos também se somaram às discussões.
A proximidade com as eleições presidenciais esteve presente nos discursos que, longe de depositarem suas esperanças nas urnas, refletiam a necessidade de defender o direito à luta contra o projeto ditatorial de Bolsonaro e também ir além, na construção de uma sociedade socialista.
“Esse país não pode retroceder pra uma ditadura. Uma ditadura não permite uma reunião dessa aqui. E é por isso que nós da CSP-Conlutas estamos disputando as consciência dos trabalhadores para agora no dia 30 botar pra fora Bolsonaro”, afirmou Atnágoras Lopes, da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas na abertura do evento.
“Não dá pra confiar em Lula que ele fará tudo por nós. Ele já governou treze anos e não fez. Ele também governou pros banqueiros e empresários. Mas não se brinca com ditadura e esse atual governo tem um projeto de ditadura. Essa liberdade não podemos deixar escorrer pelos dedos”, completou.
Para Irene Maestro, advogada e liderança do movimento Luta Popular, de alguma maneira Bolsonaro conseguiu se apoderar de parte do sentimento de insatisfação do povo, principalmente, através do discurso “contra tudo e contra todos”, que o ex-capitão do exército assumiu na campanha de 2018.
No entanto, após quatro anos de mandato e a piora na vida do brasileiro, Irene afirma que é fundamental não dar mais tempo de governo ao ex-capitão do exército. “Nenhuma eleição vai resolver nosso problema, mas a nossa desgraça está num ritmo acelerado e com Bolsonaro é colocar na quinta marcha”, explica Irene.
“Nós precisamos ganhar força e ganhar tempo para termos forças pra enfrentar tudo isso que está acontecendo”, concluiu Irene.
O problema da fome
A fome que já atinge 33 milhões de brasileiros também esteve entre as pautas discutidas. Além de ser ponto central da atividade, com a leitura de um manifesto, a situação de insegurança alimentar foi tratada como um dos crimes atribuídos ao atual governo.
“No Brasil, a fome é um crime institucional. Num país com tanta terra fértil, é inadmissível que tenha tanta gente passando fome”, afirmou Piauí, integrante do Setorial do Campo da CSP-Conlutas.
O ativista que atua na região de Descalvado, próxima a Ribeirão Preto (SP), lembrou que no estado paulista, apesar da agricultura familiar produzir 50% dos alimentos consumidos, a atividade possui apenas 13% das terras. O restante está nas mãos do agronegócio.
O fortalecimento da luta pela terra e a reforma agrária foi apontada por Piauí como uma das saídas para amenizar o drama da fome. A atividade de distribuição de alimentos durante a pandemia protagonizada pelo projeto Da Terra ao Prato, da CSP-Conlutas, é um exemplo, assim como as hortas coletivas estabelecidas nas ocupações do Luta Popular.
“A gente sabe que de onde nós viemos é nós por nós mesmos. Se nós não plantarmos, corremos o risco de passar fome. Por isso, o Luta Popular atuou no sentido da produção de alimentos e geração de renda”, defendeu Vanessa Mendonça, liderança da ocupação dos Queixadas.
Inimigo em comum
As intervenções de ativistas sindicais reforçaram a idéia de que a luta é, na verdade, contra um mesmo inimigo. O grande capital responsável pela falta de moradia e comida, no campo e na cidade, é o mesmo que ataca os direitos trabalhistas de diferentes categorias.
“Não tem como nós vencermos cada batalha que travamos se nós não entendermos isso. Precisamos nos unir e conscientizar todos e todas. Se é verdade que enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito, também enquanto explorar for um direito, rebelar-se é uma obrigação”, disse Ivan Targino, diretor do Sindicato Metabase Inconfidentes, de Minas Gerais.
Inflação recorde
A alta no custo de vida dos brasileiros foi uma das marcas do governo Bolsonaro e tem afetado todo conjunto da classe trabalhadora. Um dos principais causadores deste cenário é o aumento nos combustíveis, que também afeta o preço dos alimentos, e o preço exorbitante do gás de cozinha.
A reflexão sobre a política de preços adotada pela Petrobras é fundamental para entender o problema e traz a tona a necessidade de uma política que atenda prioritariamente a população.
“Já está em todos os jornais que com Bolsonaro a Petrobras será privatizada. Hoje, defender a estatal é defender o Brasil, a vida de cada um aqui”, defendeu Eduardo Henrique, secretário geral da FNP.
Encaminhamentos
Ao final do encontro, os participantes realizaram uma votação simbólica aprovando os próximos passos da luta. Entre as iniciativas está a construção de novas atividades entre os setores operários e popular, em outros estados.
Além disso, ficou aprovado a participação de todos os presentes nos atos que ocorrerão na quarta-feira (26) e que compõe o Dia Nacional de Luta da Campanha Despejo Zero. O fortalecimento do programa emergencial para a classe trabalhadora da CSP-Conlutas e o voto contra Bolsonaro e seu projeto autoritário de país também foram referendados.
Arte e confraternização
Durante o evento, ocorreram intervenções artísticas de cunho político com a apresentações de poemas, literatura de cordel e canções de luta, como a apresentada pelas mulheres da Ocupação Esperança. Com o término das atividades, os participantes puderam confraternizar e estender as discussões com o churrasco coletivo e apresentação musical.