Companheiros do Paraná estiveram na ocupação da fábrica da Inos, em Jacareí (SP), no mês de janeiro. Eles acompanharam a greve, a ocupação e o momento em que os trabalhadores assumiram a produção da empresa. Neste texto, eles relatam a experiência que vivCom a grave crise econômica mundial, os patrões e a mídia dizem que a única saída para reverter a crise e garantir empregos é a união dos trabalhadores com os patrões e o sacrifício de baixar os salários – que já são baixos.

Os trabalhadores da Inox de Jacareí (SP), porém, no dia 22 de janeiro, decidiram fazer diferente. Eles estavam em greve, ocupavam a fábrica e decidiram voltar ao trabalho. Aparentemente, uma vitória da empresa. Mas olhando de perto, foi uma importante conquista dos trabalhadores e um grande exemplo a ser seguido.

Uma comissão de fábrica, composta por sete membros, foi eleita pelos próprios trabalhadores que haviam ocupado a fábrica e passou a controlar a produção na empresa até que todas as dívidas sejam sanadas e todos os direitos e salários forem devidamente pagos.

Abuso de poder garante reintegração
Como era de se esperar, a patronal não cumpriu o acordo e entrou com uma liminar de reintegração. Mesmo sem ter sido julgada, numa descarada atitude de abuso de poder, a polícia entrou na fábrica e impediu que os trabalhadores ocupassem os seus postos ao chegarem pela manhã.

Uma vez, o revolucionário argentino Nahuel Moreno disse que “a verdadeira liberdade que se dá aos trabalhadores é a de morrer de fome”. Ele estava certo. Mais uma vez, os trabalhadores sentiram na pele os desmandos da sociedade capitalista.

Mesmo assim, novamente, os operários deram o exemplo de que lutar é preciso e vencer é possível. Após serem impedidos de entrar na fábrica, decidiram montar acampamento do lado de fora da empresa e estão dispostos a resistir até a vitória.

Desde o início desta luta, os trabalhadores da Inox mostraram uma impressionante capacidade de organização, determinação, disciplina e democracia operária, levando para as assembléias todas as discussões e possibilitando a fala e a defesa de idéias de todos, sempre agindo conforme o decidido pela maioria.

Sindicato da Conlutas apóia a decisão
Diferentemente das demais centrais, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região apoiou e vem dando todo respaldo para a ocupação. A postura do sindicato se choca com a de entidades ligadas à CUT, à Força Sindical, à CTB e a outras centrais que dizem não aceitar retirada de direitos e redução de salários, mas, na prática, incentivam o banco de horas e os acordos de redução de jornada com redução salarial. Estes acordos já demonstraram que não garantem que não haja demissões.

Para o sindicato, não há como aceitar propostas rebaixadas e sem garantias por parte da patronal. Muito já foi prometido e, como é de se esperar da burguesia, nada foi cumprido. Dessa forma, a única saída se deu pela heróica resistência dos trabalhadores em greve e a conseqüente ocupação e controle da produção. Já no primeiro dia, os trabalhadores começaram a fazer contato com os antigos clientes e a retomar a produção.

A realidade vista de perto
Sempre tivemos acesso às informações referentes à atual crise financeira. Entretanto, até a nossa vinda a São José dos Campos essa realidade nos parecia um tanto distante. Sentir de perto as conseqüências do sistema capitalista e o drama das famílias desempregadas possibilitou-nos uma experiência inexplicavelmente transformadora e única.

O exemplo dos trabalhadores da Inox, inicialmente com a greve e depois com a ocupação, nos fez acreditar que somente a luta é capaz de salvar a atual conjuntura desse sistema falido que é o capitalismo. A união, a determinação, a garra, o respeito e a confiança com os quais aqueles trabalhadores se mantiveram durante todo o período em que estivemos juntos só comprovam o que defendemos: somente os trabalhadores organizados e unidos são capazes de transformar uma sociedade.

Estamos entrando em mais uma crise do capitalismo. Nesse momento, fica ainda mais clara a divisão da sociedade entre ricos e pobres, empregados e patrões, explorados e exploradores. Aqueles que nos exploraram até a última gota de suor e retiraram todo o lucro possível para as suas farras, agora se utilizarão de todos os argumentos para tentar uma conciliação com nossa classe.

Mas essa conciliação só serve aos patrões. Apesar de todo o dinheiro recebido do governo – dinheiro gerado pelo nosso trabalho – agora nos ameaçam com demissões e corte de salários. Não podemos entregar conquistas históricas que exigiram muita luta para serem conseguidas.

A partir de agora, o momento é de todos os trabalhadores do Brasil e do mundo atuarem em defesa da classe operária, demonstrando solidariedade às lutas como a dos trabalhadores da Inox. Além disso, o momento é de união de todos em torno de uma luta unificada contra as demissões, a retirada de direitos e redução de salários.

A todos os trabalhadores, especialmente aos guerreiros da Inox, nossos sinceros cumprimentos socialistas e também nosso agradecimento pela oportunidade de tê-los conhecido. Tenham certeza de que vocês fazem à diferença em nossa sociedade.