Leia o editorial do Opinião Socialista nº 513

A delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e de inúmeras empreiteiras implicam Dilma, Lula, Aécio, Cunha, Renan, Temer, Fernando Henrique Cardoso e dezenas de políticos e parlamentares. E ninguém sabe quantos políticos mais podem aparecer nas denúncias ou amanhecer presos.

Quando fechávamos este jornal, o mais novo delatado por oferecer dinheiro para o ex-senador fechar o bico e não delatar ninguém era o ministro da Educação, Aloísio Mercadante, um dos principais e mais antigos quadros do PT. Na gravação que o implica, o ministro, a certa altura, diz que “em política tudo pode”.

Por sua vez, o depoimento do ex-presidente Lula à Polícia Federal, em 4 de março, e seu posterior discurso à militância petista, necessariamente têm de levar todo militante e ativista socialista e da classe operária a refletir sobre a atual situação a que chegaram o ex-presidente, o governo Dilma e o PT.

Lula, ao admitir visita ao apartamento triplex no Guarujá, do qual está sendo acusado de ser dono, diz: “quando eu fui a primeira vez, eu disse ao Léo [Léo Pinheiro, presidente da OAS] que o prédio era inadequado, porque além de ser pequeno, um triplex de 215 metros é um triplex ‘Minha Casa, Minha Vida’, era pequeno”. Já no discurso para a militância disse que “todo mundo pode se dar bem na vida, menos esse metalúrgico de merda”.

O PT e Lula reclamam das investigações e dos vazamentos seletivos do juiz Sérgio Moro em relação ao PT. Falam que a corrupção não nasceu com o PT. Nisso têm razão. Reclamam, também com razão, do uso sem nenhuma necessidade da condução coercitiva de Lula para depor. Um ato arbitrário da justiça. No entanto, todos os dias a juventude pobre e negra da periferia e os trabalhadores que lutam sofrem com inúmeros atos arbitrários da justiça brasileira.

O PSDB, o PMDB, o PP de Maluf e a enorme maioria dos deputados e partidos que estão no Congresso são corruptos. As empreiteiras são corruptas, mas também não estão sozinhas nisso. Os bancos, as multinacionais que se apossaram das empresas que foram privatizadas a preço de banana, as corretoras que sob o governo FHC ganharam milhões com a especulação: são todos corruptos.

O juiz Sérgio Moro, que tem ganhado apoio da população por denunciar e prender alguns peixes grandes da corrupção, também não pega todo mundo e aceita participar de eventos patrocinados por gente como João Dória, que acaba de ser denunciado de comprar votos na convenção do PSDB em São Paulo.

Até o famoso japonês da Polícia Federal foi condenado por corrupção na Operação Sucuri, que investigou contrabando na fronteira com o Paraguai.

O problema com Lula e com o PT é o fato do partido ter prometido ser diferente de tudo isso aí. No entanto, tornou-se igualzinho a todos eles. Por quê? Porque o PT escolheu o caminho de governar o capitalismo em aliança com a patronal e seus partidos, apoiando-se no Congresso e não nas lutas dos trabalhadores. O PT e Lula diziam que era possível reformar o sistema capitalista e o Estado e propunham um plano de crescimento econômico com distribuição de renda a ser negociado entre patrões e trabalhadores.

O PT dizia que era utópico a todos aqueles que defendiam um projeto de combate ao capitalismo, aos patrões e um projeto socialista, ou seja, um governo dos trabalhadores apoiado nas lutas e em Conselhos Populares para governar contra a burguesia. Dizia que nosso objetivo não era organizar a luta dos trabalhadores e lutar pelo poder dos debaixo, mas sim priorizar as eleições. Que era possível “governar para todos”, ou seja, para banqueiros e trabalhadores, empreiteiros e peões de obra.

O resultado é isso que estamos vendo. Não foi o PT que mudou o sistema e o Estado burguês. O sistema e o Estado burguês que mudaram o PT.

Sérgio Moro também vende a ilusão de que é possível acabar com a corrupção mantendo o sistema. O PT, lá atrás, também prometeu que seria possível um capitalismo ético e de rosto humano. Este projeto faliu. Como não é possível servir a Deus e ao Diabo, Lula e o PT mudaram de amigos, traíram os trabalhadores e causaram muita desilusão. O que estamos vendo hoje é a comprovação de que não é possível capitalismo de mãos limpas.

A classe trabalhadora precisa lutar e se organizar para ter o poder em suas mãos e fazer uma verdadeira transformação social que efetivamente acabe com a miséria e a exploração. Um projeto socialista e revolucionário. Para isso, é preciso retomar a ação direta como prioridade, avançar a organização dos debaixo rumo à sua auto-organização e construir um partido revolucionário e socialista.

Nesse sentido, projetos como a Frente Brasil Popular, que visam praticamente uma refundação do PT, não servem. Da mesma maneira, projetos que priorizam as eleições, como o PSOL, também repetem o PT.

Não temos o direito de construir novas desilusões. Precisamos transformar de verdade a sociedade e não governar para os banqueiros e em aliança com eles.