O debate “Dívida: o `default` da Argentina, um exemplo a seguir?“ foi marcado por intensa polêmica a respeito do governo Kirchner. A pergunta sobre a viabilidade da nova medida para saída à dívida externa teve representantes tanto a favor como contra.

O governo de Nestor Kirchner cumpre o papel de desmobilizar as massas que lutaram e protagonizaram a revolução que derrubou cinco presidentes em poucos meses no ano de 2001. É para convencer os trabalhadores a abandonar a luta que o novo governo toma medidas supostamente progressivas, tais como a defesa dos direitos humanos e as disputas com o FMI.

Ao tomar posse em 2003, Kirchner gerou expectativas quanto à dívida externa, mas em setembro do mesmo ano negociou com o FMI um superávit primário de 3% para pagar a dívida e a volta dos pagamentos aos credores privados. Agora, em 2005, ressurgem as mesmas propostas. Entretanto, os argentinos não se deixam enganar. No debate, foram várias as falas que ressaltaram a insatisfação e a desconfiança dos trabalhadores.

O economista Cláudio Katz pronunciou-se contra o “default” porque este significa negociar e ser cúmplice de uma dívida fraudulenta e criminosa. Trata-se apenas de mais uma oportunidade para o capital especulativo, em que ganham o FMI, os capitalistas argentinos e os fundos de pensão. Os trabalhadores perdem porque o governo precisará manter um alto superávit fiscal e, conseqüentemente, os recursos para áreas sociais serão ainda menores. Como saída, Katz propôs a auditoria da dívida, a saída das negociações com o FMI, suspensão do pagamento a grandes credores e diferenciação para os pequenos.

Num discurso emocionado, a representante do grupo Mães da Praça de Maio afirmou que a dívida argentina já está paga e que o dinheiro roubado deve ser devolvido ao povo. Para Nora Cortinas, Kirchner se equivoca ao postergar o problema da dívida, uma questão urgente para a sobrevivência da maioria da população.

A relação da dívida externa com a Alca, a militarização e as privatizações foi lembrada por Beverly Keene, do Jubileu Sul. Para ela, não é possível enfrentar o problema sem encará-lo politicamente, num contexto de submissão cada vez maior de diversos países ao imperialismo. Beverly também ressaltou a contradição de Kirchner, que segue endividando o país enquanto pretende acabar com a dívida.

A defesa do governo coube ao representante do movimento Barrios de Pie, Isaac Rodriguez. Apesar de reconhecer a origem espúria da dívida, retirou a responsabilidade de Kirchner ao afirmar que os pequenos acionistas italianos deveriam centrar suas críticas nos banqueiros de seus país. Considera que as medidas do governo são insuficientes, mas que a diminuição do desemprego e da pobreza seriam pontos a favor. Para ele, caberia às mobilizações populares pressionar para que Kirchner vá mais à esquerda, e não a confrontação. Algo muito semelhante ao que fazem algumas correntes que hoje apóiam “criticamente” o governo Lula.