Agora são 19h, começam a sair os primeiros resultados do referendo. Conversamos rapidamente com Jaime Vilela, dirigente do Movimento Socialista dos Trabalhadores, seção da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI), no momento em que saía da prisão

Você acaba de sair da prisão? Como está se sentindo?
Muito indignado pelo tremendo aparato policial-militar utilizado por Mesa. Durante o dia de hoje, cerca de 230 pessoas que protestavam contra o referendo foram presas. Eu fui preso quando a polícia dispersou de maneira violenta um grupo de cem pessoas que estavam conversando sobre o tema do referendo, esperando a marcha convocada pela COB, que nunca se realizou.

Por quê?
Os dirigentes da COB não compareceram à praça São Francisco, no centro de La Paz, para dar início à marcha. Enquanto esperávamos, formou-se um grande aglomerado de pessoas, querendo discutir o referendo. Nisso, um oficial de polícia me deu um violento chute na perna e me obrigou a subir no camburão.

Qual foi a participação de Evo Morales, do MAS?
Teve uma política de aberta colaboração com o governo e sua armadilha. Conformou grupos de choque contra aqueles que iam boicotar e queimar urnas. Desarmou os principais conflitos em curso. Isso lhe custou a expulsão da COB.

O MST chamou o boicote. Por quê?
Porque o referendo é antidemocrático e não incorporou, em nenhuma das cinco perguntas, a que o levante de outubro pediu: a nacionalização do gás. Pelo contrário. Com “sim” ou “não”, tende a legitimar o neoliberal presidente Mesa. Tanto faz que o resultado seja “sim” ou “não”, pois as transnacionais vão continuar no país, explorando o gás, cujas reservas estão calculadas em US$ 350 bilhões, dos quais apenas 3% entram como ingresso para a Bolívia.

Qual era o clima hoje?
Havia uma grande receptividade às nossas posições, tanto que foi uma pessoa que estava ali na praça, nos ouvindo falar contra o referendo, que me ajudou quando a polícia me levou preso. Foi muito solidária. Pediu meu telefone para avisar a minha família sobre a prisão e todas as pessoas brigaram para que eu não fosse preso. O descrédito no governo Mesa aumentou abruptamente, em oito meses, e sua popularidade caiu de 80% para 35%. Isso confirma o que defendemos no ampliado da COB, em abril, isto é, que ela deveria preparar um Congresso para planejar as ações do boicote de hoje.

Como atuou o MST?
Foi muito boa nossa atuação. Vendemos 1.200 exemplares de nosso jornal, cuja capa chamava o boicote. É interessante lembrar que o povo na rua tirava xerox do jornal e vendia a 1 boliviano (metade do preço). Jaime Solares, dirigente da COB, em uma entrevista na TV, no momento em que chamava o boicote, mostrava nosso jornal diante das câmeras. Distribuímos 4 mil panfletos e pintamos muros da cidade chamando o boicote. Muitos canais de TV e emissoras de rádio divulgaram nossa posição.

Post author Por Cecília Toledo, de La Paz
Publication Date