Contando com a participação de cerca de 150 pessoas, muitas delas vinculadas a entidades do movimento de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (GLBT), o PSTU promoveu, na tarde do dia 27 de janeiro, a oficina ‘GLBT: entre a tolerância institucionalizada e o real combate à homofobia’. A mesa foi composta pelos militantes do PSTU Wilson H. da Silva, que falou em nome da Secretaria GLBT do partido, e Soraia Meneses, dirigente da Associação de Lésbicas de Minas Gerais (Alem).

O centro do debate foi a institucionalização da enorme maioria dos movimentos GLBT (hoje vinculados ao governo ou dependentes do financiamento de órgãos públicos ou privados) e seu conseqüente distanciamento de um combate efetivo contra a homofobia, principalmente aquela que atinge os setores mais pobres da população.

Como parte desta discussão, os dois militantes do PSTU ressaltaram a necessidade de aproximação do movimento GLBT dos demais movimentos sociais (sindical, estudantil e popular) e da participação nas lutas globais da sociedade.

Falando sobre o tema, Soraia lembrou: ‘É evidente que temos que formular um programa específico para as lutas GLBT e sair às ruas para defendê-lo, mas, tomando como exemplo um de nossas principais bandeiras, a luta pela parceria civil, é importante lembrar que o movimento GLBT não pode se esquecer de que mesmo que venhamos a conquistar o tal contrato, que garanta, por exemplo, o direito de partilha de bens, herança e previdência, ele de nada valerá se os planos neoliberais vingarem e jogarem todos nós no desemprego. Sendo assim, é preciso lutar pelo contrato, mas também contra os planos do FMI, a privatização e a Alca’.

Citando exemplos que vão desde a Parada do Orgulho GLBT em São Paulo, que reuniu mais de 1 milhão de pessoas, até a presença de casais de lésbicas nas novelas brasileiras, Wilson destacou que, ambos têm algo em comum: ‘Por um lado, as Paradas foram transformadas em grandes festas, patrocinadas (e praticamente controladas) por empresas privadas e órgãos governamentais; por outro, a chamada luta pela ´visibilidade GLBT’ foi reduzida a um ilusório conceito de cidadania, altamente marcado por padrões de classe média e consumistas. Ou seja, da mesma forma que os dirigentes GLBT fazem questão de despolitizar as Paradas, afirmando que a simples presença de milhões nas ruas é suficiente, os setores majoritários do movimento festejam a presença na mídia de uma representação de homossexuais facilmente aceitável pela ideologia dominante. Enquanto isso, centenas de GLBT pobres, que se encontram nas escolas, nas fábricas e na periferia, continuam à mercê das humilhações, da segregação, da perseguição e da violência que marca nosso cotidiano’.

Com Lula, não há Brasil sem homofobia

Ambos palestrantes também destacaram que a inércia do movimento GLBT caminha lado a lado com a completa paralisia do governo Lula em relação aos direitos GLBT. Evidente desde sua aliança com os setores mais conservadores e homofóbicos da elite (com o PL, braço político da Igreja Universal), a política do governo petista em relação a homossexuais não tem passado de um blá-blá-blá sem fim e, na prática, na conivência criminosa com as práticas homofóbicas: os hemocentros de todo o país continuam recusando o sangue dos homossexuais, o projeto de parceira civil está engavetado em Brasília e o volumoso projeto ‘Brasil sem homofobia’, além de não ter sido minimamente discutido com o movimento, é, literalmente, letra morta.

Wilson destacou que, para além de suas alianças, a postura do governo em relação ao tema também pode ser explicada por um elemento que é comum a todo o resto que se passa no país: ‘Um governo que tem como prioridade pagar a dívida, implementar os planos do FMI e viver em permanente lua-de-mel com as elites do país, jamais vai dar qualquer atenção para as nossas questões, muito menos destinar um centavo para transformar seu pomposo projeto em realidade. Não adianta escrever páginas e mais páginas sobre o combate da homofobia na educação e na justiça e negar verbas para tal’.

Soraia, por fim, destacou que um dos caminhos para reverter este quadro e levando o debate para o interior dos movimentos sindical e estudantil, algo que irá ocorrer, no decorrer do Fórum, nos encontros da Coordenação Nacional de Luta dos Estudantes (Conlute) e da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), que devem aprovar resoluções incentivando a instituição de secretarias de luta contra a opressão nas entidades que as compõem.