Marinho abraça José Dirceu, em ato do PT

Enquanto deputados, governo e a oposição burguesa chafurdam dia após dia num verdadeiro dilúvio de corrupção, a CUT, a UNE e o MST cumprem papéis dos mais lamentáveis. Nesta terça-feira, dia 21, essas entidades divulgaram um documento denominado “Carta aoA CUT, UNE e MST repetem as acusações proferidas à exaustão por José Dirceu, de que o governo estaria sob a ameaça de “golpe” “patrocinado pelos setores conservadores e antidemocráticos” do país. Como no seguinte trecho da carta: “De olho nas eleições de 2006, as elites iniciaram, através dos meios de comunicação uma campanha para desmoralizar o governo e o presidente Lula, visando enfraquecê-lo, para derrubá-lo ou obrigá-lo a aprofundar a atual política econômica e as reformas neoliberais, atendendo aos interesses do capital internacional”.

Na entrevista coletiva do lançamento do documento, os dirigentes das entidades procuraram desqualificar as acusações de corrupção que enlameiam o Planalto. “Isso aí (mensalão) é ‘forçação’ de barra, senão já teria vindo a público muito antes. É ‘forçação’ de barra da imprensa e de quem denunciou. Cria-se então aquele factóide, aquela expectativa. Imagine se 200 deputados recebessem R$ 200 mil todo mês. Haveria um carro forte na frente do Congresso”, disse João Pedro Stédile, da Direção Nacional do MST. Para Luis Marinho, presidente nacional da CUT, o problema também não é tanto ético, mas sim de – digamos – logística. “Não acredito na capacidade do PT em levantar esse valor”, disse o neopelego cutista.

Não menos curiosa foi a explicação psicológica do secretário nacional de Comunicação da CUT, Antonio Carlos Spis, que chegou a dizer que as denúncias feitas por Roberto Jefferson “vem sendo manipuladas pela grande mídia para interferir no inconsciente coletivo, transformando uma mentira em verdade, e paralisando o país”.

Para essas entidades, dizer que o governo Lula é corrupto é fazer o jogo da direita e das elites, que estariam articulando um “golpe branco” contra o governo do PT.

Confusão deliberada
Na verdade, a carta, assinada por 39 entidades e movimentos, tenta generalizar uma imensa confusão sobre os ativistas dos movimentos sociais e a população em geral. Apoiados na justa desconfiança em relação a Jefferson – afinal, ele foi integrante da tropa de choque de Collor e confessa escandalosamente crimes de corrupção –, essas entidades, mais uma vez, procuram confundir a população e dar uma cobertura de esquerda ao governo. Não dizem, porém, que Roberto Jefferson só existe politicamente graças ao PT. Aliás, se ainda continuou roubando nas estatais foi porque o governo federal deixou. Lula chegou a chamá-lo de parceiro e a dizer que “daria um cheque em branco” ao petebista no auge das denúncias contra ele.

O método da confusão não é novidade. Trata-se da infeliz herança stalinista de fabricar grandes mentiras e repetir a exaustão até que se tornem “verdades” incontestáveis. Herança essa que ainda reina na cabeça de dirigentes petistas, especialmente na de José Dirceu, que a utiliza para mobilizar as suas bases políticas e alguns burocratas sindicais. Assim, vemos o pior do stalinismo a serviço da implementação da política neoliberal no país.

Piadinha
Em certo momento a carta evoca as mudanças para qual o Lula foi eleito. Uma verdadeira piada de mau gosto. Em dois anos e meio de governo, Lula aprofundou o neoliberalismo e fez a festa dos banqueiros e grandes empresários que nunca lucraram tanto quanto neste governo. Esses setores, portanto, não teriam nenhum motivo para articular algum “golpe” contra o governo, pelo contrário, procuram preservá-lo, uma vez que sua política econômica é amplamente favorável a eles. O fato do PT governar para as elites conservadora não é negado nem pelo próprio senador petista Delcídio Amaral, presidente da CPI dos Correios, que se referindo ao seu partido, disse recentemente que “a elite somos nós”.

É óbvio, entretanto, que a oposição burguesa (PSDB e PFL) pretende desgastar o governo até as eleições de 2006. Mas esses partidos já deixaram bem claro que não pretendem criar nenhuma crise institucional no país defendendo o impeachment de Lula. Apostam sim na falta de memória da população para voltar ao poder e promover novamente a roubalheira, que tanto marcou a Era FHC.

Política externa soberana?
O que sobra então de progressivo nesse governo que incomoda tanto as elites? Preocupado, João Pedro Stédile responde: “A crise instalada em Brasília é resultado de um movimento golpista que inclui motivações internacionais. Os interesses do capital internacional, representados pelo governo Bush e as transnacionais que atuam no Brasil, estão inquietos com a política externa do governo Lula, independente e de integração regional”.

`Tira

Nem o próprio Stédile deve acreditar nas suas declarações. Todos sabem que a política externa do governo Lula é absolutamente alinhada com os interesses de Washington. Prova disso são os sucessivos elogios de Bush e Condolezza Rice a política do Itamaraty. Elogios que partem de uma base bastante concreta. Afinal é Lula que faz o serviço sujo do imperialismo no Haiti, enviando soldados brasileiros para ocupar o país. Também é ele que leva recados de Bush para Chávez de modo a tentar “lulalizar” – domesticar – o presidente venezuelano. Não poderíamos esquecer também das negociações da Alca, da qual o governo federal continua participando querendo trocar nossa soberania pelo aumento dos lucros de empresários e latifundiários brasileiros. Para desespero do Itamaraty e de Lula, mesmo aplicando uma política externa subserviente a tal vaga no conselho da ONU não obtém o pleno apoio do imperialismo norte-americano.

É lamentável o papel que cumpre Stédile, que ameaça jogar fora a reputação construída pelo MST em anos de luta onde tombaram heróicos companheiros.

Apenas um detalhe
A CUT, UNE e MST cumprem um papel de primeira linha ao frear toda e qualquer mobilização social contra a corrupção e os ataques promovidos pelo governo contra os trabalhadores. Um papel, diga-se de passagem, vergonhoso e repugnante. Fazem isso, também, porque possuem vínculos como o governo e recebem dinheiro do Estado, através de programas, cargos e convênios.

Deveriam ouvir os conselhos do escritor e histórico simpatizante do PT, Luiz Fernando Veríssimo, que em uma de suas colunas ironizou aqueles que apregoam que existe um golpe conservador por trás das denúncias de corrupção no governo do PT.“Não fosse por um detalhe, o que estaria em curso hoje no Brasil seria um clássico golpe conservador (…) contra um inadmissível governo de esquerda. O detalhe que falta, claro, é o governo de esquerda”, disse o escritor.