Novamente, Lula diz que não sabia de nadaMais uma onda de corrupção invade os noticiários, revelando a podridão na qual se afundam o governo Lula e o Congresso Nacional. A Operação Navalha, levada a cabo pela Polícia Federal, mostra a promíscua relação entre empreiteiras, empresários e parlamentares em licitações públicas fraudadas. O escândalo atinge o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acusado de ter dívidas pessoais pagas pela empreiteira Mendes Junior, uma das maiores do país.

Como se isso não bastasse, o próprio irmão de Lula e o compadre do presidente, Dario Morelli, foram indiciados na Operação Xeque-Mate. Segundo as investigações da Polícia Federal, Genival Inácio da Silva, o Vavá, utilizava seu parentesco com o presidente para beneficiar donos de casas de bingos. Ele e Morelli são acusados de atuarem junto ao empresário do jogo Nilton Cezar Servo, dono de máquinas caça-níqueis apontado como o “cabeça” de um mega-esquema de exploração de jogo.

As sucessivas operações desencadeadas pela Polícia Federal poderiam, por outro lado, revelar uma mudança na Justiça, supostamente empenhada agora em investigar e punir os corruptos, sejam empresários, sejam políticos. No entanto, a rápida liberação dos figurões presos durantes as operações mostra que as ações têm mais a ver com disputas internas na corporação do que com uma mudança de seu caráter.

Lula não sabia de novo?
De acordo com as investigações, Vavá utilizava seu parentesco para aproximar os empresários dos jogos de funcionários públicos. Por seus pequenos cambalachos, Vavá cobrava pagamentos irrisórios em troca da promessa de negociatas milionárias, que não chegaram a se realizar. Seus contatos do Executivo e do Judiciário tentaram garantir liminares favoráveis a seus clientes.

A situação de Lula se complica com a prisão do petista Dario Morelli na operação. Morelli é amigo íntimo e compadre do presidente e fazia serviços pessoais para ele. Nas gravações da PF, Morelli diz que corrompe policiais. Ele fala que “uns [juízes] têm que morrer mesmo” e diz, ainda, que seu nome intimida qualquer investigação. “Se rastrearem o meu [telefone] (…), o cara vendo meu nome já pensa duas vezes antes de fazer alguma coisa”, disse.

Vavá e Morelli são amigos, ainda, do empresário e ex-deputado estadual do Paraná Nilton Cezar Servo, apontado pelas investigações como o chefe da quadrilha do caça-níquel. Em gravação captada pela polícia entre Vavá e Servo, o empresário pergunta-lhe se havia falado com Lula. O irmão do presidente responde que sim. Em outra gravação, o irmão de Lula implora dinheiro ao líder da quadrilha: “Ô, arruma dois pau pra eu”.

Uma Pizza para Renan Calheiros
Já no Senado, enquanto a situação de Renan Calheiros (PMDB-AL) se complica cada vez mais, o Conselho de Ética prepara uma investigação de fachada para absolver o senador. Calheiros é acusado de ter dívidas pessoais pagas pela empreiteira Mendes Júnior, que tem negócios com o governo na região do senador. Segundo as denúncias, um lobista da empreiteira repassava R$ 12 mil mensais para custear a pensão alimentícia de uma filha que o senador teve numa relação extraconjugal.

O escândalo de corrupção que atingiu o líder do Senado envolve também dezenas de políticos e altos funcionários do Estado. Muitos foram presos, mas como é de costume no mundo dos ricos e poderosos, todos já foram liberados pela Justiça.

Circo armado
A operação da PF, ao que parece, fugiu ao controle do governo e da oposição de direita, ameaçando seriamente inúmeros políticos dos partidos governistas e da oposição de direita. Por isso, tanto o governo quanto a oposição se unem em defesa de Calheiros. Afinal, em terra de enforcados, todos têm medo de corda.

O primeiro ingrediente para a pizza foi o discurso de Calheiros no Senado, quando ele negou todas as acusações. Mesmo não apresentando qualquer prova, ele foi cumprimentado pela grande maioria dos parlamentares, que afirmaram estarem esclarecidas todas as denúncias.

Os documentos apresentados por Calheiros, entretanto, não só não comprovam que os pagamentos realizados à pensão de sua filha foram de sua responsabilidade, como demonstram um enorme crescimento de sua renda, que aumentou nada menos que 73% nos últimos quatro anos, de R$ 984 mil para R$1,7 milhão. Pelo jeito, as estreitas relações com empreiteiras fizeram bem à conta bancária de Calheiros.

“Não quero condená-lo, quero absolvê-lo”, chegou a afirmar sem o menor escrúpulo o próprio corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP). O PSOL, por sua vez, pediu a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar. Percebendo o desgaste que seria simplesmente livrar a cara de Calheiros sem qualquer tipo de investigação, o Senado resolveu armar um teatro no Conselho de Ética, abrindo processo justamente para absolvê-lo.

Como se isso não bastasse, o atual presidente do Conselho, o senador Sibá Machado (PT-AC), já havia declarado publicamente estar convencido da inocência de Calheiros. Está armado o teatro para a absolvição. Uma investigação profunda do senador seria uma tragédia para o governo e a oposição burguesa, pois todos temem que venha à tona todo o corrupto submundo envolvendo o Congresso Nacional e as empreiteiras.

Nenhuma confiança no Congresso
O Congresso já mostrou claramente que não investigará nada. O Poder Judiciário, por sua vez, coloca-se como anexo jurídico dos parlamentares corruptos. Este é o Congresso corrupto que pretende aprovar as reformas que retirarão ainda mais direitos dos trabalhadores, como a da Previdência.

Uma CPI, como propõe o PSOL, não será capaz de investigar e muito menos punir os culpados. Apenas uma investigação independente, comandada por setores da sociedade e pelas organizações dos trabalhadores, pode indicar os corruptos desse congresso de corruptos.

Por isso, o PSTU defende a abertura do sigilo bancário dos parlamentares, funcionários e empreiteiros envolvidos nos casos de corrupção, assim como a prisão e o confisco dos bens dos corruptos e corruptores.

Justiça mostra a cara
Embora 49 pessoas tenham sido presas pela Operação Navalha, a Justiça já colocou todas em liberdade. Enquanto isso, pesquisa realizada para um mestrado da UnB revela que, nas cidades de São Paulo, Recife, Porto Alegre, Belém e no Distrito Federal, pessoas são processadas por furtos de objetos de R$ 1. Nessas regiões, seis pessoas foram processadas criminalmente e ao menos quatro foram presas.

Enquanto isso, os responsáveis por fraudes milionárias são soltos para poder roubar novamente.
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