A Copa da África do Sul começa no dia 11 de junho. Dessa vez todos torcem para ver um grande espetáculo. Todos querem algo bem diferente do que foi a aborrecida Copa de 2006, incluindo aí o desastre de Carlos Alberto Parreira e de sua seleção. A expectativa é ver a arte fluir dos pés de craques como Kaká, Eto’o, Messi, Cristiano Ronaldo e…talvez Neymar (?). No momento em que fechávamos essa edição, o técnico Dunga ainda não tinha anunciado inclusão do craque do Santos na entre os 23 jogadores que irão para a Copa. Ousadia nunca foi o forte de Parreira. Dunga vai pelo mesmo caminho?

A grande novidade
Dessa vez, porém, a grande novidade é que o maior evento do futebol mundial acontecerá o na África do Sul. Será a primeira Copa realizada no continente negro.
De forma hipócrita, muitos representantes do capital, disseram que a Copa será uma “oportunidade para mudar a imagem da África”. Contudo, bem longe de oferecer uma “oportunidade” para os povos do continente, particularmente para os trabalhadores da África do Sul, a Copa será bastante oportuna para um punhado de capitalistas faturarem alto. Um prova disso, é que dois dias antes, a Fifa pretende encabeçar um encontro da cúpula dos dirigentes e patrocinadores para debater a transformação do futebol em um negócio globalizado e bilionário (ver quadro).

Mas a realização da primeira Copa na África tem produzido uma enorme expectativa em torno do evento. Inclusive, e principalmente, por parte da maioria do sofrido povo sul-africano, os negros, que assim como grande parte dos brasileiros, é apaixonada pelo esporte. Para 88% da população sul-africana, a realização da Copa na África do Sul é motivo de orgulho. Isso tem todo um significado. Afinal, esse país tem uma bela história de luta contra o regime racista do Apartheid.

Se por um lado a luta do povo sul-africano sepultou esse odioso regime, por outro, isso não significou uma melhoria das condições de vida da maioria da população negra do país. Hoje não existe mais um regime que separava formalmente negros e brancos. Mas há no país um novo tipo de “apartheid social” que manteve a maioria negra do país na mais absoluta miséria, enquanto poucos enriqueceram no poder.

Nestes últimos 20 anos, todos os governo do CNA (Congresso Nacional Africano), inclusive o de Mandela, não fizeram outra coisa senão aplicar de forma rigorosa e obediente as políticas neoliberais recomendadas pelo FMI. O resultado é uma profunda crise social vivida no país. O desemprego atinge 40% da população da África do Sul – 28% segundo os dados oficiais. A desigualdade social também aumentou e a expectativa de vida caiu, puxada para baixo pela maior epidemia de Aids do mundo e pela explosão da violência urbana.

Uma prova dessa profunda divisão social aconteceu nos preparativos para a Copa. Milhares de trabalhadores pobres foram expulsos de seus bairros para dar lugar à construção de estádios enormes e luxuosos. Muitos destes moradores foram transferidos para lugares extremamente precários, como a “Blikkiesdorp”, que quer dizer cidade de lata. Neste vilarejo as casas são feitas de zinco e cada família tem apenas 18 metros quadrados para morar.

Por outro lado, a construção dos estádios para a Copa só foi possível devido a uma intensa superexploração dos trabalhadores. Segundo o sindicato, os operários que trabalham na construção dos estádios para a Copa recebiam menos de 4,50 rands (R$ 1,10) por hora. Essa situação levou os trabalhadores a realizarem diversas paralisações e uma greve no ano passado. Cerca de 70 mil trabalhadores aderiram à greve e colocaram realização da Copa em xeque.

Como aqui no Brasil, muitos africanos irão ficar vidrados em cada lance emocionante dessa Copa. No entanto, a realização do evento na África do Sul provoca uma “trégua social” no país. Passado a Copa, porém, a dolorosa realidade continuará batendo à porta de milhões de negros e negras todos os dias.

Negócio bilionário
Para além do talento dos craques no gramado, há muito tempo o futebol se tornou um negócio extremamente lucrativo. O que se passa com o futebol tem a ver com o que ocorre em outros setores da vida social dominados pelo capitalismo, que se apropria de toda criatividade humana para preservar a exploração.

O dinheiro movimentado pelo esporte representa, segundo a FIFA, 1% do PIB mundial. Já a Comissão Europeia estima que o futebol movimente 2% do PIB do continente, o que o transforma em um dos maiores setores da economia. Em 2006, os níveis anuais de renda eram três vezes o volume registrado em 1996. Fala-se hoje até da existência de uma “folha financeira do futebol”.

Em países imperialistas, como a Inglaterra, há clubes que tem uma renda anual superior à de países inteiros, como é o caso do Manchester United. O clube britânico movimenta por ano 1,4 bilhões de dólares, um valor que chega bem perto ao PIB de muitos países africanos, como Libéria, Cabo Verde ou Gâmbia.

Mudando a imagem
A Copa do Mundo é uma grande oportunidade para que grandes empresas possam mudar sua imagem perante os trabalhadores. A Volkswagen, por exemplo, uma das patrocinadoras da seleção brasileira, poderá usar a marca da CBF em sua comunicação, além de desenvolver atividades promocionais e figurar a marca em outdoor.

Nas fábricas da montadora isso já está sendo feito. Junto com as Comissões de Fábrica, a Volks está vendendo camisetas com o logo da empresa e da seleção, com o argumento de que “está ajudando” crianças carentes da África do Sul. Difícil é acreditar no suposto altruísmo de uma empresa que superexplora seus trabalhadores e persegue dirigentes sindicais.
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