Polêmicas repete debate de 1981, no primeiro ConclatVários setores da esquerda petista e do P-SOL (além, é claro, das burocracias sindicais) acusam a Coordenação Nacional de Lutas, a Conlutas, de divisionismo. Os neopelegos sentem-se ameaçados. Já para boa parte dos setores que se colocam contra a reforma Sindical e Trabalhista, ingressar na Conlutas é o mesmo que se isolar, levando o movimento sindical para um gueto político.

No entanto, essa acusação não é nova dentro do movimento sindical. A oposição entre construir uma alternativa de luta ou, em nome da unidade, manter as velhas estruturas burocráticas, repete o próprio processo no qual nasceu a CUT. Mas precisamente, refaz a grande polêmica travada no primeiro Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora), em 1981.

O novo movimento operário que eclodiu após o ascenso iniciado em 78 ameaçava as burocracias encasteladas nos sindicatos pela ditadura militar. Em todo o país, rebeliões de base impulsionavam as oposições sindicais que varriam os pelegos das organizações dos trabalhadores. Esse processo, que teve como epicentro o fervilhante movimento operário no ABC, mostrou a necessidade da construção de uma nova organização que pudesse expressar o novo momento político que a classe trabalhadora vivia.

Os novos ativistas que despontavam para a luta no período em que o regime militar agonizava não mais aceitavam a política de colaboração de classes dos velhos pelegos e do PCB, o antigo partidão. A necessidade da construção de um movimento sindical classista e de luta era evidente para a maioria desses novos ativistas.

No entanto, para grande parte dos velhos dirigentes, há anos enfurnados nos gabinetes dos sindicatos, essa postura soava como ultra-esquerdista e divisionista. Foi esse o embate travado no Conclat. De um lado, o chamado Bloco Combativo, expressão da nova reorganização de base, defendia a construção de uma central sindical classista e independente. De outro, a Unidade Sindical, impulsionada pelo PCB e os pelegos, recusava-se a romper com as estruturas burocráticas herdadas da ditadura, tal como sua política colaboracionista.

O Bloco Combativo reunia diversas oposições sindicais e proclamava a necessidade de se construir um movimento sindical independente do Estado e controlado pelas bases. A Unidade Sindical, ao contrário, defendia o imposto sindical e priorizava o sindicalismo de cúpula, por isso, não reconhecia as oposições. Esses dois setores romperam e o Bloco Combativo lançou as bases para a formação da Central Única dos Trabalhadores.

Desta forma, o I Conclat definiu uma Comissão Pró-CUT, sendo a central finalmente lançada oficialmente em agosto de 1983. A central, lançada sob os princípios do classismo, foi a expressão mais importante das principais lutas daquela década. Os que se opuseram à sua construção ficaram à margem desse processo e foram praticamente destruídos.

A história se repete
O atual presidente da CUT, Luís Marinho, guarda muitas similaridades com os antigos pelegos da ditadura. Cresceu nas estruturas da central através de acordos de gabinete e foi indicado à presidência da CUT pelo próprio Lula. Assim como os velhos pelegos, Marinho é completamente estranho à base.

E da mesma forma que a Unidade Sindical defendia o imposto sindical, o atrelamento do movimento ao Estado e os acordos de cúpulas, a CUT impulsiona agora a reforma Sindical que impõe todas essas medidas para o sindicalismo atual. A única medida da reforma que era proclamada como uma legítima reivindicação da CUT, o fim da unicidade sindical, após um acordão realizado com as demais centrais pelegas, já não é mais defendida pela central de Marinho.

Assim, repete-se a história. A Coordenação Nacional de Lutas, a Conlutas, que defende os princípios pelos quais foi construído a CUT, é acusada por setores da própria esquerda de divisionismo. No entanto esquecem-se que, há cerca de vinte anos, aqueles que renunciaram à defesa dos direitos dos trabalhadores em nome do aparato e da maioria, foram varridos da história.