Número de mortos passa de 20, e já são quase 50 mil desabrigados

Desastre é causado pelo descaso dos governos com a prevenção de tragédias e falta de investimento em políticas habitacionais. Leia a declaração do PSTU-ES sobre tragédia no Espírito Santo

O ES está em situação desesperadora devido às chuvas e inundações. São 21 mortos até o momento, aproximadamente 50 mil desabrigados, cidades isoladas, famílias perdendo tudo o que duramente juntaram ao longo da vida. Esta é a maior enchente registrada no estado. Maior, inclusive, que a de 1979, que tragicamente marcou nossa história. Naquele ano, dizia-se, frente ao descaso das autoridades com o sofrimento da população, “só o povo salva o povo”. Como se pode facilmente constatar, nada mudou com relação a isto.

A população pobre, que mora em áreas de risco, em regiões sujeitas a deslizamentos e alagamentos só faz isto porque não tem condições de morar em lugares mais seguros. O déficit habitacional do Brasil e do ES é enorme, e os projetos dos governos são muito mais voltados a beneficiar as construtoras do que a população que necessita de casa própria.

As obras de contenção de encostas, de dragagem dos rios, das redes pluviais, de sistemas de drenagem eficientes e na quantidade necessária nunca são feitas da forma adequada. O dinheiro público, que sobra para beneficiar o grande capital, sempre falta quando é para atender às necessidades da população pobre e negra dos morros, da beira dos rios.

É uma grande mentira que está acontecendo uma tragédia natural inevitável. Não foi um meteoro que caiu no ES! O aumento do volume das chuvas, que tende a piorar cada vez mais, é consequência do aquecimento global, causado pela ganância capitalista que em sua insanidade produz cada vez mais danos irreversíveis ao meio ambiente devido à exploração descontrolada da natureza.

Os desmoronamentos de encostas em grande parte são consequência do desmatamento. Além disto, o desmatamento também tem como consequência a impermeabilização do solo, fazendo com que a água das chuvas, ao invés de penetrar até os lençóis freáticos, seja toda escoada para os rios. Os rios, por sua vez, estão assoreados pela destruição das matas ciliares, com seu leito muito mais raso do que o normal e, por isso mesmo, muito mais propensos a transbordar.

A impermeabilização do solo nas cidades, pela falta de um mínimo de áreas verdes, agrava as enchentes, pois as redes pluviais têm que dar conta de todo o volume de água que cai em solo urbano. Isto sem falar que o inchaço das cidades é resultado do êxodo rural, causado pela ausência de uma reforma agrária e pela expansão do agronegócio, latifundiário e monocultor. Tudo isso é efeito da caótica e ensandecida economia capitalista, que não respeita a natureza, a vida, o ser humano, nada!

O PSTU chama todos os trabalhadores do ES a se somarem em uma ampla campanha de solidariedade às vítimas desta tragédia, através de tudo que puder ser feito. Convocamos todos sindicatos, entidades estudantis e todas as organizações de nossa classe a organizarem coleta de mantimentos para os desabrigados. Essas pessoas têm necessidades urgentes e é preciso minimizar o seu sofrimento. É necessário agir prontamente, com toda energia, em socorro dos trabalhadores e trabalhadoras que estão desamparados. Mas além do auxílio emergencial, é necessário muito mais, porque, se nada for feito, tragédias como esta se repetirão cada vez com mais intensidade e com maior frequência.

Temos também de exigir que os governos deem todo o auxílio agora aos desabrigados, não simplesmente colocando-os em estádios ou escolas, mas garantindo aluguel social para todos os desabrigados, enquanto não se constroem casas em áreas seguras para todos os que perderam suas habitações e bens.

Não podemos esquecer que o governo Renato Casagrande (PSB) iniciou sua gestão com o massacre de Nova Esperança, destruindo a ocupação de Barra do Riacho, colocando mais de uma centena de pessoas na rua, destruindo suas casas e bens e provocando mortes. Esta é a política habitacional deste governo, que impede os pobres de terem moradia digna e os empurra para o alto dos morros e regiões de risco. O descaso generalizado dos governos municipais ficou expresso na patética viagem de férias para Nova York do prefeito de Vila Velha, Rodney Miranda (DEM), que só retornou quando percebeu o tamanho do desgaste político que estava sofrendo. Tanta determinação para perseguir os professores em greve e tanta omissão frente a tragédia que se repete, mais uma vez, em Vila Velha!

Por isto, o PSTU afirma que só com muita luta será possível garantir o socorro adequado aos desabrigados e evitar que novas tragédias como esta se repitam. É necessário que, em 2014, tomemos as ruas novamente, como em 2013, em grandes mobilizações e greves, para derrotar o projeto dos governos de resolver a crise do capital com arrocho salarial, retirada de direitos e criminalização dos lutadores. O dinheiro que falta para moradia, obras de contenção, defesa do meio-ambiente e socorro aos necessitados, sobra pros banqueiros, empreiteira e para a FIFA.

O único futuro que o capitalismo oferece à humanidade é mais completa barbárie, um caos ambiental cada vez maior. A única alternativa para uma vida digna para os trabalhadores é a destruição deste sistema e a construção de uma sociedade socialista. Como nos ensina o poeta, é necessário arrancar alegria ao futuro, e para isto o futuro só pode ser socialista.

“Para o júbilo, o planeta está imaturo.
É preciso arrancar alegria ao futuro.
Nesta vida, morrer não é difícil.
O difícil é a vida e seu ofício”

Vladimir Maiakovski