Desgaste do governo não é capitalizado pela oposição de direita
Quase um ano após as mobilizações de junho, nada foi feito em relação às principais reivindicações colocadas nas ruas, como saúde e educação. Mesmo a tarifa do transporte público, estopim para a onda de protestos, passa hoje por uma nova rodada de aumentos. Com isso o governo Dilma, identificado pela população como o responsável por essa situação, se desgasta cada vez mais.
De acordo com levantamento do Instituto MDA, encomendado pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e divulgado nesse dia 29 de abril, houve uma nova queda nas intenções de voto de Dilma. A pré-candidata do PT à reeleição caiu de 43,7% para 37%, uma significativa redução de 6,7%. Ao mesmo tempo, a avaliação positiva do governo também caiu de 36,4% para 32,9%.
Pouco antes dos protestos, Dilma contava com 55% de aprovação, segundo pesquisa CNI/Ibope. Em julho, após as manifestações que varreram o país, a popularidade do governo despencou para 31%. De lá até o final do ano, houve uma relativa recuperação, chegando a atingir 43%. Mas desde o início, ocorre uma degradação crescente desses índices, chegando a se aproximar hoje da popularidade de junho do ano passado. Mais que isso, pela última pesquisa divulgada, o desempenho pessoal de Dilma, com 47,9% de aprovação, é até mesmo inferior ao registrado em julho último, quando marcava 49,3%.
Inflação e corrupção
Segundo avaliação da CNT, o resultado da aprovação e da intenção de votos de Dilma reflete a queda na avaliação dos indicadores sociais.”Houve uma deterioração de todos os índices sociais: emprego, renda, saúde, educação“, afirmou em coletiva à imprensa o Diretor-executivo da entidade, Bruno Batista. Além disso, o escândalo da Petrobras teria também atingido a presidente, assim como a alta da inflação, sobretudo dos alimentos, no último período.
À inflação se somam também as recentes notícias que mostram a desaceleração da economia e seus efeitos sobre os trabalhadores, como a ameaça de demissão em massa pelas montadoras. As mesmas que já receberam bilhões em subsídios e isenções do Governo Federal. Além disso, dados do Banco Central mostram o aumento do endividamento das famílias. Segundo o banco, 45,86% do orçamento familiar é destinado ao pagamento de dívidas com os bancos, um número recorde.
Diante dos números e temendo pelas próximas eleições, Dilma realizou um pronunciamento para o 1º de maio anunciando a correção da tabela do Imposto do Renda e o reajuste do Bolsa Família. No entanto, a correção da tabela, de 4,5%, está muito abaixo da estimativa de inflação para 2014, calculada em pelo menos 6%. Segundo o Sindifisco Nacional, a defasagem da tabela está em 61,42%. Já o reajuste do Bolsa Família vai custar ao governo R$ 1,7 bilhão este ano. Menos do que o país vai gastar com segurança e repressão durante um mês de Copa do Mundo, ou R$ 1,9 bilhão.
Construir alternativa nas lutas e eleições
A pesquisa que mostra a queda na popularidade e intenção de votos de Dilma revela também que se mantém uma tendência já observada nos meses anteriores. O desgaste do governo do PT não está sendo capitalizado, pelo menos não na mesma proporção, pela oposição de direita. A pesquisa do CNT/MDA mostra uma leva alta na intenção de votos de Aécio Neves, de 17% para 21,6%, mas isso pode ser relativizado pelo fato de a pesquisa ter sido realizada logo após a propaganda partidária do PSDB na TV. Eduardo Campos (PSB), por sua vez, apenas oscilou de 9,9% para 11,8%, o que está dentro da margem de erro. Ou seja, a população e os trabalhadores que confiavam no governo e estão se decepcionando, não querem também a volta da direita tradicional.
Isso mostra a importância da construção e fortalecimento de uma alternativa à esquerda, claramente socialista, que expresse em seu programa as jornadas de junho e as transformações que o país precisa.
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