Uma onda de protestos contra a Minustah (missão da ONU) atinge o Haiti. No último dia 18, soldados foram apedrejados por uma furiosa população que exigia a retirada das tropas e atribuía a epidemia de cólera aos soldados da ONU. Sob gritos “Minustah – cólUma verdadeira guerrilha urbana se deu em Porto Príncipe hoje, quinta-feira, 18 de novembro. Nesta data, comemora-se sempre a batalha de Vertières, realizada em 1803 como uma façanha da independência. Sempre, exceto nestes últimos anos, os governos nunca se dedicaram a recordar tais datas (trazem muitos pesadelos e problemas com seus tutores).

As organizações que convocaram o protesto (Batay Ouvriye, Modep, Tèt Kole, PEVEP, CATH, KRD, Kowalisyon òganizasyon k ap batay pou tout timoun jwenn lekòl gratis, Bri kouri nouvèl gaye, Inivèsite Popilè, FRAKKA, GREPS, MODJE, Sèk Gramsci) fizeram um chamado amplo distribuído por toda a capital.

Hoje, uma multidão de centenas de pessoas reuniu-se em frente ao Ministério de Saúde Pública para denunciar o gerenciamento do governo, incapaz e francamente despreocupado com a coisa pública. Mas também contra o show midiático que se faz todos os dias no jornal, no rádio e na televisão, divulgando estatísticas e consignas pueris (dizendo, por exemplo, que temos que limpar as mãos com sabão; que temos tomar água tratada, a uma população pobre urbana e, sobretudo, rural que, pelas condições de dominação e exploração, não tem mais do que a água de rio para viver), além de sádicas, em vez de trabalhar concretamente para melhorar a situação.
Além disso, tentam esconder a origem da epidemia, enquanto várias pesquisas científicas e de importância já têm denunciado: são soldados da ONU, nepaleses mais precisamente, que difundiram a doença, largando seus excrementos infectados no rio Artibonite.

Após dois dias de denúncias a gritos e bloqueios de estradas em Cap-Haïtien (norte do país) e Inche (região central), arremessando pedras e garrafas contra as forças repressivas da Minustah e da polícia local, os camaradas tiveram que recuar.
Em Porto Príncipe, depois do protesto em frente ao Ministério de Saúde Pública, a manifestação, que ganhava mais e mais pessoas, dirigiu-se ao palácio nacional, onde fomos barrados. De fato, já nas proximidades, a Minustah estava com seus soldados, tanques, fuzis e gás lacrimogêneo que disparou em seguida, tratando de nos dispersar. Vários tiros foram ouvidos. Mas, desta vez, bastava! De um só golpe, a manifestação inteira se armou com pedras e botou os soldados para fugir. Um deles caiu do veículo e foi alvejado por pedras, antes de ser ajudado por outros soldados para conseguir escapar.

Fomos então ao acampamento do Champs de Mars, próximo do local do conflito, para alertar a população cercada e abandonada em uma das mais humilhantes condições, enquanto os arquitetos e urbanistas burgueses planejam, sob o comando das multinacionais têxteis, de Bill Clinton e sua ONG, como retirar da cidade as pessoas dos acampamentos próximos às zonas francas.

Alguns se somaram ao protesto. Juntos fomos a uma das principais ruas próximas, Lalue, que une esta praça central a uma das bases da Minustah, em Bourdon. Em Lalue, todo o caminho foi de uma receptividade tremenda por parte da população que, aplaudindo, igualmente gritava: Abaixo a Minustah! Abaixo o cólera! Abaixo a Minustah – Cólera! Abaixo! Abaixo! Basta!

Na esquina superior da rua, no entanto, fortes contingentes da polícia nacional esperavam nosso protesto. De longe, começaram a lançar seus gases. Outra vez, o confronto com a polícia. Logo barricadas foram levantadas para bloquear a rua. No entanto, chegaram reforços policiais por todos os lados. Eles dispararam e ocorreu então uma dispersão total dos manifestantes.

No entanto, os manifestantes se reencontraram quatro esquinas depois e voltaram a se unir no Bwavèna, em frente à chancelaria. Mas outra vez os policiais dispararam, com gases e tiros, e novamente houve dispersão. No entanto, todos de reencontraram em outra esquina e voltaram ao Champs de Mars onde se acreditava que, em função do acampamento, as forças repressivas não lançariam gases e bombas.

Mas esquecemos que, durante a rebelião de fome de 2008, até dentro de hospitais e maternidades a Minustah havia jogado gases. Por isso, não tiveram nenhum problema em repetir seu crime perto e dentro do acampamento!

A maioria dos manifestantes entrou na faculdade de etnologia, que fica perto. Péssima ideia, pensaram alguns. Esta faculdade é muito acessível e pode ser cercada facilmente. Aliás, a polícia e a Minustah fizeram juntas este ataque, com muitos gases e tiros bloqueando as pessoas dentro da faculdade.

No entanto, utilizando a barreira visual do gás, as pessoas conseguiram escapar para dentro do acampamento. Os solados então atiraram gases de novo. Foi quando a população do acampamento se levantou, gritando e arrancando ramos com folhas das árvores próximas. Uma multidão! Outros chegavam de outras zonas urbanas mais longínquas ou de outros acampamentos.

A polícia, junto com a Minustah, recuou rapidamente, sob uma chuva de pedras. Então, surgiu das esquinas e becos escondidos uma multidão enorme que subiu a rua Lalue outra vez, e gritou para outros acampamentos: Fora Minustah! Minustah – cólera!
Durante toda a tarde, grande parte da população ficou mobilizada e até altas horas da noite se viam barricadas em chamas ou se ouviam gritos pela cidade. Não havia nenhum soldado da Minustah nem um policial por toda essa área.
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