Redação
O professor aposentado da USP, Francisco de Oliveira, com uma militância que se inicia ainda na década de 1950, é um dos mais reconhecidos intelectuais da esquerda brasileira. Junto com Valério Arcary, militante do PSTU e professor do Cefet e o Álvaro BiaPortal do PSTU – Qual sua avaliação do debate que abriu o seminário?
Chico de Oliveira – Os debates foram muito interessantes. Alguns, como o do Álvaro e do Valério, bastante ilustrativos, com muita informação para desmistificar as chamadas realizações do governo Lula. Minha fala foi mais simples, eu me ative mais ou menos ao caráter, digamos, de derrota que o governo Lula representa para os trabalhadores.
E qual o balanço que você faria do governo Lula?
O governo Lula tem um caráter de derrota para o movimento dos trabalhadores em geral e para as lutas de transformação do Brasil. Essa é a minha posição. Encaro o governo como uma regressão política até em relação ao Fernando Henrique. FHC era um governo que ia pela direita e nós estávamos contra. O governo Lula faz um compromisso com o capital, envolve a classe trabalhadora e suas instituições nesse compromisso e anula a potência do conflito. Eu acho isso um desastre e um marco histórico na trajetória da classe trabalhadora e da luta pelo socialismo. Todos nós agora lutamos contra essa opacidade. Como é que um governo pode ter um desempenho tão pífio e aparecer com a popularidade que aparece? Algumas ilações são tiradas a partir de certas conjunturas e dados que mostram esse caráter ilusório. A dificuldade é passar isso para o movimento social.
Diante dessa derrota que o governo representa, quais seriam os desafios da esquerda socialista, especificamente nessa campanha eleitoral?
Minha posição destoa de boa parte dos companheiros e camaradas. Eu não sou nada otimista e acho que agora é traçar uma estratégia de derrota.
No que se concretizaria isso?
Evidentemente tem que ir pra luta eleitoral, tem que fazer campanha, não ceder em nada, mas basicamente preparar a esquerda brasileira pra esse longo inverno. Estar sempre junto com o movimento social, entrosado com ele, e poder aproveitar as conjunturas históricas. A história sempre surpreende, felizmente. É possível ver linhas de força, mas em certos momentos irrompe uma novidade que o sistema não é capaz de controlar. Mas é uma esperança vaga, como você vê.