Desocupação no Pinheirinho Foto RDTEIXEIRA/ Vírus Planetário
CSP Conlutas

Central Sindical e Popular

A histórica desocupação do Pinheirinho completará 10 anos no dia 22 de janeiro de 2022 e a data será relembrada com um ato em São José dos Campos (SP). A manifestação será realizada no dia 22 de janeiro, sábado, às 10 horas, em frente ao terreno da antiga ocupação, na zona sul da cidade.

O PSTU e o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região (CSP-Conlutas), duas organizações que estiveram lado a lado com as famílias sem-teto desde o início da ocupação, já deram início aos preparativos para a manifestação, que contará com a participação de sindicatos, movimentos sociais, artistas e partidos.

Já começamos as discussões para realizar um ato unitário para marcar uma das maiores lutas por moradia no país e que sofreu um despejo violento e cruel há 10 anos. Esperamos a participação de todas e todos que viveram essa história”, afirma Toninho Ferreira, presidente do PSTU e advogado que atuou junto às famílias desde o início da ocupação, em 2004.

Segundo Toninho, o objetivo do ato é relembrar um dos fatos mais marcantes da história de São José e da luta moradia no Brasil, e reforçar que as reivindicações por reparação às famílias e pela desapropriação do terreno ainda seguem válidas.

Durante oito anos, as 1.800 famílias do Pinheirinho deram uma função social ao terreno de mais de 1 milhão de metros quadrados. Hoje, quem passa em frente, vê com tristeza que a área novamente está abandonada, sem função social e voltou a servir apenas para a especulação imobiliária de uma massa falida que não nunca pagou impostos”, denuncia Toninho.

Por isso, não vamos esquecer. Seguiremos lutando por reparação às famílias violentadas e reivindicando a desapropriação do terreno para que seja destinado à moradia popular”, afirmou Toninho.

Weller Gonçalves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região, destaca que é preciso relembrar os 10 anos da desocupação para que nunca mais se repita tamanha crueldade.

A desocupação do Pinheirinho teve repercussão internacional em razão da crueldade e da violência empregadas e das ilegalidades de todo o processo. E essa ação teve seus responsáveis, principalmente o PSDB, que governava o estado, com Geraldo Alckmin, e a cidade, com Eduardo Cury, e um setor do Judiciário, que agiram para favorecer Naji Nahas, um notório criminoso do colarinho branco. Não esqueceremos”, destaca Weller.

O que foi o Pinheirinho

A famosa Ocupação do Pinheirinho começou sua história em dezembro de 2003, quando 150 famílias ocuparam casas populares construídas pelo CDHU, no bairro Campo dos Alemães, em São José dos Campos (SP). A ocupação foi uma resposta à falta de uma política habitacional para pessoas de baixa renda por parte da Prefeitura, então comandada pelo PSDB. Muitas daquelas famílias estavam inscritas há anos na fila da casa própria, mas nunca haviam sido chamadas.

Em janeiro de 2004, acionada pela Prefeitura, a Polícia Militar fez uma violenta desocupação das casas do CDHU. Sem ter para onde ir, os sem-teto foram para uma área chamada “Campão”, também no Campo dos Alemães, e mais uma vez enfrentaram a repressão.

No dia 26 de fevereiro de 2004, os sem-teto seguiram para o Pinheirinho. A área de 1 milhão de metros quadrados estava abandonada há 30 anos. Após a ocupação, passou a ser reivindicada pela massa falida da empresa Selecta, do especulador Naji Nahas.

Ao longo de oito anos, a ocupação cresceu, se consolidou e se tornou um “bairro”, com casas, comércio, ruas, pequenas plantações, igrejas e, principalmente, moradores organizados e dispostos a lutar por suas casas. Eram cerca de 1.800 mil famílias.

No dia 22 de janeiro de 2012, a Tropa de Choque da PM, sob o comando do governador Geraldo Alckmin (PSDB), e a Guarda Civil, sob as ordens do prefeito Eduardo Cury, também do PSDB, invadiu a área e arrancou todas as famílias de suas casas, por meio de uma violência que chocou o país.

Uma megaoperação com milhares de policiais, cães, helicópteros, bombas de gás lacrimogêneo, gás pimenta, balas de borracha e também letais, foram usadas contra idosos, mulheres e crianças. Tudo foi destruído. Houve graves violações dos direitos humanos, inclusive com denúncias de estupro, em processos que correm na justiça até hoje.

Apesar da brutalidade, a luta não acabou ali. As famílias seguiram organizadas e lutando. Diante da repercussão da violenta desocupação e da resistência das famílias, os governos federal, estadual e municipal foram obrigados a garantir casas no bairro Putim para os ex-moradores do Pinheirinho. Em 2016, foi inaugurado o conjunto habitacional que passou a se chamar Pinheirinho dos Palmares.