Cerimônia lembrou o legado de luta e esperança deixado pelo histórico dirigente socialista

Dirceu Travesso, o ‘Didi’, faleceu na manhã desse 16 de setembro após cinco anos de luta contra o câncer

Na noite desta terça-feira, 16, foi realizado o ato de despedida do companheiro Dirceu Travesso, ou simplesmente “Didi”, que morreu na manhã do mesmo dia.  O ato foi realizado na quadra do Sindicato dos Bancários, palco das muitas lutas travadas por Dirceu ao longo dos 37 anos de sua atuação política.

A emoção tomou conta de todos os presentes. Para a maioria, as lágrimas foram inevitáveis. Mais de mil pessoas estiveram presentes, entre amigos e familiares de Dirceu, militantes do PSTU e da Liga Internacional dos Trabalhadores, vindos de várias regiões do país, dirigentes sindicais, do movimento estudantil e popular, além de representantes do PT, PCdoB, PSOL, PCB e da Consulta Popular. Centrais sindicais como CUT, Intersindical e CGTB também fizeram questão de enviar representantes.

“A maior demonstração do significado do Didi é isso aqui que está acontecendo agora. Temos aqui gente de vários lugares do país. Recebemos mensagens de vários países. Essa é a maior demonstração de que o Didi foi um cara que lutou a vida inteira por aquilo que acreditava. Mesmo depois de doente o Didi nunca deixou de militar. Ele vai continuar aqui dentro de cada um de nós”, disse com a voz embargada Cyro Garcia, presidente do PSTU-RJ que, ao lado de Ana Luiza, candidata ao Senado pelo PSTU em São Paulo, coordenou as falas durante o ato.  “Pra mim (Dirceu) era um irmão, um amigo, um camarada. Era aquela pessoa que eu procurava para sorrir e quando eu precisava chorar”, desabafou Ana.

Inúmeras mensagens de condolências foram recebidas. De sindicatos e organizações dos movimentos sociais de todo o país até de organizações políticas e sociais de todo o mundo. A homenagem destaca uma das facetas da militância de Dirceu: seu internacionalismo.

“O Didi era uma camarada imprescindível, daqueles que lutam a vida toda. Foi um construtor da CSP-Conlutas, do PSTU e da Liga Internacional dos Trabalhadores. Ele foi um baluarte daquilo que já está esquecido na memória da esquerda, que é o internacionalismo”, destacou Eduardo Almeida, que falou em nome da LIT no ato (assista à fala de Eduardo Almeida aqui).

Em seus últimos anos, Didi se dedicou quase que integralmente à construção da Rede Internacional Sindical de Solidariedade e Lutas, cujo objetivo é apoiar e organizar a luta dos trabalhadores pela sua emancipação nos quatro cantos do planeta.  Por isso, mesmo doente, não hesitava em cruzar continentes e oceanos para participar de reuniões e congressos. Foram lembradas muitas histórias nas quais Dirceu, mesmo hospitalizado, não deixou de se preocupar com a organização de viagens, encontros e debates políticos.  

Muito emocionados, os familiares de Didi acompanharam toda a homenagem. “Vocês trazem aqui que a passagem dele não foi uma passagem. Foi uma existência. E por aquilo que ele lutou e defendeu tá com vocês como bandeira”, disse Davi Travesso, irmão de Didi.


O histórico de lutas junto à classe operária também foi lembrado. “Conhecemos o Didi nas lutas operárias, sobretudo na época da ditadura contra o peleguismo. e nessa caminhada junto tínhamos uma luta conjunta muito maior, que era a superação do capitalismo e a construção do socialismo”, destacou Waldemar Rossi, da Pastoral Operária.

Já Oswaldo Coggioola, professor da USP, que falou em nome da Andes-SN, lembrou que Didi lutou até seu último minuto, como na greve da universidade travada por mais de 100, e que está terminando vitoriosa. “No início dessa greve, organizamos um ato da Praça da Sé e ele falou neste ato. Ou seja, ele é parte dessa vitória também”, disse. Já Magno, dirigente do sindicato dos funcionários da USP, ofereceu a vitória da greve “ao companheiro Didi”.

Bastante emocionado, Luiz Carlos Prates, o “Mancha”, dirigente metalúrgico de São José dos Campos, relatou os momentos mais pessoais vividos ao lado do amigo  Dirceu em mais de 30 anos de convívio. “O Didi enfrentou a doença, o câncer, se entregando 100% a um sonho, a militância, a transformação. Não tinha tempo ruim com Didi”, disse Mancha que ainda completou: “Se era tão inevitável, se todos sabiam que ia acontecer…por que tamanha dor? É que nesses anos de luta ele nos fez crer que era imortal. E, sim, o Didi é imortal”.

Gilberto Maringoni, candidato ao governo de São Paulo pela Frente de Esquerda, também recordou momentos pessoais vividos com Dirceu e que, apesar dos momentos duros da luta política, sempre cultivou amizade com ele. “Este foi um ano duro que nos levou o camarada Plínio (de Arruda Sampaio) e o Didi. Mas o Didi continua nessas histórias marcantes, nessa disputa e nesse exemplo que ele nos deu pra cada um”, falou em nome do PSOL.

Ao longo da homenagem também falaram representantes do PT, PCdoB, PCB e da Consulta Popular. Em todas as falas sempre uma boa recordação pessoal sobre Didi, ou o reconhecimento de sua luta ao lado dos trabalhadores.

Valério Arcary, em nome do PSTU, destacou a imensa coragem e força que marcavam o caráter de Dirceu. “O Didi era intenso, avassalador, homem de uma coragem inesgotável. Vocês ouviram os testemunhos. Homens assim são insubstituíveis. Essa é a dimensão da perda aqui. De onde vinha essa força, essa confiança e essa integridade. Vinha de dentro dele. Ele foi formado no interior de uma geração, mas a maior parte dessa geração se perdeu. Mas quase todos ficaram para trás. Choremos todas as nossas lágrimas, mas tenham certeza que a força do Didi repousava em algo imenso que maior do que o mundo. De que a nossa luta é legitima diante da história e de que a classe trabalhadora vencerá”.

O encerramento das homenagens ficou a cargo de Zé Maria, candidato à presidência pelo PSTU.  “Não há nada melhor que um ser humano possa fazer com a sua vida, aquilo que o Didi fez. Por isso ele é imprescindível. A tristeza pela perda é grande, mas a alegria por termos tido o privilégio de acompanhar parte de sua vida também é grande”, afirmou Zé Maria.

“O Didi morreu como viveu: lutando. E não foi só lutando contra a doença, mas contra o capitalismo, como um bom marxista que era. Vamos ter que cerrar os punhos, chorar nossa dor, mas a partir de amanha vamos continuar a nossa luta com mais força do que antes, porque essa a luta é a luta do Didi”, finalizou.

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