Ocupção do prédio do Incra em São Paulo

Setenta famílias de assentamento do interior de São Paulo correm o risco de serem despejadasHá sete anos, mediante determinação do próprio INCRA, famílias foram assentadas em uma área localizada entre os municípios de Americana e Cosmópolis, no interior de São Paulo. Este foi o início do assentamento Milton Santos que hoje conta com a participação de 70 famílias que trabalham na terra, plantando e produzindo. “Este ano, se a polícia não passar por cima, vou colher um caminhão de milho” , disse Pedro, um pequeno agricultor que trabalha nesta terra desde o início do assentamento.

A área pertencia ao Grupo Abdala que, devido a dívidas com o governo, passou a ser do INSS. Ano passado a família decidiu recorrer e, desde então, os assentados vem recebendo pressão do Governo Federal para deixarem a área. Com a finalidade de dar visibilidade ao caso e mostrar sua resistência, os assentados promoveram uma série de ações ao longo deste ano, como a ocupação do escritório da presidenta Dilma, em São Paulo, e outros protestos na cidade de Americana.

Na madrugada desta terça-feira, 14, o movimento ocupou prédio do INCRA, na cidade de São Paulo, como forma de pressionar o Governo Federal para que atenda a reivindicação de desapropriação da área por interesse social. A ocupação segue vitoriosa contando com o apoio e a presença de muitos grupos engajados pelo ideal da reforma Agrária em nosso país. Nós do PSTU estamos também nesta luta!

Na tarde desse dia 16, os assentados receberam a notificação de que teriam 15 dias para desocupar a área. “Meu filho nasceu e cresceu lá, vai ser muito triste pra gente ver o trator chegar e derrubar nossa casa e tudo aquilo que a gente construiu trabalhando” , disse Napoleão, outro assentado que também mora lá desde o primeiro ano do assentamento. O sentimento de tristeza dos assentados se mistura com a indignação com o descaso do Governo Federal em relação ao assentamento.

“Foi o Governo Federal que colocou a gente lá e é ele que agora tá colocando a gente na rua” , desabafou Pedro, que ainda relembrou que, muitas vezes, o governo prefere liberar milhões para o latifúndio, deixando à míngua muitos movimentos que expressam o conflito fundiário, como o Pinheirinho, o Movimento Sem–Teto e os Índios Guarani-Kaiowa. Inclusive, no trajeto até São Paulo, uma coincidência fez com que representantes de outro acampamento do interior de São Paulo que estavam indo até o INCRA devido ao recebimento de uma ameaça de reintegração de posse, encontrassem o povo do Milton Santos e viessem se somar nesta luta. “A humilhação com o povo pobre é grande”. Assim concluiu a nossa conversa, um idoso assentado do Milton Santos.

A única forma de garantir que as famílias não sejam despejadas da terra onde vivem e trabalham há sete anos é por meio de um decreto assinado pela presidenta Dilma autorizando a desapropriação da área por interesse social. Porém, até agora, nada de concreto foi feito. Como disse um dirigente do movimento durante a assembleia de hoje: “a experiência do Pinheirinho ensinou uma coisa pra gente: que não podemos acreditar em promessa. É importante fazer com que as autoridades se comprometam, mas não podemos depender delas”. Assim, a crítica situação do assentamento Milton Santos pode acabar tendo o mesmo fim de tantos outros movimentos de luta por terra e moradia deste país que, confiando no governo do PT, tiveram como resposta apenas a violência policial e a decepção política, como foi o caso do massacre do Pinheirinho no ano passado.

A importância desta luta nos mostra a necessidade de articulação entre as organizações comprometidas com a luta da classe trabalhadora em nosso país. Por isso, nós do PSTU fazemos um chamado às organizações para que, assim como nós, venham fortalecer a luta dos trabalhadores do Milton Santos!

Milton Santos, resistência e luta!

LEIA MAIS
Assentamento Milton Santos: de que lado Dilma ficará?