Agora vamos dar uma olhada nas posições, levando em conta que, igualmente a outros países, os políticos norte-americanos disfarçam suas verdadeiras opiniões durante as campanhas eleitorais. No caso de novas figuras democratas, como Obama, costuma se cumprir uma lei: localizam-se mais à esquerda nas internas do partido, direitizam-se na campanha nacional e completam a fundo esse giro ao chegar ao governo.

A) AS GUERRAS DO IRAQUE E AFEGANISTÃO
Quando era senador estadual, se opôs à invasão do Iraque, ponto que foi muito explorado em suas críticas a Hillary Clinton, que a apoiou. Em sua página, apresentou um “Obama’s Irak plan” que propõe a retirada das tropas norte-americanas em 16 meses, ao mesmo tempo em que se reforçaria sua presença no Afeganistão para ganhar essa guerra. No entanto, sua assessora de política exterior esclareceu que esse plano considerava “o melhor cenário possível” e que “será revisado” quando chegue à presidência.

B) ISRAEL E ORIENTE MÉDIO
Nesse tema, Obama respondeu claramente sim à necessidade de ganhar o apoio do “lobby pró-Israel” norte-americano, de grande peso político e financeiro, que o enxergava com desconfiança. Numa visita ao AIPAC (Comitê Israelo-Americano de relações públicas), expressou que existem “laços indestrutíveis entre Israel e EUA”. Agregou que “todos os que ameaçam Israel nos ameaçam” e prometeu lhe oferecer “todos os meios disponíveis para se defender de todas as ameaças vindas de Gaza ou de Teerã”. Afirmou que “a segurança de Israel é sacrossanta. Não é negociável”. Terminou expressando que “Jerusalém continuará como capital de Israel e deve permanecer sem divisões”. Depois do discurso, o embaixador israelense em Washington declarou que “o discurso que Barack Obama pronunciou perante os delegados da AIPAC foi muito importante e animador”.

C) A CRISE ECONÔMICA
Num discurso pronunciado em fevereiro passado, expressou que a atual recessão que vive o país e as conseqüências que trará para o povo do EUA não se deviam “a forças fora de nosso controle nem ao inevitável ciclo dos negócios”, senão às políticas impulsionadas pelo governo de Bush. Saber que medidas vai aplicar já é bem mais difícil porque o discurso só desenvolve as críticas a Bush.

Na seção “Economia” de seu portal, apresenta a seguinte definição: “Acho que o livre mercado foi o motor do grande progresso da América. Criou a prosperidade que é a inveja do mundo e levou a um nível de vida inédito na história. (…) Estamos juntos nisto. Desde os presidentes das companhias até os acionistas, desde os financistas até os trabalhadores das fábricas, todos temos interesse no sucesso do outro porque quanto mais prosperem os americanos, mais prosperará América”. Nada muito concreto, mas, que pode se esperar de quem considera que a base de tudo é o “livre mercado” e que os trabalhadores das fábricas “estão juntos nisto” com empresários, financistas e acionistas?

D) A QUESTÃO DOS IMIGRANTES
Obama participou em Chicago das mobilizações massivas dos imigrantes do 1º de Maio de 2006. Em 2008, escreveu: “Dois anos depois, nosso problema de imigração segue sem se resolver, e aqueles que querem mudança terão que votar por ela em novembro. Por isso, hoje eu convido aqueles que marcham pela mudança, a que trabalhem registrando votos nos meses seguintes. Seu voto é sua decisão”. Em outras palavras, nada de seguir a luta, a solução é que “me elejam” como presidente. É difícil saber como poderão seguir esse conselho os 12 milhões de imigrante ilegais sem nenhum direito político.

Em uma mesma carta, suas propostas a esse respeito são totalmente difusas: “Quero outra vez expressar meu compromisso com a reforma da imigração integral e que farei tudo o que possa para trazer ordem e compaixão a um sistema que hoje está quebrado”. No entanto, é muito provável que, caso ganhe, aplique a mesma política que propôs seu mentor, o senador Edward Kennedy, no projeto de lei que leva seu nome (e que estava sendo acordado com o governo Bush). Outra lei que busca dividir os imigrantes ilegais. Por um lado, aqueles que consigam demonstrar que viveram no EUA por mais de cinco anos poderão aspirar a obter a residência permanente, depois de um larguísimo processo de permissões temporárias com condições muito difíceis de cumprir. “Ao mesmo tempo, isso significa que os outros 5 milhões de sem-papéis serão, de fato, expulsos do país, ainda que possam solicitar um visto legal desde seus países, para poder retornar aos EUA. Como a lei propõe uma quota anual de 325 mil vistos provisórios de trabalho, a maioria, de fato, jamais poderá voltar legalmente” .

E) SOBRE CUBA
Igualmente ao caso de Israel, também Obama buscou apoios à direita. Neste caso, na Fundação Nacional Cubano-Americana, em Miami, um dos setores mais reacionários da burguesia cubana exilada nos EUA depois da revolução de 1959. Em seu discurso, reiterou a velha fórmula de aliança com essa burguesia para que a colonização norte-americana volte à ilha e a manutenção do embargo comercial: “Encontramos-nos aqui em nosso compromisso inquebrantável com a liberdade. E é correto que o reafirmemos aqui em Miami (…) juntos, vamos defender a causa da liberdade em Cuba. (…) Não existem melhores embaixadores da liberdade que vocês cubano-americanos. (…) Vou manter o embargo. Ele nos confere o instrumento necessário para confrontar o regime (…) É assim que se podem promover transformações reais em Cuba: através da diplomacia forte, inteligente e baseada em princípios”.

F) A QUESTÃO RACIAL
É um tema muito importante, já que o “voto negro” foi a base mais sólida de sua vitória nas internas democratas e o será também caso ganhe as eleições presidenciais. Seguramente essa base eleitoral tem muitas esperanças de que um presidente negro a ajude a superar a histórica situação de opressão e discriminação que sofre. No entanto, ao longo de sua carreira política, Obama sempre tentou evitar a “questão racial”. Quando teve que tocar no tema, relativizou seu peso e reivindicou que a “sociedade americana” tinha avançado e o estava superando. Por exemplo, num discurso na Convenção Nacional Democrata de 2004, afirmou: “Não há uma América liberal e uma América conservadora, senão os Estados Unidos da América. Não há uma América negra e uma América branca, uma América latina e uma asiática, senão os Estados Unidos da América” . Mais recentemente, para tomar distância do pastor de sua igreja que tinha dito que o racismo era um componente estrutural e histórico da sociedade norte-americana, declarou: “O profundo erro do reverendo Wright não foi que falasse do racismo em nossa sociedade, senão que falasse como se nossa sociedade fosse estática, como se não se tivesse produzido nenhum avanço, como se este país (…) ainda estivesse irrevogavelmente vinculado a um passado trágico” . Pensarão o mesmo os milhões de negros oprimidos que votaram por ele ou os imigrantes latinos ilegais?

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