As festividades organizadas para celebrar o aniversário de S. Paulo, neste dia 25, viraram palco para que milhares cerca de 3 mil pessoas expressassem sua indignação e revolta contra a onda de violentos ataques que vêm sendo cometidos contra o povo pobre e os movimentos sociais, da cidade e do estado. A luta contra a criminosa e sanguinária reintegração de posse do Pinheirinho foi o principal mote do protesto. Mas não o único.

A compreensão de que todos estes ataques são expressões de uma mesma política de “higienização” sócio-racial e criminalização da pobreza e dos movimentos que se organizam para combatê-las, também levou às ruas a denúncia do que vem ocorrendo na região da “cracolândia”, na Favela do Moinho e nos bairros da periferia da cidade.

Em mais uma demonstração de truculência, a PM tentou dispersar a manifestação com cassetetes, bombas e gás de pimenta. Mas, não só não conseguiu impedir o protesto, como instigou, ainda mais, as organizações e militantes que convocaram o ato a intensificarem as atividades, como foi anunciado pelo “Comitê de Solidariedade ao Pinheirinho”, no final do ato (veja abaixo).

“Crianças morrendo, governo se escondendo”
Os protestos tiveram início às 9h da manhã, na Catedral da Sé, onde estava sendo celebrada uma missa em homenagem à cidade. Dentro da igreja estavam alguns dos principais responsáveis pelas políticas fascistóides que estão em curso. Além do odiado prefeito Gilberto Kassab (PSD), também estavam Andrea Matarazzo (PSDB) e Gabriel Chalita (PMDB). O covarde do governador “Generaldo” Alckmin (PSDB) nem sequer deu as caras e mandou seu vice, Guilherme Afif, do mesmo partido do prefeito.

Do lado de fora, o que se via eram trabalhadores e jovens convocados pelas centrais sindicais, por partidos políticos de esquerda e pelas entidades dos movimentos estudantil e popular, de negros e negras, de mulheres, de LGBT´s, dos movimentos sem-teto e sem-terra, dos trabalhadores da cultura, ou daqueles que lutam em defesa da população de rua.

Uma onda de comoção tomou os participantes com a chegada de uma comissão com cerca de dez de moradores do Pinheirinho. Falando em nome do grupo, o companheiro Samuel, que também é militante do PSTU, saudou a manifestação: “Em nome dos moradores do Pinheirinho, quero agradecer, de coração, a todas as entidades, companheiras e companheiros, que vieram a este ato. O que está sendo feito com a gente, lá, é um crime muito maior do que vocês estão vendo na televisão. Tem gente ferida, gente sumida e, certamente, gente morta. A prefeitura, a imprensa e até os hospitais estão escondendo a verdade. Derrubaram nossas casas, destruíram nossos sonhos, bateram na nossa gente, mas nós estamos aqui para mostrar que ainda estamos de pé e com a ajuda de lutas como esta nós vamos reerguer o Pinheirinho.

Ao lado de Samuel, outros moradores não se cansavam em relatar a calamidade que se abateu sobre eles. Rafael contou como sua filha, de 10 meses, sofreu, inalando gás e apavorada com as bombas que foram lançadas na igreja da comunidade, onde mulheres e crianças buscaram refúgio e proteção durante a invasão policial. Já Anderson dizia que “pior do que as cenas de horror daquela madrugada, só mesmo o que estamos vendo na igreja onde nosso povo tá jogado sem nada, sem comida, sem água, sem colchão, sem uma muda de roupa. Mas ainda com esperança”.

“Fascista, fascistas, não passarão”

Foi entoando esta palavra de ordem que os manifestantes “abraçaram” a Catedral. A manifestação pacífica, que tinha como objetivo garantir que as “autoridades” ouvissem o clamor da população, foi brutalmente atacada pela PM para garantir que Kassab, como um rato que é, fugisse pelo fundo da igreja. O que ele só conseguiu, diga-se de passagem, respirando o gás disparado pelos seus próprios capachos e com seu finíssimo terno coberto de ovos, atirados por alguns manifestantes.

Apesar da confusão causada pela polícia e dos muitos que se feriram durante a ação, os manifestantes deram uma demonstração de que ninguém mais está disposto a se curvar diante dos desmandos desta corja e se reagruparam para organizar uma passeata até a prefeitura, onde Kassab havia programado uma homenagem a Alckmin e Dilma.

“Oh, Alckmin, seu matador, assassinado o povo trabalhador”

Durante o percurso, enquanto os oradores se revezavam ao microfone, as palavras de ordem que ecoavam pelas ruas do centro expressavam não só a indignação generalizada, mas também a enorme unidade e a corrente de solidariedade que se formou em torno do Pinheirinho.

Os movimentos negros lembravam que os ataques ao Pinheirinho, ao Moinho e à periferia tem tudo a ver com os vários episódios de racismo que aconteceram recentemente em S. Paulo ao cantar: “São Paulo, estado racista, governador assassino e fascista”. E, a todo momento, os manifestantes lembravam a todos que está por trás das bombas, balas e demais crimes sociais que estão sendo cometidos: “Oh Pinheirinho, estou com você, contra o massacre do PSDB”.

Além disso, foram diversos os manifestantes que lembraram que, lamentavelmente, a tragédia do Pinheirinho poderia ter sido evitada. Se Dilma e o governo do PT realmente tivessem compromisso com os trabalhadores, como afirmam ter, hoje, S. José não teria 9 mil pessoas com seus bens e vidas aos pedaços.

“Oh, oh, Dilma, expropriar…pro Pinheirinho ter casa pra morar”
Falando já na frente da prefeitura, Camila Lisboa, do “Movimento Mulheres em Luta” foi uma das que exigiu que Dilma intervenha para por fim a este absurdo: “O Pinheirinho nos ensinou mais uma vez que a luta feminista é também um a luta de classes. Foi uma mulher, a juíza Márcia, que viabilizou que esta tragédia ocorresse. E, lamentavelmente, é uma mulher, na presidência, que, até o momento, tem se omitido, favorecendo evidentemente os interesses do especulador Naji Nahas e acobertando os crimes do governo de São Paulo”, disse Camila.

“Por isso”, continuou Camila, “é lamentável que Dilma, mais uma vez, tenha se escondido e não esteja aqui para nos ouvir. E nós só temos uma coisa pra dizer pra ela: Dilma, você pode por um fim a esta tragédia. Basta uma canetada para salvar o sonho das mulheres do Pinheirinho. E nós vamos continuar nas ruas até que você faça isso”

“Que luta não está sozinho, somos todos Pinheirinho!”
A continuidade da luta está garantida pelo calendário de atividades que está sendo montado pelo “Comitê de Solidariedade ao Pinheirinho”. Além das atividades já divulgadas, ao final do ato, Luis Carlos Prates, o Mancha, do Sindicato dos Metalúrgicos de S. Joséo dos Campos, divulgou a convocação de um grande ato nacional, no dia 2 de fevereiro, em S. José dos Campos.

Segundo o dirigente metalúrgico, “é preciso levar milhares a S. José para denunciar e por fim à situação de calamidade pública que reina na cidade. Pessoas estão sendo tratadas pior que animais. A igreja e toda a região ao redor dela parece um campo de concentração. Pessoas só podem circular usando u¬mas pulserinhas, mas quem é visto nas ruas com a tal pulserinha logo vira alvo de violência da polícia, que está espalhada por todos os lados.

Ainda pior é a dor dos muitos que ainda não localizaram amigos e parentes. O mundo precisa saber disto. Há mortos. Há desaparecidos. E nós devemos a eles, e àqueles que ainda resistem, fazer todo o esforço que for preciso para virar