Beijaço na capital pernambucana contra a homofobia

Praça do Arsenal no Recife Antigo se transforma na praça da luta contra a homofobiaA Praça do Arsenal virou palco da luta contra homofobia, neste domingo, 31 de julho. Crianças, jovens e adultos responderam ao chamado da ANEL/PE (Assembleia Nacional dos Estudantes Livre) e participaram da manifestação.

O ato iniciou com uma oficina de cartazes. “As pessoas simplesmente pegaram os pilotos e começaram a escrever o que sentiam naquele momento” , explica Janaína Oliveira, estudante de Serviço Social da UFPE e uma das representantes da ANEL no estado. “Foi muito bonito. As frases elaboradas foram muito significativas” , completa a estudante.

“O amor é livre, é meu direito. Quero amar sem preconceito”, “Saia do armário e vá aonde quiser”, “Lésbicas pelo fim da violência contra a mulher”, “Pernambuco não aguenta mais a homofobia”, “Eu tenho valor do jeito que sou”, são exemplos das frases formuladas nos painéis.

As intervenções foram abertas por volta das 18h, momento em que algumas entidades presentes puderam manifestar seu apoio, como a UNE, o Movimento Leões do Norte, a CSP-Conlutas e o PSTU. Em seguida, os membros da ANEL fizeram uma apresentação da entidade e explicaram o motivo da escolha da praça para esta manifestação.

Após as falas, uma contagem regressiva organizou o momento mais esperado da atividade: o protesto contra a homofobia com um beijaço. “Nem a presença da imprensa intimidou as pessoas, como aconteceu em outros beijaços. Foi muito emocionante ver os casais que se amam podendo protestar com um gesto de amor“, declara Janaina.

Além dos beijos como forma de protesto, a atividade também denunciou alguns casos homofóbicos que tiveram repercussão nacional, como por exemplo, da atriz Miriam Rios, quando afirmou que não contrataria um homossexual para não influenciar negativamente suas crianças e os ataques homofóbicos de Bolsonaro. O ato também exigiu que a presidente Dilma Roussef retire o veto do Kit anti-homofobia e defendeu o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/2006, que propõe a criminalização da homofobia.

Outras atividades estão previstas ainda para agosto. Segundo Janaina, o beijaço deste domingo abriu várias perspectivas de atos unificados com as outras entidades. “O Dia da visibilidade lésbica está chegando e vamos construir novamente um grande ato em Recife. A luta não termina hoje, apenas começamos” , finaliza.

Por que a ANEL escolheu a Praça do Arsenal?
Membros da Anel/PE que frequentam a praça viram a grande movimentação da juventude homossexual no local, mas perceberam que ninguém fazia uma discussão sobre opressão e homofobia. Foi assim que tudo começou. De acordo com Janaina, na semana anterior ao beijaço, foi realizada uma panfletagem convidando todos a participarem da manifestação. “Essa panfletagem deu o tom da atividade de hoje que não foi apenas um beijaço, mas uma atividade muito politizada, onde as pessoas puderam se expressar e colocar para fora todas as suas angústias” , afirma Janaina. A Praça do Arsenal é um espaço frequentado pela juventude que “não pode se expressar nas escolas, nos bairros e muitas vezes tem que se esconder da própria família” , afirma Raphaela Carvalho da juventude do PSTU.

Depoimentos reafirmam a importância da luta contra a homofobia
Mizael Filho, do movimento Hip-hop, compareceu ao ato para prestar solidariedade aos homossexuais. “Tem coisa que acontece no mundo e as pessoas fecham os olhos.Não tenho nada contra o brega, mas tem músicas que rolam nas rádios que é pedofilia pura e ninguém discrimina, e os gays e lésbicas querem apenas viver do jeito deles e as pessoas ficam com preconceito. Isso é errado” , declara Mizael.

A estudante secundarista Ana Luiza, que constrói a ANEL em Pernambuco, avaliou o ato como muito positivo, pois foi uma oportunidade de esclarecer as pessoas sobre a necessidade da aprovação da Lei que criminaliza a homofobia. Em relação ao veto da presidente Dilma Roussef ao Kit anti-homofobia, Ana desaprovou completamente. “Acho que esse kit é muito necessário nas escolas, precisa com urgência, pois a questão do bullying é diária” , opina Ana.

Ednaldo da Silva, estudante secundarista, avalia que a iniciativa do beijaço organizado pela ANEL foi muito importante. “A ANEL deu uma contribuição muito boa à causa, e também recebeu uma contribuição dessas pessoas lindas que estão aqui, em prol de uma luta justa pela consciência pura, no sentido das pessoas saberem conviver com as diferenças” , afirma Ednaldo. “Eu como homossexual tenho direito de andar nas ruas da forma que eu quiser e me expor como eu quiser. Somos todos seres humanos” , declara.

Na avaliação de Cristina Isabel, militante da CSP-Conlutas, a atividade foi muito rica e criativa. “Teve música e dança, e mexeu com muitos estímulos para sensibilizar a luta contra a homofobia” , informa. Cristina também declarou que as denúncias apresentadas no beijaço, não devem estar restritas ao ato. “As denúncias devem permear o dia a dia das entidades de classe” , explica.

PSTU na luta contra a homofobia
O PSTU participou ativamente desta atividade, desde sua convocação nas panfletagens e nas redes sociais até o final do beijaço. Para Raphaela Carvalho, da juventude do PSTU, após essa atividade, a Praça do Arsenal está marcada como a praça da luta contra homofobia. “O que reivindicamos é que os homossexuais possam frequentar qualquer espaço, não só as praças, boates ou guetos, mas possam andar livremente e amar livremente. Vamos continuar insistindo e perturbando seja lá quem for defendendo a liberdade de amar, pois consideramos justa toda forma de amor” , afirma Raphaela.

É possível um mundo sem homofobia!
O beijaço da Praça do Arsenal mostrou uma lição. Existem várias pessoas que são vítimas de preconceito e agora não querem mais se calar: estão na luta contra a homofobia. Para o PSTU, isso é parte de um combate para construir um novo mundo. O preconceito e a discriminação devem ser varridos das nossas vidas. Junto a isso precisamos lutar contra a exploração que sofrem os trabalhadores e trabalhadoras pela burguesia, única classe que lucra com tudo isso. Que os beijos possam acontecer seja aonde for, com ou sem protesto. Sem opressão, preconceito nem exploração… Vamos construir o socialismo!