O surreal episódio do “aumentão” no Congresso, por si só um fato escandaloso, teve um elemento que conferiu ao caso um quê a mais de grotesco: o grande defensor do aumento foi ninguém menos que Aldo Rebelo, presidente da Câmara dos Deputados e dirigente do PCdoB.

Aldo superou em muito o ex-presidente da Casa, Severino Cavalcanti. De cabeça erguida, enfrentou a gritaria geral para dobrar os salários dos parlamentares. Pouco antes da eleição da nova direção da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados e do Senado, o comunista mandou qualquer resquício de moral às favas e praticou o mais rasteiro corporativismo e fisiologismo que se tem notícia na política recente.

O deputado pode ter garantido com isso sua reeleição para a presidência da Câmara, visto que se tornou o novo rei do “baixo clero”, mas sua imagem e reputação foram jogadas na lama. Rebelo articulou pessoalmente o aumento com Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado, e os líderes dos partidos. Com a indignação geral desencadeada pela decisão, Aldo justificou o apoio à medida afirmando que se tratava de uma decisão das mesas e dos líderes! Foi preciso partir para uma tautologia para justificar o injustificável!

Após ter papel decisivo na pizza que salvou a grande maioria dos mensaleiros e sanguessugas, Rebelo comanda o episódio que deve entrar para a história como exemplo de cinismo e deboche dos parlamentares frente à população. No momento em que o IBGE divulga uma queda de 12,7% do rendimento do trabalhador brasileiro nos últimos 10 anos, os picaretas do Congresso desejavam ter 91% de aumento, passando a receber ao mês, contando todos os benefícios, cerca de R$ 114 mil!

Rebelo se contorceu para argumentar que os recursos provenientes do aumento viriam de cortes no orçamento da própria Câmara. Em vão. A medida custaria R$ 1,8 bilhão, contando com o efeito em cascata que o aumento provocaria nos Estados e municípios. De acordo com o site Contas Abertas, só esse valor representa o total de despesas dos ministérios da Cultura, Transporte e Turismo.

PCdoB na lama
O escândalo, porém, longe de ser uma tresloucada política individual de Rebelo, foi defendido oficialmente pelo PCdoB. No dia 19 de dezembro o partido divulgou uma nota tardia em que defende o “aumentão”. A nota, assinada pela Comissão Política Nacional do partido, reivindica a equiparação salarial dos deputados com os ministros do STF e ataca uma suposta “‘corrosiva investida´ da mídia e de setores conservadores contra o Congresso Nacional”. É isso mesmo, você não leu errado. Reeditando a tese da “conspiração das elites contra Lula”, o PCdoB agora quer nos fazer crer que a onda de indignação que varreu o país foi obra de setores conservadores contra o Congresso!

Incrível é pouco para descrever tamanha cara-de-pau. É chamar de imbecil aos trabalhadores a que se pretende ser vanguarda, subestimar demasiadamente a consciência da população.

Longe de ser um fato isolado, o PCdoB caminha de forma inexorável à mais completa degeneração e à inversão de sua outrora imagem de esquerda. É só ver Haroldo Lima, presidente da Agência Nacional do Petróleo e dirigente do partido. Ele é capaz do feito de defender, ao mesmo tempo, o leilão das reservas de petróleo e a atuação no país de petroleiras estrangeiras.

Realmente, um caminho que muitos militantes honestos, que ainda acreditam no socialismo e permanecem na base do partido atuando no movimento social ou sindical, não merecem. Essa sim é uma verdadeira punhalada nas costas.