Neste final de semana dois casos de homofobia trouxeram à tona novamente o debate sobre a violência que a população GLBT sofre cotidianamente no país. Uma gangue de jovens da classe média em São Paulo atacou três homossexuais na avenida Paulista e um militar disparou um tiro de fuzil contra um gay em Copacabana, ao final da parada do orgulho GLBT carioca. Após o festival de capitulações de Serra e Dilma nestas eleições, os setores mais reacionários e preconceituosos da sociedade mostram sua cara.

Os casos ocorridos neste final de semana são muito emblemáticos do nível de barbárie que se encontra nossa sociedade. Em São Paulo, uma gangue de filhos da classe média agrediu covardemente três homossexuais com socos chutes e golpes com lâmpadas fluorescentes. Em geral, os atentados como gays e lésbicas são cometidos covardemente por grupos que sempre atacam em maioria. Bandos de Skinheads, carecas, badboys da classe media e outros setores fascistas que praticam violência e assassinatos por esporte tem agido com mais freqüência nos últimos anos. No Rio de Janeiro, o que chama a atenção foi o fato de um jovem gay ter sido baleado por um militar logo após a parada do orgulho GLBT da cidade. O jovem já não sofre risco de vida, mas os militares negam a responsabilidade pelo atentado.
Os dois casos colocam em pauta dois problemas graves. De um lado, os rumos das paradas do orgulho GLBT precisam ser radicalmente repensados. As paradas surgiram como resposta à violência, inclusive as agressões policiais, a que sofrem os homossexuais. De um dia de luta e afirmação se transformaram em carnavais fora de época. Hoje são um grande negócio, gerando lucros imensos para empresários do turismo, comércio e outros tantos ramos de atuação da burguesia. Na mesma proporção em que foram se mercantilizando, perderam o conteúdo político e a combatividade. Ao invés de fortalecerem a luta GLBT, desarmam o movimento e deixam expostos os homossexuais à violência. O cúmulo disso é o caso do RJ, que relembra muito o ocorrido há um ano na parada de São Paulo onde uma bomba explodiu e feriu mais de 20 pessoas ao final da atividade.

Se os GLBTs estão mostrando mais a cara nas ruas com paradas imensas e maior visibilidade, estão menos organizados e preparados para se defenderem da reação homofóbica que vem crescendo.

Segundo o Grupo Gay da Bahia – GGB – um homossexual é assassinado a cada dois dias no Brasil, o que coloca nosso país como campeão mundial de violência homofóbica. O grupo carioca Arco-íris relata que nas favelas do Rio a violência também tem crescido, inclusive por parte de traficantes e das milícias para-militares. O dados e os recentes fatos sugerem uma onda de violência que atesta a reação fascista dos setores mais conservadores da sociedade.
Exemplo disso foi a recente declaração da Universidade Mackenzie, de São Paulo, ligada à igreja presbiteriana. Em nota publica a Universidade declarou seu total desacordo com o PL-122, que, se aprovado, irá criminalizar atos de homofobia. Em outras palavras, a administração da universidade reivindica, assim como amplos setores evangélicos e católicos, o direito legal de discriminar homossexuais.

Contudo, estes fatos são mais alarmantes se forem analisados sob a luz dos acontecimentos políticos. Após dois mandatos do governo Lula, nenhuma lei federal em favor dos GLBTs foi aprovada. O governo acenou com o projeto Brasil sem Homofobia e a Conferência Nacional GLBT e ganhou o apoio movimento, porém nada saiu do papel.

Durante as eleições foi possível observar toda a reação conservadora contra o aborto, o casamento gay e o projeto de lei que criminaliza a homofobia (PL-122). Dilma Roussef deu um show de capitulação aos líderes religiosos em troca de votos. Agora, os conservadores cobram a fatura. O debate político foi tão rebaixado que serviu para encorajar líderes fundamentalistas como o pastor Silas Malafaia (RJ) que disse que daqui para a frente todo político terá de passar pelo crivo dos evangélicos. Enquanto isso, a maior parte dos grupos do movimento GLBT se calou frente às capitulações de Dilma e Lula. O resultado começa a aparecer agora.

É preciso fazer uma forte denúncia da reação conservadora e fascistóide que começa a aparecer na sociedade. Além disso, denunciar a cumplicidade de todos aqueles que foram coniventes com as capitulações de Dilma nestas eleições. Gays e lésbicas precisam retomar suas bandeiras de luta e sua organização em movimentos independentes do governo e do empresariado. Queremos a criminalização da homofobia, união civil e igualdade de direitos já! Queremos o fim da carnavalização de nossas lutas! Queremos o apoio de todos os setores que sofrem com a opressão e a exploração nesta sociedade!

São Paulo, 16 de novembro de 2010

Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
Secretaria Nacional GLBT
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