Esta semana, Israel voltou a atacar os territórios palestinos. Bombardeios aéreos e incursões terrestres contra a população civil deixaram a Palestina em chamas. Uma usina elétrica foi atingida e praticamente toda a Faixa de Gaza está às escuras. A operação foi de tal monta que 64 membros do Hamas, partido que hoje ocupa o governo da ANP (Autoridade Nacional Palestina), entre eles oito ministros e 23 deputados, acabaram sendo presos por Israel.

O objetivo declarado do ataque era resgatar um soldado israelense que estava em poder de um grupo palestino, que pedia em troca a libertação de mil presos palestinos. Era o pretexto que Israel queria para fazer aquilo que vem ensaiando desde janeiro deste ano, quando o Hamas venceu as eleições e assumiu o governo da ANP.

“Israel não negocia com terroristas”
Essa foi a declaração do governo israelense. A questão aqui é saber quem é o terrorista de fato. Porque, desde 1948, quando foi fundado sobre terras usurpadas dos palestinos, o Estado de Israel tem avançado decididamente para tornar-se um Estado terrorista, a serviço de uma verdadeira limpeza étnica contra o povo palestino. Já se vão 58 anos de massacres constantes, violações dos direitos humanos, prepotência, perseguições contra o povo palestino por um Estado que sabe muito bem usar o drama do povo judeu para legislar em causa própria. Enclave dos Estados Unidos no Oriente Médio, Israel vem acumulando um arsenal bélico imenso. Já tem sete centros nucleares e 400 bombas atômicas, milhões de soldados treinados pelos americanos e prisões de segurança máxima, abarrotadas de palestinos, a maioria combatentes das Intifadas.

Com todo esse arsenal, ao invés de libertar os presos e resgatar o soldado, Israel preferiu despejar todo o seu ódio e seu poderio militar sobre Gaza e Cisjordânia e, em troca de uma vida, abriu fogo contra milhões de pessoas.

,b>Fazer o Hamas ajoelhar-se
Desde que o Hamas chegou ao governo da ANP, em janeiro, Israel não deixou um minuto sequer de atacar os palestinos e demonstrar aberta e militarmente sua disposição em minar a sua autoridade. O premiê palestino, Ismail Haniyeh, do Hamas, disse que os ataques são uma forma de pressão de Israel para derrubar o seu governo.

Ver o Hamas de joelhos, mas não diante de Alá e sim de outro deus, o deus Israel. É isso que quer a “democracia” sionista-imperialista. Desde janeiro os sionistas buscavam uma desculpa para voltar a atacar os territórios palestinos e forçar o Hamas a enquadrar-se e capitular. Isso porque, apesar de se mostrar disposto a negociar uma trégua, o Hamas ainda mantém em seu programa o não reconhecimento do Estado de Israel, contra a Al Fatah, apoiada pelos israelenses e o imperialismo.

Essa é a “democracia” de Israel e Estados Unidos: só respeitam os resultados eleitorais se o vencedor é um aliado.

Estes ataques violentos contra Gaza e Cisjordânia, numa reação totalmente desproporcional em relação ao motivo alegado – libertar o soldado, demonstram a política que o Estado sionista está levando adiante, com o apoio do imperialismo (a única reação de Condoleezza Rice e os ministros das Relações Exteriores do G8, grupo formado pelos sete países mais ricos e a Rússia, foi divulgar uma nota conjunta expressando “preocupação” com a prisão dos membros do Hamas e pedindo “moderação”a Israel). Por mais que o Hamas se mostre disposto a negociar, e até mesmo aceitar a existência de Israel, este não pode admitir sentar-se à mesa com uma organização que conserve um mínimo sequer de independência e, mesmo de forma distorcida, expresse a vontade do povo palestino de ter seu território de volta.

Por que os palestinos votaram no Hamas
Foi pensando nisso que os palestinos votaram no Hamas, porque ainda mantém em seu programa a luta pelo fim do Estado de Israel. A vitória eleitoral do Hamas foi uma espécie de plebiscito contra o governo de Mahmud Abbas, na ANP, e sua organização política, a Al Fatah. Desde os tempos de Arafat, a ANP é dominada por uma burguesia entreguista e corrupta, que embolsa a ajuda financeira enviada pela Europa, Estados Unidos e países árabes para os palestinos.

Somam-se a isso, as péssimas condições de vida do povo palestino, vivendo como párias num território ocupado por Israel e sofrendo uma repressão constante e sistemática, que alimento o ódio e o desejo de vingança. O voto no Hamas expressou tudo isso, além do protesto contra os Acordos de Oslo, assinados em 1993, numa clara capitulação de Arafat diante do imperialismo norte-americano e europeu.

Inicialmente, as massas palestinas deram seu apoio ao acordo, pensando que obteriam paz e uma melhoria em suas condições de vida. Mas isso não aconteceu. De concreto, só foram feitas algumas pequenas concessões aos dirigentes palestinos que, em troca, ficaram confinados em ínfimos territórios, sob o controle militar de Israel.

De fato, a ANP administra zonas isoladas similares aos bantustões da África do Sul, durante a época do apartheid.

O voto no Hamas representou uma esperança para o povo palestino. Mas a realidade é que o Hamas já havia aderido à trégua entre o governo da Al Fatah e Israel em 2004.

Ainda não tirou de seu programa a luta contra Israel e não entregou as armas, mas “congelou” essa luta e se limitou a administrar escolas e hospitais, construídos com fundos de ONG’s, do governo do Irã e de organismos dos países imperialistas.

A política do Hamas
O projeto do Hamas é a criação de um Estado islâmico. Essa posição e seu caráter burguês poderiam levar o Hamas a ceder às pressões e aceitar, de fato, os Acordos de Oslo para ter, pelo menos, um pequeno Estado. Recentemente, a imprensa informou a assinatura de um acordo entre Abbas e Ismail Haniyeh, que considerou positiva a posição da União Européia de retomar as doações financeiras, mesmo que estas sejam remetidas às mãos de Abbas e Haniyeh e só pediu que “se leve em conta a existência de seu governo”. Ao mesmo tempo, disse que estava disposto a negociar e estender a trégua com Israel ‘por 20 anos’.

O Hamas precisa denunciar a criminosa ocupação israelense, bem como os recentes bombardeios, e exigir a imediata devolução de todos os territórios ocupados por Israel, explicando claramente às massas palestinas que os Acordos de Oslo só servem para favorecer os planos imperialistas e sionistas. Se continuar insistindo na negociação com Israel, como tem feito até agora, o Hamas será responsável por uma nova frustração das aspirações do povo palestino.

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