Como sabemos, todo grande evento social é atravessado pelas contradições da sociedade capitalista, e não poderia ser diferente com o futebol. O futebol sempre foi marcado pelo contraste entre a origem operária dos jogadores e a origem elitista dos dirigentes. A essa contradição, soma-se o uso do esporte por governantes, para influenciar e controlar a população.

Organizado na Inglaterra, no final do século XIX, o futebol foi se espalhando pelo mundo, acompanhando o imperialismo comercial inglês. Era praticado pelos marinheiros e, a cada porto, surgiam novos admiradores do esporte, que foram formando clubes e ligas em comunidades de europeus.

Passada esta fase, segundo o escritor uruguaio Eduardo Galeano em seu livro “Futebol ao Sol e à Sombra”, “quando o futebol deixou de ser coisa de ingleses e de ricos, (…) nasceram os primeiros clubes populares, organizados nas oficinas das estradas de ferro e nos estaleiros dos portos”.

Também no Brasil a afirmação do esporte passou por sua inserção nas camadas populares, depois de um breve período restrito às famílias ricas da zona sul carioca.

Por conta de sua popularização, o futebol volta e meia é utilizado por governos como instrumento de alienação ou de propaganda. É clássico o exemplo das copas de 1934 e 1938, como peças de exaltação do regime fascista de Mussolini.

Na Copa de 34, os jogadores italianos, tratados como soldados, eram obrigados a perfilar e fazer a saudação fascista com os braços erguidos para frente em homenagem ao Duce (Mussolini), que assistia a todos os jogos na tribuna de honra, com seu ministério. Além disso, o ditador mandava cartões ameaçadores aos atletas da Azzurra: “Vencer ou morrer!”. Na Copa de 38, a imprensa italiana, após a vitória sobre o Brasil, comemorou “o triunfo da inteligência itálica contra a força bruta dos negros”.

Em 1978, foi a vez da sanguinária ditadura argentina esconder a repressão contra os opositores do regime. A declaração do presidente da Fifa, o brasileiro João Havelange, de que “finalmente o mundo pôde ver a verdadeira imagem da Argentina” e de que “estava tudo em ordem” foi utilizada como um atestado de bom comportamento pelos ditadores. A Argentina acabou sendo a campeã em meio à roubalheira, como a famosa goleada nos peruanos.

No Brasil, por ser o “país do futebol”, talvez como nenhum outro, o aproveitamento ideológico do esporte é feito descaradamente por quase todos os governos. Já na Copa de 1938, o ditador Getúlio Vargas declarava: “Tomai como exemplo a Itália, rejuvenescida pelo fascismo”, revelando suas aspirações políticas.

Os maiores exemplos deste aproveitamento populista foram dados pela ditadura em 1970, com hinos patrióticos e a “intromissão” do ditador Médici na escalação, o que custou o cargo de técnico ao comunista João Saldanha, por responder: “O presidente escala os ministros dele que eu escalo o time”.

Em 1990, Fernando Collor de Mello chegou ao cúmulo de disputar uma partida com os jogadores da seleção, marcando até um gol em um pênalti roubado. Em 1994, Fernando Henrique Cardoso também tirou uma casquinha dos tetracampeões, e ficou sem graça com a cambalhota de Vampeta na rampa do palácio.

Contudo, os exemplos mais escandalosos têm sido os de Lula, como quando enviou a seleção brasileira ao Haiti, para encobrir o seu papel de capacho regional de Bush.

Foi vergonhosa a cena de milhares de famintos haitianos tentando saudar os míticos jogadores brasileiros, mas impedidos por blindados e centenas de soldados armados com fuzis. E, mais recentemente, na teleconferência ao vivo, com a gente sendo obrigado a “engolir” as bajulações de Zagalo. Lula falou tanto que teve de aturar a resposta de Ronaldo sobre seu peso.
Post author Dirley Santos, do Rio de Janeiro (RJ)
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