Como muitos já sabem, o PSTU defende uma frente eleitoral de esquerda, classista e socialista para as eleições de outubro.

Hoje existe uma falsa polarização eleitoral entre PT e PSDB-PFL. Entre eles, na verdade, existe um grande acordo: ambos se propõem a governar para a burguesia, para os ricos, para os banqueiros internacionais. Defendem o mesmo programa econômico e praticam a mesma corrupção.

É preciso apresentar uma alternativa unitária dos partidos e movimentos sociais dos trabalhadores, uma frente que seja classista e socialista. A candidatura de Heloísa Helena pode encabeçar essa frente. Mas para isso ela precisa ser mais do que a candidatura do PSOL.

Necessita ser a expressão eleitoral dos movimentos sociais, das greves dos trabalhadores, das ocupações dos sem-terra, das lutas estudantis. Deve rejeitar a aliança com partidos da burguesia, como fazia o PT nas suas origens.

Essa frente precisa ter um programa de ruptura com o imperialismo e o capitalismo. Deve ter no seu centro a defesa do não pagamento das dívidas interna e externa, e a ruptura das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Tem de ser contra as reformas neoliberais e pela anulação das que foram feitas. Defender a reestatização das empresas privatizadas, a estatização do sistema financeiro e as demais bandeiras que os trabalhadores levantaram em todos esses anos, na luta por emprego, salário, terra, educação, saúde e moradia.

As ameaças contra a Frente
Houve várias reuniões com a direção do PSOL para concretizar essa frente. Mas infelizmente o PSOL está dando passos para impossibilitar a sua realização.

O PSOL está com dúvidas de colocar no centro do programa dessa frente a ruptura com o imperialismo e o não pagamento das dívidas externa e interna às grandes empresas. Nós consideramos isso um grave erro. Não podemos repetir os passos do PT, rebaixando o programa para incorporar setores dos partidos da burguesia.

Um exemplo disso é a entrevista ao jornal O Sul de Roberto Robaina, definido pelo PSOL como candidato a governador do Rio Grande do Sul. Nela, Robaina garante que o PSOL não vai ser o “bicho papão” da livre iniciativa no Estado. Defende que “existem pólos importantes como os setores calçadista e moveleiro, e uma matriz que precisa ser preservada em muitas áreas, valorizando a economia gaúcha”. Ou seja, a defesa da economia capitalista do “mercado interno” contra o “modelo exportador”, o mesmo tipo de programa do PT antes de chegar ao governo federal.

No entanto, não existe a possibilidade de desenvolver um capitalismo nacional, porque as grandes empresas imperialistas controlam rigidamente a economia. Ou se rompe com o imperialismo, numa via anticapitalista, ou se acaba obedecendo a ele. Exatamente o que o PT fez no governo. Não podemos repetir o caminho do PT.

O PSOL felizmente descartou a possibilidade de aliança nacional com o PDT, um partido burguês presente no governo do PSDB de São Paulo, e que dirige a pelega Força Sindical. Mas está defendendo a possibilidade de alianças regionais com o PDT e setores de outros partidos burgueses. Tais alianças matariam o caráter de classe da Frente.

Segundo o deputado João Alfredo, o PSOL atualmente negocia com setores antipetistas do PDT, PPS, PSB e PV. Essa também foi a trajetória seguida pelo PT, e deu no que deu. Todos estes partidos são burgueses. PSB e PV fazem parte do governo Lula. Já o PPS está numa aliança explícita com o PSDB-PFL em vários Estados.

Além disso, o PSOL está definindo os candidatos de forma antidemocrática e sectária, sem consultar os partidos e os ativistas independentes que poderiam formar essa Frente. Lançaram unilateralmente, em atos públicos, os candidatos aos governos e ao Senado em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Goiás, sem nenhuma discussão.

Agora, a direção do PSOL decidiu-se pela candidatura de César Benjamin para vice de Heloísa Helena. César é um intelectual, é filiado ao PSOL e integra o movimento Consulta Popular, que está dividido em três posições (voto nulo, apoio à Lula e apoio ao PSOL). Além disso, César Benjamin recentemente ajudou a formular o programa de governo de Garotinho (PMDB).

Querem impor, sem diálogo, uma chapa pura do PSOL, com indicação de presidente e vice. Ou seja, querem apenas a adesão dos outros partidos às suas candidaturas.

Não concordamos com a definição autoritária dos candidatos pelo PSOL. Propomos que o candidato a vice seja uma liderança operária, com tradição de luta entre os trabalhadores. Estamos propondo, portanto, um critério diferente para a candidatura a vice, com uma liderança das lutas dos trabalhadores e um programa de ruptura com o imperialismo e o capitalismo.

Por um encontro de base para definir o programa e as candidaturas
É preciso incorporar os ativistas de base nas definições fundamentais dessa possível frente. Nós defendemos que um encontro de base decida seu programa e as candidaturas. Desde já, nós aceitaremos o que um encontro de base dos trabalhadores decidir, incluindo a candidatura a vice.

Da mesma maneira, acreditamos ser importante que nos Estados se realizem encontros estaduais que debatam e definam o programa e as candidaturas dessa frente. Não podemos reproduzir os métodos da direção do PT, de definir tudo sem a participação da base.

Voltamos a chamar os companheiros a refletirem sobre a importância da unidade da esquerda para compor uma frente classista e socialista para as eleições de outubro.

Post author Ernesto Guerra, de São Paulo
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