Central reafirma uma estratégia baseada na ação direta e na autodeterminação das massas, na democracia operária e na independência frente ao Estado, os patrões, aos partidos e aos governos

A situação política aberta a partir das mobilizações ocorridas em junho, coloca novos desafios políticos para a esquerda revolucionária. Um deles é como aproveitar o novo momento para fazer avançar a organização da classe trabalhadora e de instrumentos que sirvam à transformação socialista em nosso país. Neste artigo, queremos mostrar o papel da CSP-Conlutas na nova situação política.
 
Armar a classe com um programa
O primeiro tema que precisamos debater é para que lutar? As lutas, em geral, surgem por questões concretas e necessidades imediatas, por conta das péssimas condições de vida dos trabalhadores e do povo pobre. A tarefa dos militantes socialistas é, partindo dessas reivindicações, construir um programa que ofereça saídas para uma transformação do país, para que a classe trabalhadora colha os frutos daquilo que produz, e não uma minoria de burgueses privilegiados.
A CUT foi a grande ferramenta surgida das mobilizações que derrubaram a ditadura brasileira. A Central tinha um programa muito avançado e correto para aquele momento histórico e a democracia imperava nas suas instâncias. Com a adesão da CUT ao governo Lula, surgiu a necessidade de construir uma alternativa, resgatando um programa de independência de classe e retomando bandeiras abandonadas pela CUT.
 
A CSP-Conlutas reafirmou uma estratégia baseada na ação direta e na autodeterminação das massas, na democracia operária e no internacionalismo proletário. Recolocou na ordem do dia a independência frente ao Estado, aos patrões, aos governos e às demais instituições bem como a autonomia com relação aos partidos.
A Central defende uma estratégia socialista e a construção de uma sociedade justa e igualitária. Portanto, a discussão de um programa passa pelo debate sobre como organizar o Estado a partir das necessidades da classe trabalhadora e não dos interesses da burguesia.
 
A classe trabalhadora em tempos de neoliberalismo
A divisão entre os trabalhadores, imposta pela aplicação do modelo neoliberal, trouxe a necessidade de superar as formas atuais do sindicalismo brasileiro, que organiza, essencialmente, os trabalhadores com carteira assinada e os empregados públicos. Surgiu a necessidade de se construir uma organização de massas. Por isso, a CSP-Conlutas sempre foi uma entidade sindical e popular, acolhendo setores da classe que não estão organizados nos sindicatos tradicionais: precarizados, terceirizados, movimentos populares urbanos e da periferia, da juventude e do combate as opressões, entre outros.
 
Nas manifestações de junho, foi forte a presença de jovens subempregados, estagiários, trabalhadores com nível de escolarização inclusive elevado, mas que ganham salários muito baixos. Num segundo momento, as mobilizações começaram a tomar conta de regiões periféricas, aumentando o protagonismo desses setores.
As jornadas de junho confirmaram o potencial revolucionário das mobilizações populares e da juventude, quando elas assumem as demandas e se aliam aos trabalhadores. Mostrou, também, a importância da luta contra toda forma de opressão.
A disputa pela consciência e a incorporação dessa ampla massa jovem e empobrecida a um programa revolucionário serão decisivo para o desfecho positivo de uma revolução social no Brasil. Já está sendo assim, por exemplo, no Oriente Médio.
 
O debate sobre opressões
Com o mesmo objetivo de unir a classe, é preciso discutir a organização para lutar contra a opressão. As ideologias burguesas – o racismo, a homofobia, a xenofobia, o machismo e outras formas de opressão – servem para dividir a classe trabalhadora. Lutar contra isso é condição fundamental para a vitória da revolução socialista.
As jornadas de junho foram uma expressão desse acerto histórico da CSP-Conlutas. Reivindicações como o “Fora Feliciano” ou contra o estatuto do nascituro e o genocídio da juventude negra, por exemplo, mobilizaram milhares de pessoas que se identificaram com essas causas. A participação feminina foi muito ampla e as mulheres chegaram até a ser maioria em muitas passeatas.
 
Democracia e formas de organização
A CSP-Conlutas incorporou, desde sua origem, o combate à burocratização e à concentração de poder nas mãos de poucos dirigentes. Inclusive, a adoção de uma forma de coordenação sem presidencialismo, não foi por acaso. São as entidades filiadas que têm o poder de decisão. A entidade instituiu grupos de trabalho, setoriais e revogabilidade de mandatos pelas bases.
Isso não foi à toa. O processo de adaptação institucional da CUT e sua vinculação aos governos do PT foi acompanhado por modificações no seu funcionamento, que restringiram a democracia interna e a participação das entidades filiadas.
 
Um só processo, várias manifestações organizativas
As jornadas de junho cumpriram um papel importante ao levar às ruas milhões de pessoas pelas mais diversas causas. Contudo, o espontaneísmo e a ausência de uma direção unificada, movida por um claro programa que atendesse aos interesses dos trabalhadores, revelaram as limitações do movimento.
Devemos lutar para unificar os sindicatos, a juventude, os movimentos populares e as formas organizativas que surgiram no calor das lutas de junho – Assembleia Popular Horizontal de Belo Horizonte, Bloco de Lutas de Porto Alegre, Fórum de Lutas do Rio, Mais Pão Menos Circo de Fortaleza etc. – na paralisação do dia 30 de agosto, propondo, por exemplo, a realização de plenárias de bairros para organizarmos juntos o Dia Nacional de Paralisações.
Devemos, também, dar muita atenção ao que acontece com a classe operária, determinante numa revolução socialista. Desde as greves nas obras do PAC, temos visto uma reanimação do movimento operário no Brasil, o que se confirmou com a paralisação de 11 de julho. Já existem fortes questionamentos à direção da CUT.
A CSP-Conlutas, da qual participamos, é um importante instrumento para a construção de uma nova direção para o movimento de massas no Brasil. Sabemos que ainda é minoritária, mas também sabemos que devemos fortalecer essa alternativa.

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