O Congresso aconteceu entre os dias 4 e 7 de junho e reuniu cerca de 1500 estudantes

Durante os quatro dias do feriadão de Corpus Christi, por volta de 1500 estudantes e jovens de todo o país se reuniram em Campinas, na UNICAMP, para debater política, trocar experiências e preparar suas futuras mobilizações. O 3º Congresso da ANEL demonstrou o fortalecimento da entidade, reafirmou sua independência política e seu vínculo com as mais diversas lutas da juventude.

O fórum reuniu um amplo ativismo juvenil, com dirigentes de base do movimento estudantil, de coletivos de juventude e comandos de greve da UFRJ, UFF, UNIRIO, UFBA, UNEB, das universidades do Paraná e de outros processos de mobilização.  Uma vanguarda de mulheres, jovens negros e negras e LGBT.

Ao lado das delegações de norte a sul do Brasil, esteve presente uma delegação internacional com 24 ativistas, representando Argentina, Tunísia, Haiti, Costa Rica, Espanha, Portugal e Chile. O 3º Congresso da ANEL também aconteceu junto ao 2º Congresso da Central Sindical e Popular – Conlutas, o que possibilitou o intercâmbio de vários sindicatos e movimentos populares, concretizando a aliança da entidade com as mobilizações da classe trabalhadora.

Na mesa de abertura, muitas organizações políticas e partidos fizeram saudações. A vereadora do PSTU de Natal, Amanda Gurgel, saudou a juventude livre ali presente e relembrou o papel protagonista da ANEL e da CSP-Conlutas na reorganização do movimento de massas brasileiro, após a falência das direções traidoras, como a CUT e a UNE. Ao final de sua fala, levantou o plenário perguntando “chega de Dilma, PT, PMDB e PSDB?”, recebendo uma entusiasmada resposta: “chega!”

“Greve geral contra o ajuste fiscal”

A discussão acerca da necessidade da unir a juventude e os trabalhadores na construção de uma greve geral contra ao juste fiscal do governo Dilma foi uma das marcas do Congresso da ANEL. Na mesa de abertura, a intervenção da CSP-Conlutas lançou a tarefa de unificar as lutas em curso por nenhum direito a menos.

Na mesa de conjuntura, todos os partidos da esquerda brasileira, PSOL, PCB e PSTU, foram categóricos em afirmar que o governo petista e a oposição de direita têm acordo em fazer a população pobre, em especial os setores oprimidos da sociedade, pagar a conta da crise econômica.

Em nome do PSTU, Zé Maria apontou que a tarefa da esquerda brasileira é superar a estratégia eleitoral petista, de conciliação de classe com setores da burguesia nacional e internacional. Desse modo, alertou que o combate ao governo federal não pode estar submetido ao calendário das eleições, porque, se os trabalhadores e a juventude tiverem disposição, a esquerda deve derrotar o governo federal nas ruas.

O dirigente operário não deixou, igualmente, de criticar o lamentável apoio da bancada parlamentar do PSOL à cláusula de barreira, que pode retirar o fundo partidário e o tempo de TV e rádio de partidos da esquerda brasileira. Por fim, destacou que é necessário construir na luta um governo dos trabalhadores, sem patrões e corruptos.

Na plenária final, foi aprovada uma resolução sobre conjuntura nacional, declarando que a “ANEL vai lutar pela unidade da juventude com a classe trabalhadora na construção de uma greve geral no Brasil”, a partir das reivindicações de “não às terceirizações e às MPs 664 e 665, fim do Fator Previdenciário, abaixo o ajuste fiscal e a política econômica do governo federal, suspensão do pagamento e auditoria da Dívida Pública”.

A resolução também apresentou a opinião da ANEL diante da crise política nacional, localizando a entidade na “oposição de esquerda contra o governo Dilma e a oposição de direita”, repudiando o “Congresso Nacional corrupto e conservador”, e exigindo basta de partidos da ordem.

 “Façamos do Brasil um novo Chile”

A heróica luta dos estudantes chilenos contra a privatização da educação, que já dura uma década, inspirou o 3º Congresso da ANEL. Seguindo o exemplo do Chile, os quatro dias de debates armaram o movimento estudantil para entrar com força na greve geral da educação.

A mesa sobre educação foi composta pelo ANDES, FASUBRA e SINASEFE, além de representantes das greves dos professores estaduais do Paraná e de São Paulo. Todas as intervenções denunciaram que a educação é a área social mais atingida pelo ajuste fiscal do governo Dilma, que já cortou da pasta mais de 9 bilhões de reais. A análise da crise do FIES e das universidades federais esteve no centro da fala de Lucas Brito, da CEN da ANEL.

No final, a resolução sobre educação aprovada denuncia que a “política educacional do governo federal está atrelada ao mercado”, pois aumentou “a privatização e a precarização do ensino público” e provocou “a maior expansão do ensino pago na história do Brasil, com a formação de grandes monopólios transnacionais, como o grupo Kroton-Anhanguera”.

Os principais eixos da ANEL para a greve, votados na plenária final, foram: não aos cortes de Dilma na educação, permanência estudantil para todos que precisam e 2.5 bilhões de reais para o PNAES, cotas raciais e vagas no ensino público para os estudantes do FIES, do PROUNI e do PRONATEC.

A entidade decidiu por preparar ações unitárias entre os estudantes das universidades públicas, as faculdades privadas e as escolas secundaristas. Por isso, foi votada a construção de um Dia Nacional de Lutas em defesa da educação e dos direitos da juventude, em 17 de junho, quarta-feira que vem.

O texto chama, igualmente, o movimento a “unificar e organizar a greve nacional estudantil”, através da “constituição de um Comando Nacional de Greve Estudantil”. O primeiro passo dessa articulação nacional do movimento estudantil será colado na Plenária Nacional em Brasília, no dia 27 de junho, que está sendo convocada pelo ANDES, FASUBRA e SINASEFE.

“Esse congresso será um grande quilombo”

Com a frase acima, Janaína Oliveira, da CEN da ANEL, levantou o plenário do 3º Congresso da ANEL, onde a questão racial foi debatida com muito destaque. A resolução de combate ao racismo, aprovada na plenária final, denunciou o genocídio do povo negro e colocou a tarefa da entidade “impulsionar em todo o país uma grande campanha em defesa da juventude negra e contra a redução da maioridade penal”.

 As discussões sobre as opressões tiveram grande atenção no 3º Congresso da ANEL. Os painéis temáticos sobre o tema debateram as mais variadas formas de preconceito que destroem, cotidianamente, a vida de milhares de jovens em nosso país. O ponto alto da mesa sobre opressões foi a intervenção conjunta de todo ativismo trans na frente do plenário, com palavras de ordem e cartazes contra a transfobia.

Ainda na mesa sobre opressões, os movimentos MML e Quilombo Raça e Classe explicaram a combinação entre o machismo e o racismo com a exploração capitalista, uma realidade que potencializa, por exemplo, os ataques sociais e trabalhistas contra as mulheres negras, em particular contra as trabalhadoras terceirizadas.

Lançamento da Revista R reúne mais de 700 jovens

A 5ª edição da Revista R, publicação da juventude do PSTU, foi lançada durante o 3º Congresso da ANEL na noite de sexta-feira, depois do encerramento das atividades congressuais. O lançamento contou com mais de 700 jovens, dentre eles centenas de ativistas independentes, interessados em conhecer as ideias do PSTU.

A Revista foi apresentada por Matheus Gomes, o Gordo, militante criminalizado pelas autoridades do Rio Grande do Sul, por Camila Ruz Sepúlveda, do movimento de estudantes chilenos Juventud em Lucha, e por Atnágoras Lopes, operário da construção civil de Belém. Os palestrantes trataram da crise do projeto político petista, dos rumos da esquerda brasileira e da estratégia do socialismo. 

Governismo avança no Congresso da UNE

Enquanto rolava o 3º Congresso da ANEL, acontecia também o 54º Congresso da UNE, onde o governismo avançou em seu domínio sobre a entidade. O Campo Popular, composto pelo Levante Popular de Juventude e pequenas organizações petistas, ultrapassou o número de delegados da Oposição de Esquerda e se tornou a segunda maior força do CONUNE.

No meio da crise do governo Dilma, quando a maioria da juventude começa a romper com o projeto político do PT, as forças governistas avançam no interior da UNE. A juventude do PSOL, que segue construindo a entidade, precisa tirar as conclusões corretas desse fato, pois, como diz a resolução aprovada no 3º Congresso da ANEL,  “estamos diante de um novo momento da reorganização do movimento estudantil”.

Por fim, seu 3º Congresso reforçou o chamado da ANEL ao “conjunto do movimento estudantil, em especial os coletivos da Oposição de Esquerda da UNE a romperem com a velha entidade burocrática e governista”. Nele, foi aprovada, também, a “realização de um Encontro Nacional de estudantes e da juventude em luta em 2016, junto ao Encontro Nacional de Educação, com o objetivo de elaborar um programa, preparar um plano de ação comum e debater a reorganização do movimento estudantil combativo”.

Os seis anos de desenvolvimento da ANEL confirmaram que um novo movimento estudantil é possível. A juventude do PSTU tem orgulho de colaborar com o fortalecimento da nova entidade. O 3º Congresso da ANEL expressou o acerto em termos apostado, junto com milhares de estudantes e jovens de todo Brasil, numa organização estudantil  internacionalista, classista, com independência financeira e política e com democracia de base.