Redação

No dia 12 de junho de 1994, José Luís e Rosa Sundermann foram assassinados em São Carlos, interior de São Paulo. Os dois eram militantes do recém-criado PSTU e atuavam nas lutas da região, enfrentando grupos políticos e oligarquias, como a dos usineiros. Em 1990 e 1993, haviam dirigido as greves dos cortadores de cana da região.

José Luís era dirigente do Sindicato dos Servidores da Universidade Federal de São Carlos e da Fasubra. Rosa era dirigente da Convergência Socialista (corrente que deu origem ao PSTU) na região e havia sido eleita para o primeiro Comitê Central do PSTU, no Congresso de Fundação do Partido, uma semana antes de seu assassinato.

Os dois sempre estiveram presentes nas lutas sociais e mobilizações, enfrentando os interesses dos poderosos, a quem mais interessaria o duplo assassinato. Ainda assim, não são todos os que estão dispostos a correr os riscos que envolvem tal crime. Somente aqueles que, por já estarem envolvidos em atividades criminosas, sem nunca terem sido punidos, acreditam que um crime a mais não faz diferença.

Esse tipo de perfil se encaixa com o de fazendeiros, latifundiários e agentes da repressão do Estado, que atuam em regiões do país onde o conflito armado e a impunidade de mandantes de crimes são comuns.

Em 2004, os advogados do Instituto José Luís e Rosa Sundermann denunciaram o Estado brasileiro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos por negligência e omissão na investigação do assassinato dos dois militantes do PSTU. A denúncia foi encaminhada para uma comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) no dia 14 de março daquele ano.

O principal objetivo da iniciativa foi chamar a atenção da opinião pública para o caso e para a omissão das autoridades e do governo. No documento enviado à OEA, os advogados do instituto reiteram que todas as evidências apontam para um crime político: “Nada foi roubado ou foi tocado na casa, nem cartões de crédito, nem qualquer outra coisa. O assassino disparou quatro tiros, dos quais três foram disparos certeiros nas cabeças das vítimas, com total precisão. As circunstâncias deixam claro tratar-se de uma execução fria e calculada, definitivamente obra de profissionais“.

Assista ao documentário produzido por estudantes de  jornalismo do Centro Universitário de Araraquara (UNIARA)

Anistiados
Em outubro de 2013, durante a 77ª Caravana da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, especialmente realizada para o julgamento de anistia dos ex-militantes da Convergência Socialista, Zé Luís e Rosa foram declarados oficialmente anistiados. O casal já militava no final da década de 1970, principalmente organizando os trabalhadores da Universidade Federal de São Carlos. Foi um reconhecimento, ainda que simbólico, da perseguição do Estado aos lutadores durante a ditadura.

Mais de trinta anos depois do fim da ditadura militar, e 23 anos após o assassinato de Zé Luís e Rosa Sundermann, a violência, perseguição, criminalização e o assassinato de lutadores sociais e o povo pobre continuam ocorrendo. Casos como o de Rafael Braga, detido nos atos de junho de 2013 por portar Pinho Sol e depois preso por tráfico num caso cuja única prova se resume à testemunha dos próprios policiais e condenado a 11 anos de prisão. O brutal ataque aos índios Gamela no Maranhão e a chacina em Pau D’árco no sul do Pará que matou 10 trabalhadores sem-terras, mostram a crescente violência no campo. A repressão ao protesto em Brasília no dia 24 de maio, que terminou com inúmeros feridos e um servidor aposentado ferido a bala, expressam como a luta é ainda visto como caso de polícia nesse país.

Hoje, Zé Luís e Rosa Sundermann nos lembram da luta contra a impunidade e a perseguição aos movimentos sociais e ativista. Mas, para além da indignação que o caso traz, a memória desses lutadores nos inspira ainda hoje na luta pelo socialismo e a construção de um partido revolucionário junto aos operários e aos setores mais explorados da classe.