Em entrevista ao Opinião, o candidato à presidência da República pelo PSTU, Zé Maria, explica porque votar em uma candidatura operária e socialista, e fala que o PSTU é um partido diferente, que luta para “fazer uma revolução socialista em nosso país”.

Por que é inútil votar em Marina, Aécio ou Dilma? Por que é útil votar em você, do PSTU? 
ZÉ MARIA – O voto útil é aquele do qual você não se arrepende. Votar em Dilma, Marina ou Aécio é escolher que as coisas continuem como estão ou piorem. Estas três candidaturas defendem o mesmo modelo econômico, que privilegia os interesses dos bancos, das empreiteiras, do agronegócio. Basta ver que todas elas estão recebendo milhões de bancos e empresas para financiar suas campanhas. O voto é um gesto político e devemos usá-lo a favor das mudanças que precisamos no país, para fortalecer nossa luta e podermos estar mais fortes para enfrentar os ataques que virão e defender nossos direitos. Esse voto é um voto no PSTU, no 16.

O horário eleitoral passou a exibir ataques entre Dilma, Marina e Aécio, nos quais todos eles dizem ser contra os banqueiros e defender os trabalhadores. Esse debate é coerente com o programa e atitude destes candidatos?
ZÉ MARIA – Estamos assistindo um festival de mentiras. Marina diz que representa a nova política e o povo pobre, mas, na verdade, está cercada de assessores do PSDB que estão definindo a sua política econômica. Sua candidatura é financiada pelos bancos e grandes empresas. Aécio, do PSDB, é a volta ao passado e nós sabemos o que foi o governo FHC. Mas, tampouco as mudanças que precisamos virão com a continuidade do governo Dilma. Já são 12 anos de governos do PT, os bancos seguem mandando e as privatizações continuam. Dilma diz que a prioridade é o pobre, a mulher e os negros, mas com a Bolsa Família ela gasta R$ 23 bilhões ao ano. Com os bancos são R$ 800 por bilhões por ano! Se a prioridade fossem os trabalhadores e os pobres, ela colocava estes 800 bilhões para atender as reivindicações de mudança da maioria. Com qualquer uma destas três alternativas a vida não vai mudar para melhor.

Hoje a maioria não confia nos políticos. Você diz que não vamos mudar o país através das eleições. Então qual o sentido de disputar as eleições e de lutar para eleger deputados do PSTU? 
ZÉ MARIA – O PSTU disputa as eleições para apresentar uma proposta alternativa para o país, para demonstrar que é possível assegurar vida digna para os trabalhadores, o povo pobre e oprimido, desde que acabemos com os privilégios dos bancos e das grandes empresas. Não podemos deixar os trabalhadores e jovens à mercê da propaganda das candidaturas dos patrões. Em segundo lugar, o fazemos para levar aos trabalhadores e jovens a ideia de que estas mudanças só vão ocorrer se tivermos no país, um governo dos trabalhadores, sem patrões. Para que tenhamos um governo assim e para que ele possa governar precisamos avançar em nossa organização e em nossa luta. Sem um amplo processo de mobilização social para lutar por essas mudanças, com o povo nas ruas, não conseguiremos mudar o Brasil. A campanha e a construção do PSTU estão a serviço destes objetivos. É importante o voto no PSTU porque esse voto ajuda a avançar a mobilização, a consciência e a organização dos trabalhadores. Queremos eleger deputados para que eles estejam a serviço da luta dos trabalhadores e da construção desta alternativa. Os deputados do PSTU vão denunciar as falcatruas do Congresso Nacional e do governo e vão lutar contra os privilégios dos políticos. Um deputado ou deputada do PSTU vai viver com o mesmo salário que recebe hoje, antes de ser deputado, e vai propor que nenhum político ganhe um salário maior que o salário de um operário ou de um professor.

Por que não se fez uma Frente de Esquerda entre PSTU, PSOL e PCB? 
ZÉ MARIA – Na primeira eleição em que o PT participou, em 1982, Lula foi candidato a governador de São Paulo. O programa era romper com o FMI, não pagar a dívida externa e estatizar os bancos. Teve 10% dos votos. Para mim o resultado pareceu ótimo. Lula achou muito ruim e decidiu que se não deixasse de defender estas bandeiras polêmicas nunca ganharia as eleições. Começou uma rotina de rebaixamento do programa para buscar mais votos, e isso nunca mais parou. Depois, passou a fazer alianças com os patrões e a receber dinheiro de empresas. Pois bem, na primeira reunião que fizemos com a direção do PSOL para discutir a Frente, nos disseram que não estavam a favor de defender um programa que tivesse bandeiras consideradas radicais (estatização dos bancos, reestatização das empresas privatizadas, nacionalização das terras etc.), porque isso dificultaria a disputa dos votos. Não tínhamos como concordar com isso. Dizer aos trabalhadores que é possível mudar suas vidas sem adotar estas mudanças seria mentir para as pessoas. Estávamos diante de cenas que já tínhamos vivido com o PT, e já sabemos como terminou este filme. Por outro lado, não tínhamos segurança de que não seria aceito financiamento da campanha por empresas. Hoje, sabemos que pelo menos um grande grupo empresarial (Zaffari) ajuda a financiar a campanha do PSOL. Aliás, não é a primeira vez. E sem independência econômica, não há independência política. Se nossa alternativa pressupõe a luta contra as grandes empresas, como vamos fazer isso sendo financiados por elas? O PT enveredou por este caminho e deu no que deu. Não temos o direito de repetir esta história. O PCB havia decidido lançar candidatura própria, o que respeitamos.

Você e o PSTU priorizaram fazer uma campanha mais forte na classe operária, percorrendo canteiros de obras, fábricas e bairros operários. Por que esta prioridade e como vem sendo esta campanha?
ZÉ MARIA – O projeto que defendemos é operário e socialista. Nada mais adequado que o partido busque envolver nesta luta a maior quantidade possível de operários. E que busque ampliar sua influência e organização no seio da classe operária. Por isso, centramos nossa campanha aí. Mas não é só na campanha. Viemos para ficar. E a receptividade está muito boa. Há um processo de ruptura amplo com o PT na classe operária. Setores da classe não acreditam mais que o PT vá mudar o país. É normal que, eleitoralmente, grande parte destas rupturas busquem uma alternativa eleitoral que lhes pareça viável para derrotar o PT. Mas isso não elimina o espaço para a discussão do programa que o PSTU apresenta. Pelo contrário, sentimos um espaço cada vez maior para as ideias do partido neste setor e estamos lutando para que o maior número possível deles vote no 16 e venha somar-se a nossa luta. Estamos muito contentes com o que temos alcançado com a campanha até agora.

Existem dados crescentes de crise econômica e social não apenas no Brasil, mas em toda América Latina. Para o que devem se preparar os trabalhadores, caso Dilma, Aécio ou Marina sejam eleitos? 
ZÉ MARIA – Há sinais cada vez mais claros de que a economia brasileira caminha para uma situação parecida com a crise que temos visto em outras regiões do planeta. Algumas semanas atrás, divulgaram um crescimento negativo do PIB. A situação da indústria automotiva é só uma das expressões desta situação. As consequências já estão se fazendo sentir, com demissões na indústria, principalmente no Sul e Sudeste. Isto tende a piorar e nós sabemos o que acontece nas crises. Os bancos e grandes empresas fazem de tudo para descarregar seus custos nas costas dos trabalhadores. E como as candidaturas apontadas como prováveis vencedoras tem compromissocom os bancos e grandes empresas, podemos esperar por demissões e redução de direitos. Quando falam em ajuste fiscal, podemos esperar sucateamento dos serviços públicos. Precisamos estar preparados para enfrentar essa situação com luta, para evitar que isso aconteça da mesma forma que fizemos baixar o preço da tarifa do transporte, em junho de 2013.


Você sempre fala que o PSTU não é um partido eleitoreiro, é um partido diferente, uma ferramenta contra o sistema. O que você diria a um operário ou operária, já tão atarefados, para que dediquem um tempo para vir ajudar a construir essa ferramenta?
ZÉ MARIA – Mudar, para que os recursos do país e a riqueza produzida pelo trabalho fossem usados para garantir vida digna aos trabalhadores e ao povo pobre, era o sonho de milhões de trabalhadores brasileiros que ajudaram a construir o PT na década de 80. Queríamos um instrumento político para a luta da nossa classe, para realizar esse sonho. Infelizmente, isso tudo se frustrou porque o PT, a partir de sua direção, não escolheu o caminho de organizar a luta da nossa classe para mudar o Brasil. Escolheu buscar uma aliança com os patrões. E com os banqueiros, para ganhar as eleições e governar. E nossa classe está aprendendo, a duras penas, uma lição importante. Mas a desilusão com o PT não pode nos levar ao desalento, a não acreditarmos mais em nosso sonho. O primeiro passo é acreditarmos em nós mesmos e em nossa capacidade. Nós, os trabalhadores, somos a ampla maioria da população; nós construímos toda a riqueza do país com o nosso trabalho; nós fazemos o país funcionar. Por que então não podemos governar o Brasil? E, no governo, mudarmos o país, para que a prioridade deixe de ser o banqueiro, as empreiteiras, o agronegócio, as multinacionais, e passe a ser o trabalhador? Podemos sim. E força para isso nós temos, se decidirmos lutar por estas mudanças. Não fomos nós que, nas ruas, no início da década de 80 derrubamos a ditadura? O PSTU é o partido que quer resgatar esse sonho. E aprendemos com a história. Não somos iguais ao PT. Somos socialistas, lutamos para fazer uma revolução em nosso país, para acabar com a desigualdade, a injustiça, a opressão e a violência contra os trabalhadores. Para isso precisamos de um partido político diferente, que seja um instrumento para a luta do povo e não um partido para se aproveitar do povo como estes que estão aí. E este partido é o PSTU. Venha para o PSTU. Construir esse partido é ajudar nossa própria classe a realizar seu sonho de viver em uma sociedade livre de toda forma de exploração e opressão.

Publicado originalmente no Opinião Socialista nº 486