O Dia Nacional da Consciência Negra foi marcado pelo confronto de duas posturas antagônicas sobre como combater o racismo e homenagear o principal líder negro do país.

De um lado, a ampla maioria do movimento negro brasileiro (dirigido em grande parte por PT e PCdoB), as prefeituras governistas e seus aliados (que estendem-se do PP até onde alcançarem os tentáculos do governo) transformaram o dia numa grande festa e num envergonhado feriado.

O feriado, uma reivindicação justa do movimento negro, na maioria das cidades foi decretado por pressão do movimento. Mas, na prática, não houve divulgação na mídia e estimulou-se o funcionamento normal do comércio.

Em São Paulo, o ato organizado pela CUT e entidades governistas teve show do ministro-cantor Gilberto Gil e de artistas aliados ao governo, como MV Bill. Apesar de prometer levar 10 mil às ruas, o ato teve em torno de mil pessoas. E a tônica do evento foi defender iniciativas do governo no combate ao racismo, o que é uma farsa.

Praticamente nada foi feito nesse campo. Lula não atacaria realmente o racismo, pois está aprofundando o abismo entre negros e brancos, impondo ao país o receituário do FMI e, conseqüentemente, aumentando o desemprego, arrochando salários, fazendo crescer a miséria.

A vergonhosa postura dos governistas ficou evidente em Belo Horizonte (MG). Lá, houve uma tentativa, por parte de entidades do movimento negro e sindical, de construir um protesto conjunto.

A primeira atividade foi um ato no dia 18, em protesto contra um caso de racismo ocorrido na cidade (veja box). O ato do dia 20, contudo, acabou não se realizando. Segundo Wilma Sueli, diretora do Sindicato da Educação da Rede Municipal (SindUTE) e militante do PSTU, “havia um acordo, apesar de fazermos um único ato, que cada setor poderia levar suas próprias reivindicações e materiais. Mas no momento em que a Secretaria de Negros e Negras do PSTU estendeu sua faixa com os dizeres ‘Pelo fim do racismo diga não às reformas do governo Lula’, o PCdoB, numa atitude digna da direita mais asquerosa, se retirou, levando o carro de som, pelo qual eles haviam ficado responsáveis”.

Consciência de luta

Exemplo que serve de contraponto a essa situação ocorreu em Nova Iguaçu (RJ). Lá, o Sindicato dos Comerciários realizou em 19 de novembro um ato combinando a denúncia da opressão e a luta cotidiana dos trabalhadores.

O ato Contra o Racismo e o Horário Livre, além de celebrar Zumbi, através de discursos políticos e manifestações da cultura negra (como apresentações de samba e hip hop), intensificou a luta dos comerciários contra o sistema de escravidão que impera até hoje no setor: o chamado horário livre, que obriga o comerciário a ficar à disposição dos patrões, a qualquer hora ou dia, inclusive feriados, sem pagamento de hora extra, o que faz com que a jornada chegue a até 18 horas por dia.

Reunindo cerca de 600 pessoas, o ato acabou com um “arrastão” fechando todo o comércio do centro da cidade que estava aberto após as 19 horas. A força da manifestação ficou evidente no dia seguinte, quando, a contragosto, o comércio acabou respeitando o feriado.

Para Renato Miranda, diretor do Sindicato e militante do PSTU, “o ato foi histórico para a cidade e um belo exemplo sobre o que é lutar com raça e classe; agora vamos dar continuidade às atividades. Muitos dos que estavam aqui, estarão em Brasília no dia 25, lutando contra as reformas. Aqui em Nova Iguaçu o recado foi dado: lutar contra o racismo é lutar contra os patrões, o governo e seus aliados, como o FMI”.

PROTESTE CONTRA O RACISMO

Durante a Semana da Consciência Negra, veio à tona, em nível nacional, a denúncia do caso de racismo praticado por uma professora do curso de Turismo, da Faculdade UNA, de Belo Horizonte.

Segundo relatos de uma aluna, a professora Joselyse de Abreu Argemiro declarou, em sala, que “negros não devem ser contratados para trabalhar como dançarinos em casas de espetáculo, pois cientificamente está comprovado, que os mesmos suam muito e exalam odor desagradável”. Isso é o pior tipo de estereótipo em relação a negros e negras é inegavelmente racista, apesar da negativa da professora.

Além do protesto realizado no dia 18, os movimentos negro e sindical estão circulando um abaixo-assinado exigindo uma posição por parte da Faculdade, que apenas afastou a professora, e a punição por crime de racismo.

O formulário do abaixo-assinado e o endereço para o qual ele deve ser enviado estão na página da Secretaria de Negros e Negras.

Mensagens de protesto também podem ser enviadas para o Ministério Público de Minas Gerais ([email protected] ou [email protected]) com cópias para o e-mail do SindUTE, [email protected].

  • Faça o download do abaixo-assinado (.doc)

    Post author Wilson H. da Silva, da Secretaria de Negros e Negras do PSTU
    Publication Date