O presidente Jair Bolsonaro e o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, durante pronunciamento no Palácio do Planalto
Zé Maria

Metalúrgico e presidente nacional do PSTU.

A cada dia que passa vão se avolumando mais e mais absurdos praticados pelo governo Bolsonaro em meio à catástrofe que já atinge o nosso país e o mundo – a pandemia de coronavírus e as consequências sociais que provoca, especialmente para os mais pobres (demissões, fim abrupto da única fonte de renda dos que trabalham por conta própria, redução de salários e direitos, ausência de condições mínimas de atenção à saúde, etc e etc).

Ajuda para os pobres a passo de tartaruga manca

É nesse contexto que o governo do presidente Bolsonaro e do ministro Paulo Guedes adiou ao máximo que pôde a definição de uma ajuda para os mais pobres e para as pessoas que perderam sua fonte de renda devido às medidas para proteção da saúde da população. Mas acharam pouco. Depois de definirem uma ajuda de um valor irrisório de R$ 600, enrolam o quanto podem para não pagar.

Todo dia assistimos nos noticiários um verdadeiro espetáculo de burocracia e de desorganização que tem com o único objetivo dificultar que as pessoas recebam a já precária ajuda a que lhes deram direito. Trata-se de uma verdadeira humilhação. Uma violência sem tamanho para com milhões e milhões de pessoas que estão sem ter o que comer em casa! As pessoas ficam amontoadas na porta das agências da Receita Federal e da Caixa Econômica Federal recebendo informações desencontradas, ou então sendo orientadas a fazer coisas que lhes são impossível fazer (na cabeça dos burocratas do ministério da economia todas essas pessoas tem computador e smartphone e sabem perfeitamente usar os meios digitais). Quem precisar receber em espécie, tem de esperar o final do mês…

E não se trata de incompetência, o que já seria inaceitável nessa situação. É proposital a demora em fazer chegar a ajuda a quem precisa. O presidente Bolsonaro precisa do desespero dessas milhões de pessoas para embasar sua defesa de que a economia tem de voltar a funcionar, que os “negócios” não podem parar. Não pela situação dessas pessoas mais necessitadas, para as quais ele não liga a mínima como se pode ver pelo descaso que suas ações demonstram. Mas sim para atender a sanha de lucros do empresariado que o apoia.

Para os ricos a ajuda veio a jato

O mais revoltante em tudo isso é que, para ajudar banqueiros e grandes empresários, a rapidez foi impressionante. Para os banqueiros a “ajudinha foi de mais de R$ 1 trilhão, sem falar no tal “orçamento de guerra” que na verdade é um presente aos banqueiros e um seguro para empresários falidos. E mais centenas de bilhões de reais para ajudar os grandes empresários (sim, grandes, porque os pequenos tampouco conseguem acessar essa ajuda). E tudo isso foi imediato.

Também é impressionante a presteza de Bolsonaro e do Congresso Nacional para atacar os direitos dos trabalhadores, precarizar direitos, autorizar redução de salários. Isso é também para ajudar aumentar o lucro das empresas, e dos bancos e fundos de investimentos, que são proprietários de boa parte delas. E nós ainda somos obrigados a ver na TV um espetáculo de hipocrisia e demagogia, com uma parte dessas empresas fazendo propaganda de si próprias dizendo que estão “doando” para combater a pandemia quantias que, na verdade, não passam de uma migalha do que roubam dos trabalhadores e do que ganham de recursos públicos repassados a eles pelo governo.

Nesse contexto se entende por que Bolsonaro nomeia para ministro da saúde um cidadão que, na maior “sem cerimônia”, diz que é melhor deixar morrer os mais velhos para investir na saúde dos mais novos, já que o sistema de saúde não pode atender todos. Não passa na cabeça do sujeito propor que se tire dinheiro dos bancos, que se acabe com os lucros astronômicos das grandes empresas, para investir na saúde de todos, dos mais novos e dos mais velhos.

Isso não cabe na cabeça de ninguém desse governo que é capacho de banqueiros e especuladores do mercado financeiro, que Paulo Guedes representa tão bem. E não digo isso para defender o ministro que saiu – que desde sempre defendeu o desmonte do SUS e a mercantilização da saúde, e que tampouco foi coerente na defesa da saúde da população frente à pandemia. Digo porque é profundo o significado disso tudo.

Não é irresponsabilidade. É a barbárie para onde o capitalismo empurra o mundo

Uma das diferenças mais importantes do ser humano em relação ao restante das espécies do mundo animal é que nós protegemos os nossos filhotes e os nossos velhos. A maioria das demais espécies protege seus filhotes (pelo instinto da sobrevivência da espécie), mas deixam os velhos abandonados à própria sorte quando não tem mais forças para obter seu sustento com suas próprias forças. Essa é uma das diferenças que nos dá o direito de nos chamarmos de animais racionais, civilizados. De seres humanos.

Bolsonaro, Paulo Guedes, Mourão, toda essa gente que está no governo estão abaixo disso. E não se trata de irresponsabilidade, ou burrice. Essa gente é a cara (sem disfarce) da grande burguesia do nosso país, uma elite escravocrata e reacionária a não poder mais. Não é à toa que essa elite segue apoiando Bolsonaro e seu ministro da Economia. Da mesma forma que é autoritária, preconceituosa e violenta contra os trabalhadores e os pobres, é covarde e subserviente em relação ao capital internacional e ao imperialismo – da qual é sócia na rapina dos recursos e das riquezas do nosso país.

Isso é o capitalismo. E nesse sistema não há nenhum constrangimento em expor à contaminação e à morte centenas de milhares de pessoas, milhões de pessoas, se isso for necessário para manter funcionando as fábricas, os negócios, ou seja, para manter o lucro dos bancos e das grandes empresas.

Por isso, se a nossa luta mais imediata é acabar com esse governo, antes que ele acabe com o nosso país, precisamos compreender desde agora que essa luta terá de seguir adiante até que reunamos as condições para acabar com esse sistema. Se neste momento fica mais nítida a desumanidade deste sistema, não podemos nos esquecer que essa é sua marca registrada de todo dia no trato com a classe operária, com os negros e negras, as mulheres, as pessoas LGBT, com todos os setores explorados e oprimidos.

Fora Bolsonaro! O que falta para a “oposição” somar-se à essa luta?

O Congresso Nacional e a cúpula do Poder Judiciário, da mesma forma que os governadores, resmungam contra medidas tomadas pelo governo Bolsonaro, mas se negam a agir para colocar um fim imediato nessa verdadeira tragédia. São também representantes dos interesses da mesma burguesia a quem Bolsonaro obedece. São, em última instância, farinha do mesmo saco.

A pergunta que não quer calar, frente a tudo isso, é porque a dita oposição a este governo (PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT) se negam a levantar a bandeira do Fora Bolsonaro? O que estão esperando? Que alguém desenhe? Estes partidos estão, em maior ou menor medida, tão integrados, tão adaptados a este sistema, que não conseguem representar minimamente os interesses dos trabalhadores.

Por que é que as grandes centrais sindicais, frente a tantos e tão graves ataques aos direitos dos trabalhadores, não tratam de organizar para a luta os trabalhadores que representam? Por que não conseguem sequer se somar à voz dos milhões de brasileiros e brasileiras que gritam Fora Bolsonaro (!) das suas janelas na impossibilidade de ir às ruas?

Fora Bolsonaro, Mourão e Paulo Guedes! Por uma alternativa socialista para nosso país

Cabe aos trabalhadores, ao povo pobre, aos explorados e oprimidos desse nosso país, nos levantarmos para dar um basta em isso tudo. E a primeira tarefa é colocar um fim neste governo genocida que controla hoje o nosso país. Não nos iludamos, as instituições que podem adotar medidas para afastar Bolsonaro e sua trupe do governo só o farão se o povo for às ruas e exigir. Se neste momento não podemos ir às ruas, precisamos ter criatividade para demonstrar nosso repúdio.

Mas nessa luta contra o governo Bolsonaro e em defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores, é preciso que avancemos na organização e mobilização da classe trabalhadora para acabarmos com todo esse sistema. Precisamos de uma revolução socialista, que coloque no governo do nosso país os trabalhadores e o povo pobre. Só assim poderemos mudar o nosso país, e livrar o nosso povo de toda forma de exploração, opressão, discriminação, violência e humilhação que é só o que a sociedade em que vivemos hoje nos reserva. Só assim poderemos viver, enfim, como seres humanos que somos, e não escravos de banqueiros que o capitalismo faz de todos nós.