Artigo do dirigente da Conlutas critica “fidelidade canina” do presidente da CUT, que soube das demissões na segunda-feira e não avisou os trabalhadores. “Quantas medidas concretas poderiam ter sido tomadas”, acusa Zé Maria?A quem deve lealdade o presidente da CUT?

Pode passar desapercebido para um leitor comum, a gravidade da informação que consta em notícia neste sábado (21/2) na Folha de S. Paulo. A matéria (que está em anexo a esta mensagem) trata das “preocupações” de Lula com as demissões em massa efetuadas pela EMBRAER nesta semana. A matéria jornalística começa por desmentir o próprio presidente que se disse surpreso quando do anúncio das demissões. Ele, na verdade, já sabia desde a segunda feira das demissões que começaram a ser feitas na quinta.

Mas, informa a mesma notícia, havia outro interlocutor privilegiado do governo que também sabia das demissões desde a segunda feira. Este interlocutar é nada menos que Artur Henrique, presidente nacional da CUT, que estava participando da reunião em que o presidente do BNDES informou das demissões na empresa.

Trata-se de um verdadeiro escândalo de dimensões seríssimas. Como pode o presidente de uma Central Sindical, que se diz representante dos trabalhadores, receber a informação de que uma empresa vai demitir milhares de trabalhadores e esconder esta informação dos trabalhadores e do sindicato que os representa. Artur Henrique se preocupou apenas em montar um jogo de cena para a imprensa, na quinta-feira, para tentar capitalizar politicamente a desgraça dos trabalhadores.

De uma só tacada o presidente da CUT reiterou sua fidelidade canina ao governo e prestou uma inestimável ajuda aos patrões da EMBRAER. Quantas medidas concretas poderiam ter sido tomadas, desde a segunda-feira para tentar impedir que as demissões se consumassem, e não foram tomadas porque o presidente da CUT deve mais fidelidade ao governo do que aos trabalhadores?

Na verdade, toda a encenação feita pelo presidente da CUT, que teria se reunido com Lula no dia das demissões para pedir ao governo que “cobrasse” a empresa pelas demissões não passou de encenação. Puro cinismo de um dirigente que não tem mais o mínimo de compromisso com os seus.

Temos insistido que a relação cada vez mais promiscua dos dirigentes da CUT com o governo impossibilita que esta Central defenda efetivamente os interesses dos trabalhadores. Estamos diante de uma prova material e concreta dessa afirmação. Para ser fiel ao governo que apoia, o presidente da CUT não se avexa em trair o mais elementar interesse dos trabalhadores que ele deveria defender: o de defender o emprego.

Se a CUT fosse uma Central Sindical séria destituiria imediatamente o seu presidente, por traição dos interesses dos trabalhadores. Infelizmente, nada na trajetória recente desta organização nos anima a ter essa expectativa. Mas não podemos deixar de denunciar e repudiar este tipo de prática sindical subordinada e submissa ao governo e aos patrões.