Foto: Lula Marques/AGPT
Zé Maria

Metalúrgico e presidente nacional do PSTU.

Os episódios ocorridos no Senado semana passada, e que devem ter desdobramentos nesta primeira semana de outubro, que envolveram o PT e o PCdoB no esforço para salvar o mandato e evitar a prisão do senador Aécio Neves do PSDB é de fazer pensar. A operação “salva Aécio” foi uma reação desencadeada contra decisão do STF que obteve rara unanimidade no Senado Federal.

Eu imagino que, para o segmento da esquerda brasileira que comprou e reproduz o mantra petista de que houve um golpe contra o governo da presidenta Dilma, as coisas devem ter ficado estranhas. Afinal, Aécio Neves é justamente o político que, não aceitando a derrota que sofreu nas urnas para Dilma, urdiu o chamado golpe para derrubá-la. Como assim, então, que os mais ferrenhos denunciadores do golpe, saem agora em defesa do chefe dos golpistas?

Faço aqui três reflexões que considero úteis para compreender o que se passa, de verdade. A primeira não é nova, já a fiz aqui em outras ocasiões: a direção do PT e a direção do PCdoB nunca acreditaram nesta história de golpe. Usam este argumento para fugir de uma discussão séria acerca do balanço do governo petista que apoiavam e que atacou impiedosamente os direitos dos trabalhadores. Isso gerou a perda de apoio popular que provocou a crise que derrubou Dilma. Então, abandonar a defesa desta ideologia não é tão complicado para quem nunca acreditou nela de verdade.

A segunda reflexão é sobre o argumento apresentado agora. Defender o mandato de Aécio e evitar sua prisão é defender a democracia, o Estado de Direito. Cinicamente o PT, ao defender Aécio contra a decisão tomada no STF, diz que ele deve ser punido pela Comissão de Ética do Senado. A mesma que já arquivou o pedido de punição ao Senador.  Poderia ser uma boa piada se o assunto não fosse trágico.

Não é essa a explicação real para o que estão fazendo estes dois partidos. Não é de agora, aliás, que estes partidos dão pouca ou nenhuma bola para estas questões. O PT, com o apoio do PCdoB, governou o Brasil por 14 anos. Neste período aprovaram a Lei das Organizações Criminosas e a Lei Antiterrorismo, usadas largamente para reprimir e criminalizar os movimentos e ativistas das lutas sociais.

As mudanças na Lei Anti-Drogas promovidas ainda no primeiro mandato do presidente Lula é responsável pelo salto na população carcerária no Brasil, de 300 mil naquele momento para mais de 600 mil pessoas hoje. Destas, mais de 200 mil estão presas – algumas há anos – sem nunca terem sido julgadas. Veja, não é que só foram condenadas até a segunda instância, faltando ainda a terceira, como reclamam os políticos atualmente. Nunca foram julgadas! O que fez o governo do PT contra essa situação? Nada! O que fez o governo do PT contra os mais de cinco mil assassinatos de jovens negros e pobres que ocorrem na periferia dos grandes centros urbanos do país, todos os anos? Nada!

Não, defesa de Estado Democrático de Direito não é o que move a direção petista e seus aliados. O que move estes dirigentes é a busca de um acordo com o PSDB, PMDB, PP, DEM, PSD para salvar todos os políticos e dirigentes partidários que estão acusados de crimes de corrupção no país. Buscam um acordão geral para livrar a cara de todos eles. Chega a ser triste ver dirigentes que, no início da Lava Jato bradavam que esta operação era perseguição ao PT em benefício de Aécio Neves e do PSDB, agora bradarem contra a Lava Jato em defesa de Aécio Neves e os demais pilantras do PMDB e outros partidos da mesma laia.

Todos os que temos tradição na luta da classe trabalhadora sabemos que não se pode depositar nenhuma confiança no judiciário que aí está. Trata-se de instituição que sempre esteve e vai continuar na defesa dos interesses das elites que controlam nosso país. Nunca podemos deixar de denunciar isso, pois não será do judiciário, assim como do parlamento ou do poder executivo vigentes hoje, que sairá uma alternativa para nosso país que esteja de acordo com os interesses da classe trabalhadora. Pelo contrário, esta alternativa teremos de construir na luta contra todas estas instituições.

Mas daí a ver os dirigentes petistas e seus aliados defenderem a impunidade para quem rouba recursos públicos há uma distância abismal. E é inacreditável ver que ainda existem setores que se reclamam da esquerda socialista defenderem estes dirigentes e seus projetos.

Felizmente setores cada vez mais amplos da classe operária, dos trabalhadores e setores oprimidos de nosso país recusam essa narrativa. Entendem que, para defender os direitos e interesses dos trabalhadores, o caminho não é este que nos propõe a direção do PT, o “Fica Todos Eles”. Compreendem que a tarefa que se impõe para mudar o nosso país e a vida do nosso povo é colocar para Fora Todos Eles! Este é o desafio que está posto para nossa luta.