Logo terminou o seminário de reorganização, o Opinião Socialista conversou com José Maria de Almeida, o Zé Maria, da Secretaria Executiva da Conlutas, que falou sobre a importância e os desdobramentos do eventoOpinião Socialista – Qual a importância desse seminário?
Zé Maria
– Muito grande. Pode levar à superação da fragmentação que ainda caracterizava a reorganização no campo da esquerda. Para que possamos ter em 2010 uma organização muito superior ao que é hoje a Conlutas, a Intersindical, o MTL, o MTST, ao MAS e demais organizações que aqui estiveram.

Qual o papel do congresso convocado pelo seminário?
Zé Maria
– O congresso vai decidir sobre os temas sobre os quais não tivemos acordo. A concepção dessa organização e o sistema de deliberação. Vai se reunir em junho, e as votações terão a participação do movimento sindical e também do movimento popular, se nós chegarmos a um critério de representação consensual que garanta a participação do movimento popular. Então, acho que aqui se estabelece bases que permitem um avanço muito grande no processo de reorganização do movimento no Brasil.

No início do seminário, vigorava um clima de impasse, mas no final, praticamente todos os setores o consideraram uma grande vitória. Como se desenvolveu esse debate?
Zé Maria
– A diferença com os companheiros da Intersindical, sobre a natureza da nova entidade não é pequena. A opinião da Conlutas se baseia numa análise da situação atual e da luta de classes no país, que aponta para a necessidade de unirmos todas as expressões de luta da classe trabalhadora e dos setores oprimidos. A classe operária é o sujeito social fundamental para a luta revolucionária, mas ela precisa construir alianças sólidas com os demais segmentos da classe trabalhadora.

E, sobre as estruturas de deliberação da nova entidade, as nossas diferenças com os demais companheiros também não são secundárias. Então é óbvio que o debate foi tenso.

Mas acho que houve esforços importantes de todas as organizações que aqui estiveram e se superou um obstáculo muito importante nesse seminário. Temos agora que nos voltarmos aos setores que não estão participando ainda, chamá-los à responsabilidade para que venham a se somar. Como a ASS e os companheiros do PCB, que nesse momento estão fora.

Qual a perspectiva para o próximo período e as principais tarefas?
Zé Maria
– Temos que continuar a dar resposta às lutas dos trabalhadores, por suas demandas concretas e contra os efeitos da crise.

A outra tarefa é tomar todas as iniciativas que assegurem a preparação do congresso. Tanto aquilo que são as decisões de âmbito mais organizativo, ou seja, os critérios de representação, data, local, como também as tarefas mais políticas. Seguir a discussão sobre os temas que ainda não temos acordo. Fazer o debate político preparatório, preparar as teses. São duas tarefas muito importantes que se combinam.

O congresso vai se chamar Conclat (Congresso da Classe Trabalhadora), o mesmo nome do congresso que impulsionou a formação da CUT no início dos anos 80. Dá para traçar esse paralelo?
Zé Maria
– Eu diria que do ponto de vista da importância histórica, sim. Os trabalhadores vão ser levados a encarar o mesmo desafio que tivemos quando rompemos com as confederações para construir a CUT. Nesse momento estamos rigorosamente fazendo a mesma coisa.

Mas não temos a pretensão de dizer que o congresso terá a mesma dimensão que aquele, pela diferença da situação da luta de classes. Somos ainda minoritários, muito mais do que os setores que estiveram lá, quando construímos a CUT. Mas queremos dar esse nome pela simbologia. É a classe trabalhadora e sua representação mais avançada que se reúne para fazer avançar sua luta e, principalmente, construir uma ferramenta de organização capaz de contribuir para a luta imediata e a luta histórica que temos pela frente.

O que você diz ao ativista que passou os últimos anos construindo a Conlutas, perante as resoluções desse seminário?
Zé Maria
– Acho que se existe um setor que pode estar orgulhoso do que se conquistou nesse seminário, é justamente a moçada da Conlutas. Os sindicatos, o movimento popular, estudantil, de luta contra as opressões. A Conlutas não é o nome e a estrutura que acumulamos nesses anos, é uma bandeira de luta. Parte da defesa de nossas reivindicações concretas, dos trabalhadores nesse momento, e avança até a luta para construção das condições para fazermos uma revolução e mudarmos esse país. E nós demos um passo muito importante no sentido de fortalecer essa bandeira. O patrimônio que construímos até agora não vai ser deixado de lado, pelo contrário. Vai ser somado a muitos patrimônios que foram construídos por outros companheiros e teremos outro patrimônio, muito mais forte do que aquele que acumulamos com a Conlutas até aqui.

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