Zé Maria, da Conlutas
Arquivo PSTU

Para mais detalhes sobre a construção do encontro do dia 25, o Opinião Socialista entrevistou José Maria de Almeida, o Zé Maria, da direção da Federação Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais e da Coordenação da Conlutas. Zé Maria falou sobre o processo de construção da unidade dos trabalhadores contra as reformas.

Opinião Socialista – Como estão os preparativos para o encontro?
Zé Maria – Os preparativos estão caminhando bem. Há uma animação grande nos estados com o encontro, e ele pode cumprir, guardadas as proporções, o papel do evento de Luziânia, realizado em 2004, em seu momento. O jornal do encontro já foi distribuído para as entidades de todo o país e começa a ser reproduzido agora o boletim de convocação. A distribuição massiva do boletim é importante para que os trabalhadores e jovens estejam informados do que está acontecendo, e da unidade que se está construindo. Também os estudantes estão animados, a previsão deles é de grande participação de jovens no encontro. Em alguns estados, ocorrerão plenárias e encontros preparatórios e as caravanas começam a ser organizadas, indicando uma presença muito importante. Na última reunião de preparação que fizemos, a perspectiva era da presença de cerca de 3.500 pessoas em São Paulo no dia 25, o que seria muito representativo.

Opinião – Quais setores estão envolvidos na construção do dia 25?
ZM – Também neste aspecto a evolução é bastante positiva. Avançou muito desde que votamos a resolução, no CONAT, de buscar organizar este encontro. Além das entidades que estão com a Conlutas construindo a encontro desde o congresso, estão também integrados na organização o Fórum Sindical dos Trabalhadores, que congrega 14 Confederações Nacionais; os companheiros da Intersindical, envolvendo alguns sindicatos que ainda estão na CUT e outros que estão rompendo; as Pastorais Sociais de São Paulo, da Igreja Católica, com destaque para a Pastoral Operária de São Paulo. Agora se soma também ao processo outro setor muito importante: o MST, que já participou da última reunião preparatória do encontro e estará presente, ajudando a construir o plano de ação comum que devemos lançar lá. As organizações do Jubileu Sul estão também discutindo para decidir se participam.

Opinião – Por que a organização do encontro se ampliou tanto?
ZM – Na verdade, o encontro vai firmando-se como um pólo de aglutinação de forças que querem lutar neste momento em que vive o país. Surge como uma resposta concreta à recomposição que vivemos no movimento sindical e nos movimentos sociais, gerada pela crise aberta com a ascensão de Lula ao governo em 2003. Mais do que o evento em si, o encontro pode apontar para a consolidação de um pólo de unidade de ação ou de frente única para a luta, muito importante agora para enfrentar as reformas neoliberais, com a da Previdência à frente. E no futuro, para as demais lutas e desafios.

Opinião – Qual é a diferença entre a luta contra as reformas hoje e a mobilização contra a reforma da Previdência de Lula em 2003?
ZM – Há um ambiente mais favorável à resistência dos trabalhadores hoje, se comparamos com 2003. A experiência com o governo Lula avançou neste período. Embora exista ainda uma parcela muito importante da classe trabalhadora apoiando o governo, já há um setor também muito grande que dele não espera mais nada. Esta experiência se expressa também na recusa da população em aceitar reformas e privatizações, como podemos ver inclusive em pesquisas. Há também um avanço organizativo dos trabalhadores. A crise da CUT dificulta o seu papel de freio para as lutas. Ela segue sendo um bloqueio muito importante, mas não é instransponível. A construção da Conlutas, por outro lado, permite à classe trabalhadora contar com um instrumento para esse enfrentamento que, apesar de ser ainda minoritário, é muito importante. A própria construção da frente que está se configurando para o encontro só está sendo possível porque houve um trabalho consciente da Conlutas, com a colaboração de outros setores, para que as coisas caminhassem assim. Então, é possível dizer que o governo tem menos força do que tinha em 2003 e que os trabalhadores estão mais bem preparados para enfrentá-lo do que naquele momento. Isto não quer dizer que a luta será fácil, vai ser muito difícil. Mas é possível vencer.

Opinião – Quais são as expectativas para o encontro?
ZM – A expectativa é que o encontro lance um plano de ação unificado, que está sendo construindo nas reuniões preparatórias e na discussão com as entidades de base. Este plano deve levar em conta o calendário já existente, dos diversos movimentos, indicando nossa participação nestas lutas, fortalecendo-as por um lado e, por outro, levando a elas as bandeiras contra as reformas. Por exemplo, todos participaremos do Abril Vermelho do MST, na luta contra a violência no campo e pela reforma agrária, fazendo com que assuma também as bandeiras contra as reformas. Além disso, a proposta em discussão é tomar o 1º de Maio como data fundamental de unificação de todos os setores no resgate de sua tradição de luta e classista, a começar por fazer uma manifestação qualitativamente superior, na praça da Sé, em relação às que temos feito nos últimos anos. Estamos estudando também a possibilidade de aprovar uma semana nacional de lutas contra as reformas no final de maio e início de junho, com manifestações, paralisações e fechamento de estradas em todo o país. Para o início do segundo semestre, a idéia é fazer uma primeira grande manifestação em Brasília. Também serão preparados debates e seminários para ajudar na disputa da consciência da população contra as reformas. Outra coisa importante a destacar é que a plataforma política que vai constituir a base de unidade entre todos estes setores, além das reformas, deve incorporar também outras bandeiras, como a luta contra o PAC, pela anulação do leilão da Vale do Rio Doce, por emprego, salário mínimo, reforma agrária, educação e moradia, contra a transposição do São Francisco, etc. Também é necessário que o encontro signifique um passo adiante na consolidação deste pólo de unidade que vem sendo construído.

Opinião – Quais são as principais tarefas colocadas para o próximo período?
ZM – As principais tarefas que temos pela frente é garantir a realização de um grande e vitorioso encontro em março, colocar em prática o plano de ação que definirmos aí e ao mesmo tempo seguir fortalecendo este pólo de aglutinação de forças para as lutas futuras. É preciso continuar o esforço de fortalecimento da Conlutas, consciente do papel que ela está cumprindo e pode vir a cumprir neste processo. Além de seguir trazendo novas entidades e movimentos para a Conlutas, de filiar novas entidades – o Andes acaba de votar em seu congresso a filiação à Conlutas. É muito importante avançar também na organização e estruturação da própria Coordenação.
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