O Dia Nacional de Luta mobilizou milhares de trabalhadores em todo o país. O Opinião Socialista conversou com Zé Maria de Almeida, da Executiva Nacional da Conlutas, que fez uma breve avaliação do dia e traçou as perspectivas para a continuidade do movimeOpinião Socialista – Qual a sua avaliação sobre o Dia Nacional de Luta?
Zé Maria
– Foi um dia importante de protesto em todo o país. O balanço que faço é positivo. As manifestações de rua foram ainda de vanguarda, mas foram as mais importantes que fizemos no último período. Em particular, acho importante destacar a unidade na ação que se construiu. Apesar das diferenças entre as centrais sindicais, a unidade foi importante, justamente para assegurar a vitória dessas mobilizações e fortalecer a resistência que os trabalhadores desenvolvem para conter a onda de demissões ou as tentativas das empresas de reduzir salários e direitos. Nesse aspecto, tende a fortalecer a continuidade desse processo de resistência que precisa se estender.

Qual o papel desempenhado pela Conlutas?
Zé Maria
– Acho que a Conlutas cumpriu um papel importante por duas razões: até o começo do ano, não havia um dia nacional de lutas pensado para o país. Foi a convocação pela Conlutas com seus parceiros, a Intersindical e outros setores, que provocou o debate. Propomos que as centrais fizessem conosco os atos no 1° de abril, e a CUT, pra tentar dividir e impedir a unidade, marcou o dia 27 de março. A partir disso, houve toda uma pressão e se chegou a um acordo para marcar a data no dia 30 com todas as centrais. A Conlutas julgou importante concentrar as manifestações no dia 30 de março. Mas quero destacar isso: surgiu um Dia Nacional de Luta porque a Conlutas teve a iniciativa de marcar, puxando as demais organizações.

Mesmo assim, as mobilizações do dia 30 poderiam ter sido maiores?
Zé Maria
– A Conlutas teve uma coluna grande em São Paulo e em todo o país. Foram atos de protesto contra os patrões e contra os governos. Agora, essa não foi a postura de todo o mundo. A CUT, por exemplo, tentou impedir um dia nacional de luta e hoje fez pouca coisa diante do seu peso político. Não paralisou nenhuma fábrica, nem no ABC, nem em lugar nenhum. Isso mostra a pouca importância que deram para o dia de hoje. Nesse aspecto, não podemos dizer que houve uma participação com mesmo empenho por parte de todos.

A CUT se reuniu, no mesmo dia 30, para anunciar a redução do IPI. Como você vê isso?
Zé Maria
– A Conlutas tem insistido que essas medidas como isenção de crédito e injeção de dinheiro nas empresas ajudam a manter os lucros dos empresários. Não ajuda os trabalhadores. Todas essas empresas que pegaram dinheiro com o governo demitiram. Depois de receber redução do IPI e R$ 4 milhões do governo Lula e mais R$ 4 milhões do governador José Serra, as montadoras demitiram quase 8 mil trabalhadores. Agora, nesses próximos três meses em que estará em vigor a redução do IPI, eles fingem que não vão demitir. Mas a Ford acabou de anunciar um PDV e vai botar para fora não se sabe quantos trabalhadores.

Esse acordo não serve. O governo precisa parar de dar dinheiro para as empresas e baixar uma lei que proíba as demissões. Uma medida provisória que proteja os empregos. Esse dinheiro deve ser aplicado na construção de hospitais, escolas, saneamento básico, enfim, para melhorar a vida do povo.

A luta da Embraer poderá ajudar na resistência?
Zé Maria
– Um elemento de continuidade importante para essa unidade é a luta na Embraer, pela reversão das demissões e também pela reestatização da empresa. A prepotência e a arrogância com as quais a Embraer trata seus funcionários são as mesmas em relação aos interesses do país. Quando vemos que 70% das ações estão nas mãos de fundos especulativos, entendemos o porquê dessa arrogância. O interesse desses grupos é lucro rápido e farto. Não estão preocupados com as demissões de trabalhadores, menos ainda com o desenvolvimento de uma indústria que é estratégica para o país. Essas são as razões para que o governo reestatize a empresa e a coloque sob o controle dos trabalhadores.

Quais são as perspectivas dessa luta e da unidade?
Zé Maria
– A unidade tem a ver com a mobilização. Não vai ter reestatização da Embraer, reintegração dos demitidos ou a edição de uma lei que proteja o emprego se não tiver uma ampla mobilização. Sem luta de massas não vai ter atendimento dessas reivindicações. Temos que avançar na construção do processo de mobilização. Avançar além do que construímos até agora. O dia 30 foi um pontapé importante, mas o próximo passo é a construção de uma greve nacional, fazer uma paralisação nacional. Tudo para aumentar a pressão sobre os patrões, o governo e o Congresso.

  • Ato nacional reuniu mais de seis mil em São Paulo

    CUT, Força e o acordo de renovação do IPI

    Post author
    Publication Date