O Opinião entrevistou José Maria de Almeida, presidente nacional do PSTU, que fala sobre as mobilizações do dia 11, polemiza com a CUT e defende um modelo econômico dos trabalhadores. Confira

Como está a preparação das mobilizações do dia 11?
Zé Maria – Vamos ter um processo de lutas e paralisação muito forte no dia 11 de julho. Vamos ter, provavelmente, uma das maiores greves nacionais que nosso país já viu em sua história recente. Há um processo amplo de preparação que envolve setores operários importantes. Devemos ter greve dos metalúrgicos de São Paulo, de Guarulhos e Osasco. Deve ter greve nas montadoras do ABC, dos metalúrgicos de São José dos Campos, Campinas e Santos. Vamos ter paralisação de metalúrgicos em Minas Gerais. Vamos ter greve da construção civil em Belém e em Fortaleza, que vai se combinar com uma greve dos transportes e com a greve do porto de Pecen. Vamos ter greve nas obras do PAC. Estamos organizando uma paralisação em Belo Monte e em Suape. 
Vamos ter a adesão de vários setores importantes do movimento de massa do país. Temos uma greve decidida pela entidade nacional dos servidores públicos federais. O metrô de São Paulo acabou de votar numa assembléia greve. O metrô também deve parar em Belo Horizonte e em Porto Alegre. Vai haver greve de motoristas. Vamos ter uma greve forte dos servidores públicos no Rio Grande do Norte. O sindicato da saúde já votou pela greve. Vai ter greve na educação no Rio Grande do Sul
Ou seja, nós estamos frente a um processo generalizado de mobilização que pode significar a entrada da classe trabalhadora, de forma organizada, com seus métodos de luta e suas reivindicações, nesse processo de mobilizações que estamos vivendo em nosso país. 
A origem das mazelas do povo, que geram a insatisfação que se vê nas ruas, é esse modelo econômico. É a mesma origem que gera o descontentamento dos trabalhadores organizados, que tem gerado ataques aos nossos salários, às nossas condições de vida. É um modelo econômico que privilegia os lucros dos bancos, das grandes empresas, do agronegócio e empreiteiras, em detrimento das necessidades dos trabalhadores.  
O dinheiro que falta para a educação, saúde, moradia e transporte é o dinheiro que o governo passa para os bancos na forma do pagamento da dívida externa e interna. Só no ano passado foram R$ 750 bilhões que o governo destinou aos banqueiros e especuladores. Agora esse governo vem dizer que não dá para aumentar o orçamento pra saúde porque não tem recurso. Não é verdade, recurso tem e está sendo passado para os bancos. 
O governo marcou para outubro o leilão das reservas do Pré-sal. Já fez leilões de várias reservas de petróleo no Brasil. 
 
Quais são as principais bandeiras de lutas desse dia de mobilização? 
Zé Maria – As bandeiras definidas pelas centrais para o dia 11 são reivindicações tradicionais da classe trabalhadora brasileira. Em primeiro lugar, reduzir a tarifa e melhorar a qualidade do transporte. Em segundo lugar, aumentar os recursos na saúde, educação. Menos dinheiro para as empresas e para Copa do Mundo. Em terceiro lugar, fim dos leilões de privatização do nosso petróleo. Em quarto lugar, redução da jornada de trabalho, sem redução de salário. Queremos o fim do fator previdenciário e aumento nas aposentadorias. Queremos também o arquivamento do PL 4.330 que amplia as terceirizações e precariza ainda mais o trabalho. Queremos a reforma agrária e não o privilégio dado ao agronegócio pelo governo. 
 
A CUT vem defendendo a bandeira da reforma política e o plebiscito do governo Dilma. Qual é a sua avaliação sobre isso? 
Zé Maria – Toda essa mobilização é importante, mas precisamos identificar um problema. Por parte da CUT, de setores do MST e de alguns setores dos movimentos populares, tenta-se colocar como bandeira política a bandeira da reforma política e a defesa do plebiscito proposto por Dilma. Não é nenhuma coincidência que essas bandeiras políticas sejam defendidas pelo governo para tentar diminuir a crise e as mobilizações que o país vive. O que essas organizações querem é tentar desviar essas mobilizações. O processo de lutas pretende cobrar dos governos municipais, estaduais e do governo federal o atendimento das reivindicações. As mobilizações, portanto, se chocam contra o modelo econômico que o governo aplica. O que esses setores querem é tentar que essas mobilizações apareçam como um apoio ao governo, à sua reforma de plebiscito e de reforma política. Não concordamos com isso. Isso não foi aceito como parte das bandeiras unificadas. Isso tudo é parte da disputas que vai haver no movimento. 
 
Por que a CUT chama os protestos no dia 11?
Zé Maria – A CUT, a central sindical mais governista do país, está sendo obrigada, pelo processo que se dá na sua base, a convocar a paralisação. Não podemos nos iludir. Essa central vai tentar desviar o foco das mobilizações lá na frente porque sua estratégia não é a defesa das reivindicações da classe trabalhadora. A estratégia da CUT é a defesa do governo.  Por isso é importante a gente atuar em sentido contrário, fortalecendo a mobilização, colocando as demandas dos trabalhadores e direcionar esse processo contra os patrões, mas também contra os governos, que são responsáveis pelas mazelas da vida do povo. 
 
E depois do dai 11, quais são os desafios? 
Zé Maria – Dia 11 é muito importante, mas é só um primeiro passo. Depois vai se colocar vários desafios, um deles é construir um programa a partir das demandas mais sentidas dos trabalhadores, mas que apontem para as mudanças de fundo como a mudança do modelo econômico.  Não vai haver dinheiro para educação, saúde, moradia e transporte público  enquanto o Brasil destinar metade do seu orçamento para pagar as dívidas externa e interna.  O não pagamento da dívida interna e externa tem que ser uma bandeira que a gente levante com força. 
Parar todo processo de privatização e retomar para o povo brasileiro o patrimônio que foi entregue às empresas privadas. Isso é fundamental para que possamos usar os recursos que o país tem a serviço do povo. É preciso destinar o dinheiro do pagamento das dívidas para aumentar o salário dos servidores e pagar um salário digno ao professor. Temos que apontar para outro modelo econômico, que atenda as necessidades da classe trabalhadora. 
Achamos que é importante levantar a proposta de uma greve geral de fato para o Brasil, de um dia, dois ou tempo indeterminado. A CSP-Conlutas vai seguir a impulsionar e a organizar os trabalhadores defendendo um programa que aponte para uma mudança de fundo do país. Achamos que os trabalhadores precisam construir uma alternativa política, de governo para o Brasil. Nem o PT que está governando com os empresários, nem o PSDB, a velha direita. Precisamos de um governo da classe trabalhadora.  
 

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