José Luis Rodríguez Zapatero foi reeleito presidente da Espanha no domingo, 9 de março. O candidato do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) venceu Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP), por uma margem semelhante à de 2004.

Tanto o PSOE quanto o PP foram mais votados que em 2004. O partido de Zapatero foi de 42,59% para 43,64% dos votos. Apesar de derrotado, o PP cresceu de 37,71% para 40,12%. Esses números referem-se à disputa pelas vagas no Congresso. Como na Espanha o sistema é parlamentarista, o partido que obtiver mais deputados indica o presidente do governo. No Senado, que não influencia na escolha do governante, o PP segue com ampla maioria.

Das 350 vagas no Congresso, o PSOE obteve 169 contra 153 do PP. Refletindo um forte bipartidarismo, como o dos Estados Unidos, os demais partidos conseguiram apenas 28 cadeiras. Os dois principais partidos, que na prática pouco se diferenciam entre si, abocanharam 92% dos votos ao Parlamento, fato inédito. O que talvez signifique que a democracia na Espanha não seja tão plural quanto diz ser.

Terrorismo de véspera
Na última eleição, em 2004, o PP de José Maria Aznar perdeu para Zapatero aos 46 minutos do segundo tempo. O então presidente já vivia as mobilizações contra as tropas no Iraque. Três dias antes da eleição, atentados deixaram 191 mortos no metrô de Madri. Aznar culpou o ETA, grupo armado que luta pela independência do país basco, mas foi desmoralizado quando a Al Qaeda assumiu o ataque.

Este ano, a dois dias da eleição, outro atentado suspendeu a campanha. Desta vez, o ETA foi o autor, causando a morte de um ex-vereador do PSOE. As posições se inverteram e Zapatero foi a “vidraça”, mas o acontecimento não impediu a sua vitória.

PSOE e IU não representam os trabalhadores
Por tudo isso, o PRT, seção da LIT-QI, não chamou voto em Zapatero, resistindo à chantagem do voto útil, de que a esquerda deveria apoiá-lo para evitar a volta da direita.

Zapatero fez grande alarde sobre a retirada das tropas espanholas do Iraque, mas em seguida as enviou ao Afeganistão e ao Líbano para proteger os EUA e Israel. Muito amigo da decadente monarquia, o presidente não tolera críticas ao rei Juan Carlos e reprime as mobilizações e a imprensa. Em Gijón, dois sindicalistas foram presos pelo “crime” de defender seus empregos, e os dirigentes metalúrgicos de Vigo estão sendo processados.

Tampouco apoiou a candidatura de Izquierda Unida (IU), que durante o governo deu cobertura a Zapatero, com um verniz mais “à esquerda”. Com uma campanha de tímidas críticas de última hora, seu líder, Gaspar Llamazares, chegou a pedir um ministério em troca de um futuro apoio. O desempenho da IU foi decepcionante, caindo de 4,96% para 3,84% dos votos, ou de cinco para três deputados.

Nenhum candidato representou a luta pelo salário, nem pelos direitos dos imigrantes, nem pela autodeterminação das nacionalidades, nem contra a reforma trabalhista e a precariedade e muito menos a ruptura com a monarquia.

Fim do crescimento econômico e repressão nos aeroportos
A euforia pelos 14 anos de crescimento acima da média dos demais países europeus está acabando. O desemprego subiu pela primeira vez em quatro anos, superando dois milhões de pessoas, afetando especialmente a construção civil. Não é à toa que a Espanha vem endurecendo o controle da entrada de estrangeiros, principalmente de países como o Brasil e do conjunto da América Latina. Começam a faltar empregos. Mas o governo, por um lado, necessita da imigração para manter o funcionamento de suas empresas com a super-exploração da mão-de-obra. Por isso não aceita uma verdadeira integração, justamente para que os imigrantes não tenham os mesmos direitos dos trabalhadores nascidos na Europa. Além disso, a burguesia utiliza os ataques aos imigrantes para dividir os trabalhadores. Por isso o rigor nos aeroportos, a dificuldade em renovar vistos de trabalho e a perseguição aos imigrantes sem documentos.
Cerca de 10% da população espanhola é formada por imigrantes ilegais. Para reduzir esta proporção, Zapatero chegou a oferecer dinheiro para que a população tivesse mais filhos – o “cheque-bebê” de R$ 6.500, inacessível para os imigrantes ilegais, evidentemente.

Sem casa
Hoje, os espanhóis vivem às voltas com três problemas principais: moradia, trabalho precário e inflação. O Euribor, índice que determina o preço das hipotecas, chegou, em dezembro, ao nível mais alto desde 2000. A prestação média de um imóvel residencial no ano passado equivale a R$ 2.170 ou R$ 310 a mais que em 2006 – um crescimento de 13,52%. Considerando que o salário mínimo é igual a R$ 1.574, a casa própria é uma utopia para os espanhóis.

Como nos EUA, a bolha imobiliária começou a arrebentar. O governo precisa garantir os interesses de bancos, imobiliárias e construtoras. Ciente da crise que se aproximava, Zapatero começou, em 2007, a anunciar medidas para a moradia, como uma ajuda aos jovens e subvenções.

Também os preços dos produtos de primeira necessidade, como leite, pão e ovos, vêm crescendo assustadoramente. O índice de inflação chegou a 4,3% no ano passado, o mais alto em 12 anos. Entre 2001 e o fim de 2007, os produtos da cesta básica tinham subido mais de 40%, enquanto a inflação ficou em 21,8% e o salário médio cresceu apenas 7,95%.

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