Um arquivo online com as mais variadas experiências das correntes de esquerda. Essa é a proposta do Arquivo Leon Trotsky. Martín Hernández e Iraci Borges explicam essa ousada ideia e falam da importância para militantes e pesquisadores Qual é o objetivo da página Arquivo Leon Trotsky?
Martín Hernández – O objetivo de nossa página é tornar públicos os documentos que estão guardados nos arquivos das organizações revolucionárias.

Tornar públicos documentos secretos?
Martín Hernández – Esse é um dos objetivos. Efetivamente, nos arquivos das organizações revolucionárias, existe uma grande quantidade de documentos que até agora foram secretos. No momento certo e por razões de segurança, esses documentos não puderam tornar-se públicos, mas depois de 30 ou 40 anos podem ser visitados sem maiores problemas. Por exemplo, existem milhares de documentos produzidos na década de 1970 na América Latina, quando na maioria dos países governavam ditaduras militares. A página vai tornar pública uma parte importante desses documentos.

Iraci Borges – Existem jornais, revistas, gravações, vídeos etc. que há várias décadas tiveram caráter público, mas que são desconhecidos para novas gerações. Esses documentos também estão guardados nos arquivos, com grande quantidade de materiais de formação marxista, como escolas, conferências e seminários sobre os mais diversos temas, dados importantes de dirigentes já falecidos.

Qual é a utilidade política de uma página deste tipo?
Martín – achamos que para a militância revolucionária um arquivo como o que estamos construindo não só é importante, mas é imprescindível.

Cada vez que uma organização ou um militante revolucionário se enfrenta a uma nova situação e não precisa inventar a roda. Porque outros revolucionários, antes dele, deram respostas a situações similares, mas sim é necessário partir das conclusões a que chegaram no momento certo. Essas experiências podem ser achadas nos livros e, fundamentalmente, nos arquivos.

Iraci – Em geral, os revolucionários recorrem a essas experiências e o fazem a partir dos poucos livros marxistas que existem no mercado, mas são poucos os que têm possibilidades de ter acesso a um bom arquivo, porque a maioria das organizações não os possuem ou os têm de forma muito limitada. Por outro lado, na instância de um determinado país e dadas as distâncias, é impossível que os militantes ou pesquisadores possam trabalhar cotidianamente com um arquivo de uma determinada organização.

E qual é a proposta do arquivo para aproximar militantes e pesquisadores?
Iraci – São duas. Por um lado, construir um grande arquivo de caráter internacional e, por outro, conseguir, através da internet, que um militante ou um investigador, de qualquer lugar do mundo possa ter contato cotidiano com esse arquivo.

O objetivo de nossa página é facilitar ao máximo o acesso das pessoas ao arquivo. Por isso, além de um sistema de busca, similar aos que já existem na internet, apresentaremos de maneira destacada os documentos mais importantes.

O arquivo será apenas da corrente morenista?
Martín – Não. Nosso objetivo é colocar no arquivo todos os documentos que possam ser de utilidade para os revolucionários. Se atualmente o grosso destes são da corrente fundada por Nahuel Moreno é porque a revista de teoria e política “Marxismo Vivo” (do Instituto José Luís e Rosa Sundermann), que promove este projeto, se identifica com tal corrente. Mas isso é só o começo. Nosso objetivo é colocar os mais variados documentos das mais variadas correntes, inclusive os daquelas correntes inimigas da revolução socialista, porque consideramos que esses materiais também são úteis para os revolucionários.

Quantos documentos existem na página?
Iraci – O arquivo começou a funcionar no dia 29 de maio com 367 documentos, dos quais 268 eram textos e 99 imagens. Agora há 760 documentos, 589 são textos e 171 imagens.

Começamos com poucos documentos, ainda quando em nosso banco de dados existem mais de 10 mil. Esta disparidade entre os documentos que temos e o que estão disponíveis na página se deve a que cada um tem que ser revisado antes da publicação. Na fase atual, nosso objetivo é liberar cerca de 400 documentos cada mês.

O acesso será livre?
Iraci – Atualmente sim, mas em alguns meses só os assinantes poderão ter acesso ao conjunto dos documentos.

Ainda que nossa página não vise o lucro, necessita cobrir os custos de produção, que são muito altos. É necessário entender, então, que estamos começando a construir um arquivo internacional e colocando ele a disposição dos revolucionários de todo o mundo. Isto pressupõe despesas enormes na instância de máquinas, viagens, digitalização, traduções.

Martín – De qualquer maneira, levando em consideração que a grande maioria dos revolucionários são pessoas de poucos recursos, vamos propor assinaturas muito econômicas, apenas 5 dólares mensais. Assim, o futuro da página, tanto no que tange à quantidade de documentos como à quantidade de idiomas em que eles serão apresentados, estará subordinado à quantidade de pessoas que o assinem.

Querem acrescentar algo?
Martín – Sim, queríamos ressaltar uma aparente contradição entre a ousadia do projeto que encaramos, que é fazer algo inédito: construir o Arquivo da Revolução Socialista, e o começo bastante humilde deste, já que inauguramos a página com menos de 400 documentos.

Esta aparente contradição tem a ver com o fato de que não somos uma empresa capitalista, mas um grupo de socialistas revolucionários que, como tais, nos propomos tomar o “céu por assalto” começando por dar humildemente os primeiros passos. Nesse sentido, fazemos o mesmo de todos aqueles pequenos grupos que começam a organizar-se para mudar o mundo e que são profundamente otimistas apesar de seu tamanho inicial, porque sabem que se apóiam em poderosas forças sociais. Somos otimistas, porque sabemos que não estamos sós nesta tarefa de construir o Arquivo da Revolução.

Desde que lançamos a ideia da página, recebemos apoio de muitos setores e de muitos países, tanto no aspecto financeiro como de materiais para o arquivo. Agora é necessário que esse apoio se amplie. Por isso, pedimos – a todos que compartilham dos ideais do projeto do Arquivo Leon Trotsky – que visitem e divulguem a página e que, além de assinarem, consigam novos assinantes.

*Tradução: Antonio C. Moraes
Post author fonte: www.LITci.org
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