Cartaz original do evento
Reprodução
Redação

Foi num 15 de agosto há 40 anos, que teve início um dos mais míticos shows da história da música: o Festival de Woodstock. Aliás, o que ocorreu na área rural de Bethel, nos arredores de Nova York, foi muito mais que um show. Foi a celebração de uma época.

 

O caminho para Woodstock foi sedimentado por eventos e tribos que surgiram na situação aberta depois da Segunda Guerra Mundial. A derrota do nazismo, o deslocamento de milhões de pessoas, a rejeição à ordem que levou o mundo ao conflito (apenas para citar alguns elementos) fizeram com que os anos 1950, em termos socioculturais, fossem marcados pelo embate de projetos.

De um lado, estavam os conservadores, tentando desesperadamente resgatar a ordem perdida. Do outro, uma infinidade de questionamentos tomavam forma ora em rebeliões e revoluções que sacudiam o mundo, ora no surgimento crescente de novas formas de ver, interpretar e representar o mundo.

No campo cultural, o rock n´roll, a poesia beatnik de gente como Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs e o movimento hippie (ou Flower Power) foram algumas das formas tomadas por esta rebelião. Já no início dos anos 1960, todas estas tribos e tendências se cruzavam pelas rotas da contracultura.

Um exemplo pitoresco aconteceu no início da década. O alucinado praticamente marginal e beatnik Neal Cassidy, no qual foi inspirado o personagem Dean Moriarty, protagonista de On the road (Jack Kerouac), servia como motorista de um ônibus que excursionava pelo país, conduzindo bandas como o Jefferson Airplane, e ficou famoso por transportar quantidades industriais de ácido lisérgico (LSD), que eram gratuitamente distribuídas pelas cidades pelas quais a turnê passava.

No cenário político, além dos movimentos já citados, a Revolução Cubana, a luta pela independência na África e, já no final da década de 1960, a intensificação das mobilizações contra a Guerra do Vietnã (e, particularmente nos Estados Unidos, ao governo de Richard Nixon) serviam de combustível para uma permanente e crescente a insatisfação.

Um sentimento que, no verão de 1969, havia sido potencializado por uma série de eventos bastante recentes, como o assassinato de Martin Luther King, que ainda provocava furiosos protestos por toda parte, o verdadeiro campo de batalha em que havia se transformado a Convenção Nacional dos Democratas e a radicalização crescente dos movimentos sociais em geral.

Inevitavelmente, as duas pontas destes processos se influenciavam mutuamente. Assim, formas de protestos utilizadas pelos movimentos sociais ganhavam novas formas nos palcos da cultura. Foi assim que a prática do sit-in (“sentar e ocupar”), um tipo de manifestação que consistia em invadir locais (de prédios públicos a bases militares) e permanecer sentado até a retirada pela polícia, transformou-se nos human be-in (“ocupações humanas”): a invasão de locais públicos, preferencialmente parques, que eram transformados em palco para exibição gratuita e espontânea de shows e todo tipo de atividade artística.

Um dos locais mais conhecidos para esta prática foi o Central Park de Nova York, como foi mostrado por uma das peças mais famosas da época, o musical Hair, transformado num filme genial por Milos Forman, em 1979. Do outro lado dos EUA, em San Francisco, a “Meca” do movimento contracultural, gigantescos human be-in tomavam as ruas como Haigh-Ashbury, o centro nervoso do movimento hippie, e o parque da famosa ponte Golden Gate, promovendo agitados encontros entre figuraças como o poeta beatnik homossexual Allen Ginsberg (autor de poemas como “Uivo” e “Kaddish”) e o militante antiguerra Jerry Rubin, embalados por bandas como o Grateful Dead.

Entre o final dos anos 1950 e os anos 60, a simpatia e o ativismo de várias bandas musicais engrossaram este caldo, através de uma infinidade de festivais, dentro e fora dos EUA, como o Monterey Pop Festival (San Francisco, 1967) e o