Sérgio Perdigão, do Rio de Janeiro (RJ)

No Rio de Janeiro, bem como em outros estados, há em curso um política acelerada de reabertura de escolas que pode agravar ainda mais o quadro de descontrole da pandemia de Covid-19 e ampliar o genocídio dos trabalhadores e os pobres.

A doença avança, contagiando e matando. No final de agosto, tivemos, no Brasil, quase quatro milhões de contaminados e mais de 120 mil mortos (números oficiais). Nós não temos dúvidas, a pandemia está fora de controle, apesar de os governos dizerem o contrário. Uma quarentena plena ou isolamento horizontal, em que não apenas os grupos de risco ficam em isolamento social, mas sim toda a população, teria, no mínimo, salvado vidas de centenas de milhares. Da mesma forma, o investimento em pesquisas para buscar a vacina, quando o vírus foi descoberto, teria evitado essa catástrofe.

Tais medidas não foram tomadas porque não são “comercialmente viáveis”. A quarentena provoca a suspensão da produção e, por consequência, queda das vendas e dos lucros. Aprofunda assim a colossal crise econômica que a irracionalidade capitalista criou a partir de 2007/2008 e que irá permanecer após a pandemia. Outro aspecto é que a descoberta da vacina, antes da alta demanda trazida pela pandemia, não animou os tubarões da indústria farmacêutica mundial a investir com pesquisas científicas. Mais uma vez, a grande burguesia nos mostra que no capitalismo, o lucro de um punhado de bilionários, vale muito mais do que a vida de milhões de seres humanos. O vírus mata, mas quem lhe abre as portas para matar é esse sistema irracional e falido.

Até mesmo na Europa da Idade Média, período conhecido como “Idade das Trevas”, existe registros de combate eficiente à pandemia da peste bubônica (causada por uma bactéria transmitida por pulgas) no século XIV, graças à adoção da quarentena. Na verdade o próprio termo “quarentena” data desse período. Nada justifica que, quase 700 anos depois e no atual estágio científico que a humanidade alcançou, tenhamos quase 1 milhão de mortos no mundo.

Tal quadro, no entanto, não põe freio à política de reabertura da economia que todos os governos vêm implementando. Sabemos que, no Brasil, desde o início da pandemia, as fábricas nunca foram fechadas, colocando a classe operária face a face com a morte. E a reabertura das escolas segue sendo defendida e imposta por governadores, prefeitos e, carro chefe desse genocídio, pelo governo federal de Bolsonaro.

Reabrir as escolas é matar trabalhadores

No estado do Rio, o governo Witzel (PSC) – atualmente afastado por corrupção – promete para 14 de setembro a reabertura das escolas privadas e início de outubro das públicas. Isso acontece enquanto a comunidade científica recomenda, com veemência, a permanência das escolas fechadas. Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontam que a reabertura das escolas na cidade do Rio colocaria, em circulação, mais de 1 milhão de pessoas nas ruas. Afirmam, também, que crianças e adolescentes, apesar de não estarem nos chamados grupos de risco, são potenciais transmissores do vírus. Essa é a obsessão de todos os governos: matar trabalhadores para atender às exigências da grande burguesia, com a reabertura, para a retomada dos lucros. E isso independe da sigla partidária desses governos. Do PT ao Democratas, do PSDB ao PDT e PSB, do PMDB e PSC ao PCdoB, todos seguem em defesa do lucro. Para tanto, todos jogam a classe trabalhadora, em especial negros e negras, LGBTs e mulheres, para o desemprego, a miséria e a morte.

O grande empresariado, por meio de seus governos, quer jogar ao contágio e à morte os profissionais das escolas e creches, estudantes e a comunidade escolar em geral, com o retorno presencial. Não satisfeitos, reservam aos sobreviventes o desemprego ou a informalidade, com a aceleração da privatização da educação pública por meio do ensino remoto, associado à Reforma Administrativa, que promete por fim à estabilidade do emprego do servidor público. E como ingrediente final dessa receita criminosa, acabar, de vez, com o acesso dos mais pobres à educação. A escola pública, cuja qualidade e universalidade nunca foram garantidas aos filhos da classe trabalhadora, está hoje à beira da destruição total, à beira de sua extinção.

O mesmo governo Witzel – agora afastado por corrupção no desvio de verbas para o combate à pandemia – não está, nem de longe, preocupado com os estudantes e seu aprendizado durante a quarentena. Quer que os professores os avaliem e os reprovem seus alunos sem que tenham tido acesso às aulas, suspensas desde março. Mesmo sabendo que a grande maioria não tem internet ou equipamentos – notebooks, tablets etc. – pretende impor aos estudantes pobres, em sua maioria negros e negras, os quais precisam buscar trabalho por sua condição de explorados e oprimidos, a perda de um ano em suas vidas. Um governo que quer punir tais estudantes com a criminosa ampliação da exclusão, cometida pelo próprio governo. Impulsiona, assim, a evasão escolar para facilitar o fechamento de turmas, turnos e mesmo escolas inteiras, um elemento a mais para acelerar a privatização.

É necessário lutar e construir uma saída revolucionária

É fundamental, para a nossa classe, a unidade para lutar. Em primeiro lugar, por nossas vidas, mas também por nossos empregos e direitos conquistados por meio de uma longa história de lutas. Não à toa, os profissionais dos Correios, em greve nacional desde o dia 17 de agosto, e da educação da rede estadual de ensino e diversas redes municipais no estado do Rio de Janeiro, têm estado juntos em suas mobilizações. Lutam para se defenderem da pandemia e pela manutenção dos seus empregos, ameaçados pelos projetos privatistas em curso nos dois setores. Lutam, também, contra suas direções sindicais burocratizadas que tentam dificultar e frear, com todo tipo de manobra e autoritarismo, sua disposição de luta. Por isso, cresce o chamado à unidade com outras categorias, como petroleiros, bancários, metalúrgicos etc.

E, ainda mais fundamental, que nossa classe avance na compreensão de que, somente quando os trabalhadores estiverem, de fato, no controle da sociedade, quando passarem a governar, é que poderemos ter nossas necessidades garantidas em definitivo. Só assim garantiremos uma escola laica, estatal, gratuita e de qualidade para todos; só assim teremos a quarentena plena, com garantia de emprego e renda; só assim teremos a autonomia de que estudantes e profissionais precisam; o fim da “escola com mordaça” e de todo o controle ideológico por parte do Estado; os 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para o desenvolvimento da educação; uma escola pública controlada pelos trabalhadores da educação e a comunidade escolar; só assim teremos o fim do pagamento da dívida pública para então financiar programas educacionais e demais necessidades dos trabalhadores. Só por meio de uma revolução socialista é que a libertação ampla e definitiva da classe trabalhadora e da juventude poderá ser alcançada.